Contos de Grimm
Os Contos de Fadas dos Irmãos Grimm, originalmente compilados por Jacob e Wilhelm Grimm, são uma coleção de contos populares atemporais que encantam leitores há séculos. Estes contos são um verdadeiro tesouro de folclore, apresentando histórias de coragem, magia e moralidade que ressoam através das gerações. Desde clássicos como ”Cinderela”, ”Branca de Neve” e ”João e Maria”, até joias menos conhecidas como ”O Pescador e sua Mulher” e ”Rumpelstiltskin”, cada história oferece um vislumbre do rico tecido da tradição oral europeia. Os Contos de Fadas dos Grimm são caracterizados por seus personagens vívidos, lições morais e frequentemente tons sombrios, refletindo as duras realidades e os elementos fantásticos de seus contextos históricos. Seu apelo duradouro reside em sua capacidade de entreter, ensinar e inspirar maravilha, tornando-os um alicerce da literatura infantil e uma fonte de fascínio para estudiosos do folclore e da narrativa.
Episodes
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um franguinho e uma franguinha que resolveram fazer uma viagem juntos.O franguinho construiu um lindo carrinho com quatro rodas vermelhas e atrelaram quatro ratinhos.A franguinha subiu, sentou-se ao lado do franguinho e partiram. Logo mais adiante, encontraram uma gata, que lhes perguntou para onde iam. O franguinho respondeu:
Nós vamos para fora,Para a casa onde o Senhor Korbes mora.
- Levai-me convosco! - pediu a gata.- Com muito gosto, - respondeu o franguinho, - senta-te atrás, porque na frente poderás cair.
Muito cuidado é preciso tomarPara as rodinhas vermelhas não sujar.Rodinha chia.Ratinho assobia,Nós vamos para fora,Para a casa onde o Senhor Korbes mora.
Depois veio uma mó, depois um ovo, depois uma pata, depois um alfinete, e, por fim, uma agulha.Todos subiram no carro e viajaram juntos.Mas, quando chegaram à casa do Senhor Korbes, o Senhor Korbes não estava. Os ratinhos levaram o carro ao paiol, o franguinho e a franguinha voaram para um galho, a gata acomodou-se na lareira, a pata empoleirou- se no cabo de bombar água, o ovo se embrulhou na toalha de rosto, o alfinete se enfiou na almofada da poltrona, a agulha pulou para a cama, no meio do travesseiro, e a mó ajeitou-se em cima da porta.Pouco depois, voltou para casa o Senhor Korbes; foi à lareira para acender o fogo e a gata atirou-lhe cinzas no rosto; correu à cozinha para se lavar, a pata esguichou-lhe água em cima; quis enxugar-se na toalha, o ovo rolou-lhe pelo rosto, quebrou-se e grudou-lhe os olhos; quis descansar e foi sentar na poltrona; o alfinete espetou-o; louco de raiva, foi atirar-se na cama, mas, quando deitou a cabeça no travesseiro, a agulha picou-o de tal modo que ele soltou um grito de raiva e, furioso, quis fugir para fora. Mas, quando chegou à porta, a mó caiu em cima dele e matou-o.O Senhor Korbes devia ser um homem muito mau, não achas?Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um moleiro que tinha uma filha, muito bonita; quando ela atingiu a idade de casar, o pai decidiu arranjar-lhe um bom casamento, e pensava: "Se aparecer um pretendente em condição e a pedir em casamento, dou-lha."Não demorou muito, apareceu um pretendente, que demonstrava ser muito rico, e o moleiro, não achando inconveniente algum, prometeu dar-lhe a filha.A moça, porém, não o amava como deve ser amado um noivo, e não tinha nem um pouco de confiança nele. Cada vez que o via ou que pensava nele, sentia-se dominada por inexplicável repulsa. Um dia, disse o noivo:- És minha noiva e nunca me visitas! Não sei onde é a vossa casa, - respondeu a moça.- A minha casa, - disse ele, - fica bem no âmago da floresta.Ela pretextou que não conseguiria encontrar o caminho para ir lá, mas ele insistiu:Eu já convidei as outras visitas, para que possas te orientar, espalharei cinza no caminho da floresta.No domingo, quando a moça estava pronta para sair, sentiu grande medo, sem saber por que e, para marcar bem o caminho, encheu os bolsos com lentilhas e ervilhas. Logo na entrada da floresta, viu a cinza espalhada; foi seguindo por ela, mas a cada passo ia deixando cair, de cada lado do caminho, um grão de ervilha e de lentilha.Andou quase o dia inteiro, até que, por fim, chegou ao âmago da floresta; aí estava uma casa solitária, que nada lhe agradou, pois lhe parecia tenebrosa e inquietante.Entrou; não havia ninguém lá dentro e reinava o mais profundo silêncio. De repente, uma voz gritou:
Foge, foge. bela noivinha,de salteadores é esta casinha.
A moça ergueu os olhos e viu que a voz partia de um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede. Ele gritou novamente:
Foge, foge. bela noivinha,de salteadores é esta casinha.
A noiva, então foi de um quarto para outro, percorrendo toda a casa, sem encontrar alma viva. Finalmente, chegou à adega. Viu lá sentada uma velha decrépita, cuja cabeça tremia.- Podeis dizer-me se mora aqui meu noivo? - perguntou a moça.- Ah, pobre menina! - respondeu a velha, - onde vieste cair! Num covil de salteadores. Tu te julgas uma noiva em vésperas de casamento, mas tuas núpcias serão com a morte. Vê? Preparei no fogo um grande caldeirão com água; se cais nas mãos deles, serás picada impiedosamente em pedaços, depois cozida e devorada, pois eles são canibais. Se eu não me apiedar de ti, estarás perdida.A velha, então, ocultou-a atrás de um tonel, onde não seria vista.- Fica aí quietinha, como um ratinho, não te mexas e não dês sinal de vida; se não estás perdida! Esta noite, quando os salteadores estiverem dormindo, fugiremos as duas; há tanto tempo que venho aguardando a oportunidade!Mal acabara de falar, chegou o bando de salteadores; vinham arrastando junto uma outra jovem; bêbados como estavam, não se impressionavam com seus gritos e lamentos.Obrigaram-na a beber três copos cheios de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo; com isso, partiu-se-lhe o coração. Arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram.A pobre noiva, atrás do tonel, tremia como vara verde; via com os próprios olhos o destino que lhe reservavam os bandidos.Um deles, vendo brilhar um anel no dedinho da morta, tentou arrancá-lo; não o conseguindo tão facilmente, pegou no machado e decepou o dedo que, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, bem no colo da noiva. O bandido pegou num candeiro e pôs-se a procurá-lo, mas inutilmente. Então um outro disse-lhe:- Já procuraste atrás do tonel?Mas a velha gritou:- Venham comer, vós o procurareis amanhã; o dedo não foge, não!- A velha tem razão, - disseram eles.Deixaram de procurar e foram sentar-se à mesa paracomer; então a velha pingou um sonífero dentro do vinho; tendo bebido, todos adormeceram e começaram a roncar fortemente.Ouvindo-os roncar, a noiva saiu do esconderijo e teve que pular por sobre os corpos estendidos no chão, com um medo horrível de acordar algum. Mas, com o auxílio de Deus, conseguiu passar. A velha saiu com ela, abriu a porta e ambas fugiram o mais depressa possível do covil dos assassinos. O vento levara a cinza, mas os grãos de ervilha e de lentilha haviam brotado e, como o luar estava bem claro, elas seguiram o caminho indicado.Andaram a noite toda e só chegaram ao moinho pela manhã. A jovem contou ao pai tudo o que acontecera, sem omitir nada.Quando chegou o dia do casamento, o noivo apresentou-se. O moleiro, porém, convidara todos os parentes e amigos. Na mesa, durante o banquete, cada conviva teve de contar uma história. A noiva, sentada ao lado do noivo, nada dizia. Então, o noivo voltou-se para ela.- E tu, meu coração, nada tens a contar? Narra uma história qualquer!- Bem, contarei um sonho que tive, - disse ela."Ia andando sozinha por uma floresta e fui pararnuma casa, solitária. Dentro não havia ninguém, apenas um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede, o qual, vendo-me, gritou:
Foge, foge, bela noivinha,de salteadores é esta casinha.
Gritou isso duas vezes. - Meu amor, é apenas um sonho! - Percorri os quartos e todos estavam vazios e fúnebres! Finalmente, fui ter à adega e lá estava uma velha decrépita sentada, a cabeça a lhe tremer; perguntei-lhe:"Mora aqui o meu noivo?""Ah! pobre menina, - respondeu-me ela, - caiste num covil de assassinos! Teu noivo mora aqui, mas tu serás assassinada, cortada em pedaços, cozida e devorada. - Meu amor, é apenas um sonho! - A velha ocultou-me atrás de um tonel; mal me escondera, chegaram os bandidos, arrastando consigo uma moça; deram-lhe a beber três copos de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo, e, com isso, partiu-se-lhe o coração. - Meu amor, é apenas um sonho! - Depois arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram. - Meu amor, é apenas um sonho! - Um dos bandidos viu um anel no dedinho dela e, achando difícil arrancá-lo, decepou o dedo com o machado; mas o dedo, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, justamente no meu colo. Ei-lo aqui.Assim dizendo, tirou do bolso o dedinho e mostrou- o a todos os presentes.O bandido, que durante a narrativa ficara branco como um pano lavado, pulou da cadeira e tentou fugir; mas os convidados agarraram-no e o entregaram à justiça.Ele e todo o bando foram condenados e justiçados, pagando assim seus terríveis crimes.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
PRIMEIRO CONTO
Houve, uma vez, um sapateiro que, não por sua culpa, ficara tão pobre que só lhe restava couro para um único par de sapatos.A noite, cortou o couro para fazer os sapatos no dia seguinte; e, como tinha a consciência tranquila, deitou-se na cama, encomendou-se ao bom Deus e dormiu sossegada mente.Pela manhã, após recitar as orações, dirigiu-se á mesa para trabalhar; mas deparou com o# sapatos já prontos, file admirou-se e não sabia o que pensar a este respeito. Pegou nas mãos os sapatos para observá-los mais de perto e viu que estavam tão perfeitos que não havia um único ponto errado; eram, realmente, uma obra-prima.Logo depois, chegou um comprador; os sapatos lhe agradaram tanto, que pagou muito acima do preço estipulado. Com esse dinheiro, o sapateiro pôde comprar couro para dois pares de sapatos.A noite, cortou o couro para fazê-los, com a melhor disposição, no dia seguinte; mas não foi preciso. Quando se levantou pela manhã, os sapatos já estavam prontos, e não faltaram compradores que lhe deram tanto dinheiro, que lhe permitiu comprar couro para quatro pares de sapatos.De manhã cedo, ao levantar-se, encontrou prontos também esses; e assim prosseguiam as coisas: o que ele cortava à noite, encontrava feito de manhã; dessa maneira melhorou muito de situação e acabou ficando abastado.Ora, aconteceu que uma noite, pouco antes do Natal, o sapateiro preparou e deixou cortados os sapatos. Antes, porém, de ir para a cama, disse à mulher:- Que tal se ficássemos acordados esta noite, para ver quem é que nos auxilia tão generosamente?A mulher concordou alegremente; acendeu uma luz; depois esconderam-se atrás das roupas dependuradas nos centos da sala, e ficaram aguardando a lentamente.Ao dar meia-noite, chegaram dois graciosos gnomos completamente nuzinhos; sentaram-se à mesa de trabalho, pegaram o couro preparado, e com seus dedinhos ágeis puseram-se a furar, a coser e a bater, com tunta rapidez, que o sapateiro não conseguia despregar os olhos, de admiração.Não pararam enquanto não ficou tudo pronto; depois deixaram os sapatos acabadinhos sobre a mesa e, rápidos, safram saltitando pela porta fora.Na manhã seguinte, a mulher disse:- Os gnomos nos enriqueceram; devemos demonstrar-lhes nossa gratidão; eles andam por aí sem nada no corpo e devem ficar gelados de frio. Queres saber uma coisa? Vou coser para eles uma camisinha, um gibão, um colete e um par de calçõezinhos; farei, também, um par de meias para cada um; tu podes acrescentar os sapatinhos.O marido respondeu:- Alegro-me muito com tua ideia.E à noite, quando tudo ficou pronto, colocaram os presentes no lugar do trabalho cortado e depois esconderam-se para ver que cara fariam os gnomos.À meia-noite, chegaram eles; pulando, dirigiram-se à mesa para trabalhar mas, ao invés do couro, encontraram todas aquelas graciosas roupinhas. Primeiro admiraram-se muito, depois manifestaram grande alegria. Com uma rapidez incrível vestiram-se, alisaram as roupas no corpo e puseram-se a cantar:
Nós somos rapazes elegantes e faceiros,Para que sermos ainda sapateiros?
e divertiam-se dando cabriolas, dançando e pulando sobre os bancos e as cadeiras. Por fim, saíram, dançando, pela porta fora.Desde aí não mais voltaram, mas o sapateiro passou muito bem, enquanto viveu, e teve sempre muita sorte em tudo quanto empreendia.
SEGUNDO CONTO
Houve, uma vez, uma pobre criada, muito asseada e trabalhadeira. Todos os dias, varria a casa e jogava o lixo num monturo, em frente à porta.Certa manhã, estava para começar o trabalho quando encontrou uma carta; como não sabia ler, pós a vassoura num canto e levou a carta à sua patroa; era um convite da parte dos gnomos para que servisse de madrinha a um menino.A moça não sabia que fazer, mas como lhe haviam dito que essas coisas não podem ser negadas, ela consentiu. Então, vieram os gnomos buscá-la e a conduziram à caverna de uma montanha, onde moravam.Tudo lá era minúsculo, mas gracioso e luxuoso até mais não poder. A gestante estava deitada numa cama de ébano incrustada de pérolas; as cobertas eram bordadas a ouro; o berço era de marfim e a banheira de ouro.A moça serviu de madrinha, depois quis voltar para casa; mas os gnomos instaram com ela para que ficasse mais três dias com eles. Ela ficou e passou os dias muito alegre, divertindo-se bastante e os anões cumularam-na de gentilezas.Finalmente, decidiu voltar para casa; os anões, então, encheram-lhe os bolsos de ouro e a reconduziram para fora da montanha.Quando chegou a casa, quis retomar o trabalho, pegou na vassoura, que ainda estava no canto, e começou a varrer. Nisso apareceram de dentro da casa algumas pessoas estranhas e perguntaram-lhe quem era e o que desejava.Então ela compreendeu que ficara, não três dias como julgara, mas sim sete anos na caverna dos gnomos, e, durante esse tempo, seus antigos patrões haviam falecido.
TERCEIRO CONTO
Os gnomos roubaram uma criança de uma mãe e no berço desta puseram um monstro que tinha uma cabeça enorme e dois olhos bovinos, e que não parava nunca de comer e de mamar. Desesperada, a pobre mãe foi pedir conselho à vizinha. A vizinha aconselhou-a a levar o mostrengo à cozinha e aí sentá-lo sobre o fogão, acender o fogo e fazer ferver água em duas cascas de ovo: assim o faria rir e, quando ele risse, tudo se acabaria.A mulher fez o que lhe aconselhou a vizinha. Quando pôs no fogo as cascas de ovo cheias de água, disse o mostrengo:
- Bem velho eu sou.como o mundo, meu povo,mas nunca vicozinhar em casca de ôvo!
e caiu na gargalhada.Enquanto estava rindo, surgiu um bando de gnomos trazendo a criança legítima; puseram esta sobre o fogão e carregaram consigo o mostrengo.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
PRIMEIRO CONTO
Houve, uma vez, um velho Raposo que tinha nove caudas; suspeitando que sua mulher lhe era infiel, quis deixá-la cair em tentação.Deitou-se debaixo do banco, sem mexer nem um músculo, e fingiu-se morto.Dona Raposa foi para o quarto e fechou-se dentro; enquanto isso, sua criada, a Donzela Gata, cozinhava qualquer coisa, sentada no fogão. Assim que se espalhou a notícia de que o Senhor Raposo havia falecido, apresentaram-se logo os pretendentes. A criada ouviu chegar alguém e bater à porta; foi abrir. Era um jovem Raposo, que disse:
Que fazes. Donzela Gala,Dormes ou estás acordada?
Ela respondeu:
Não durmo, não; estou acordada.Quer saber em que estou ocupada?Esquento a cerveja, ponho manteiga, e viva!Está pronto o banquete. Quer ser meu conviva?
- Agradeço-lhe, Donzela! - disse o jovem Raposo. - Que está fazendo Dona Raposa?A criada respondeu:
Ela em seu quarto está,E não para de chorar.Seus olhinhos vermelhos estão,Porque morreu o velho Raposão!
- Diga-lhe, Donzela, que aqui está um jovem Raposo e deseja casar com ela.- Muito bem, jovem senhor.
Foi a gata, tripe-trape.Bateu à porta, tique-taque:Dona Raposa, a senhora está aí?- Sim, galinha, estou aqui!Lá fora está um pretendente.- Tem cara que se apresente?
- Tem nove lindas caudas, tal como o Senhor Raposão, a boa alma?- Ah! não! - respondeu a Gata - tem uma só.- Então, não o quero, não.Donzela Gata desceu e despediu o pretendente. Daí a pouco bateram novamente à porta e apresentou-se outro Raposo, que desejava casar com Dona Raposa; este tinha duas caudas, mas, apesar disso, não teve melhor sorte que o primeiro. Depois vieram outros, sempre com uma cauda a mais e todos foram repelidos. Até que, por fim, apareceu um que tinha nove caudas, como o velho Raposão. Quando o soube, a viúva disse alegremente à Gata:
Abram a porta e o portão,E varram fora o velho Raposão.
Mas, na hora em que devia realizar-se o casamento, moveu-se o velho Raposão em baixo do banco; então surrou, gostosamente, toda aquela corja e, juntamente com Dona Raposa, expulsou a todos de casa para fora.
SEGUNDO CONTO
Tendo morrido o velho Raposão, apresentou-se o Lobo como pretendente. Bateu à porta; a Gata, que servia em casa de Dona Raposa, foi abrir. O Lobo cumprimentou-a dizendo:
Bom dia. Senhora Gala de Voltalá,Por quê ainda sozinha está?E o que faz de bom por cá?
A Gata respondeu:
Uma sopa da pão e leite;Está pronto o banquete; talvez aceite?
- Muito obrigado, Dona Gata, - respondeu o Lobo. - Dona Raposa está em casa?A Gata disse:
Recolhida está em seu quarto,Com o rosto banhado em pranto.Chora, e com razão,A morte do Senhor Raposão!
O Lobo respondeu:
Quer ela outro marido ter?É só dar-se ao trabalho de descer!Correndo subiu a Gata,Na escada machucou a pata.Bateu na porta com os cinco anéisQue tinha na mão:Se Dona Raposa quiser,Um outro marido ter.Só tem que a escada descer!
Dona Raposa perguntou:- Tem ele calçõezinhos vermelhos e focinho pontudo?- Não - respondeu a Gata.- Então, não me serve.Repelido o Lobo, apresentaram-se um cão, um veado, um coelho, um urso, um leão e, um após outro, todos os demais bichos da floresta.Mas sempre faltava uma das belas qualidades que possuirá o Senhor Raposão; e sempre a Gata teve de despedir os pretendentes.Finalmente, chegou um jovem Raposo. Então, disse Dona Raposa:- Tem esse senhor calçõezinhos vermelhos e um focinho pontudo?- Tem sim - disse a Gata.- Então mande-o subir! - disse Dona Raposa; e ordenou a criada que preparasse a festa para o casamento:
Gata, varre depressa a sala.Joga o velho Raposão na vala,Ele trazia muitos ralos gordos,Mas, guloso, comia-os todos.Nada me dando, o maldoso.
Aí celebrou-se o casamento com o jovem Raposo; e cantaram e dançaram, e, se não cansaram, dançando ainda estão.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um camponês que, estando durante a noite sentado junto da lareira atiçando o fogo, disse à mulher que fiava aí ao lado:- Como é triste não ter filhos! Nossa casa é tão silenciosa, ao passo que nas outras há tanto barulho e alegria!- E' verdade, - respondeu a mulher, suspirando, - mesmo que tivéssemos um único filho, nem que fosse do tamanho deste polegar, eu já me sentiria feliz, e o amaríamos de todo o coração.Ora, aconteceu que a mulher começou a sentir-se indisposta e, passados sete meses, deu à luz um menino, perfeitamente formado, mas do tamanhinho de um polegar. Então, denominaram-no: Pequeno Polegar.Os pais alimentavam-no o melhor possível, mas o menino não cresceu; ficou do mesmo tamanhinho que tinha ao nascer. Contudo, ele tinha um olhar muito inteligente e, bem cedo, revelou-se criança vivaz e esperta, sabendo sair-se bem em todos os empreendimentos.Um dia, o camponês estava se aprontando para ir à floresta rachar lenha; então, disse de si para si:- Como gostaria que alguém me fosse buscar com o carro para trazer a lenha!- Ah, papai, - exclamou o Pequeno Polegar, - eu irei! Fica sossegado, levarei o carro e chegarei lá na hora certa.O homem pôs-se a rir e disse:- Como é isso possível? Tu és muito pequeno para segurar as rédeas e guiar um cavalo!- Não faz mal, papai. Se a mamãe o atrelar, eu me sento na orelha do cavalo e lhe digo como e aonde deve ir.- Está bem! - respondeu o camponês; - por uma vez, podemos experimentar.Quando estava na hora, a mãe atrelou o cavalo, sentou Polegar numa de suas orelhas e o petiz ia-lhe gritando como e aonde devia ir: "Ei, aí! Arre, irra!"O cavalo andava direito como se fosse guiado por um cocheiro e o carro seguia o caminho certo para a floresta. Eis que, justamente numa curva, quando o pequeno gritava ao cavalo para virar à esquerda, passaram por aí dois forasteiros.- Grande Deus! - disse um deles - que é isso? Aí vai um carro e o cocheiro que grita para o cavalo ó invisível!- Isso não é normal, - disse o outro, - vamos seguir o carro e ver aonde vai parar.O carro entrou direito na floresta e foi aonde estava a lenha rachada. Quando Polegar viu o pai, gritou-lhe:- Eis-me aqui, papai! Trouxe o carro, viste? Agora vem descer-me.O pai segurou o cavalo com a mão esquerda e, com a direita, tirou o filhinho de sua orelha; todo satisfeito, o menino foi sentar-se num galhinho.Quando os dois forasteiros viram o Pequeno Polegar, ficaram tão admirados que não sabiam o que dizer. Então, um deles chamou o outro de lado e disse:- Escuta, aquele pimpolho poderia fazer a nossa fortuna se o exibíssemos a pagamento numa grande cidade. Vamos comprá-lo!Aproximaram-se do camponês e disseram-lhe:- Vende-nos esse anãozinho, nós o trataremos bem e ele se sentirá feliz conosco.- Não! - respondeu o pai. - Ele é a raiz do meu coração, jamais o venderia, nem por todo o ouro do mundo.Mas o Pequeno Polegar, ouvindo esse negócio, trepou pelas dobras da roupa do pai, sentou-se no seu ombro e sussurrou-lhe ao ouvido:- Papai, podes vender-me; eu saberei voltar outravez.Assim, depois de muito discutir, o pai deu-o aos homens em troca de muitas moedas de ouro.- Onde queres que te ponha? - perguntou um dos homens.- Senta-me na aba do teu chapéu, aí eu poderei passear à vontade e admirar toda a região sem perigo de cair.Fizeram-lhe a vontade. Polegar despediu-se do pai, e, em seguida, foram andando. Andaram até ao escurecer; aí o pequeno disse:- Põe-me no chão um pouquinho; estou precisando.- Podes ficar aí mesmo, - disse o homem, - não tem importância. Também os passarinhos de vez em quando deixam cair alguma coisa na cabeça da gente!- Não, - insistiu o pequeno Polegar, - conheço bem as conveniências; desce-me depressa!O homem tirou o chapéu e pôs o pequeno num campo à margem da estrada. O pequeno, então, meteu-se por entre os torrões de terra, saltitando de cá para lá e, de repente, resvalou para dentro de um buraco de rato, o que justamente estava procurando.- Boa noite, senhores! podeis continuar vosso caminho sem mim! - gritou-lhes galhofeiro o petiz.Os dois homens correram e sondaram o buraco com um pau, mas foi trabalho perdido. Polegar ia resvalando sempre mais para o fundo e, como logo desceu a noite, escura como breu, os homens tiveram de partir, cheios de raiva e com a bolsa vazia. Quando Polegar se certificou de que os homens tinham ido embora, saiu da galeria subterrânea. "E' perigoso andar pelos campos no escuro! - disse. - A gente pode quebrar o pescoço ou uma perna!"Por sorte sua, encontrou um caramujo. "Graças a Deus! - disse ele; - aqui poderei passar a noite em segurança!" E meteu-se dentro dele.Pouco depois, já ia adormecendo, quando ouviu passar dois homens, um dos quais dizia:- Como faremos para tirar o ouro e a prata do rico Vigário?- Eu te poderei ensinar, - gritou o pequeno Polegar.- Que é isso? - disse assustado um dos ladrões. - Ouvi alguém falar!Pararam e puseram-se a escutar; então Polegar repetiu:- Levai-me convosco, eu vos ajudarei.- Mas, onde estás?- Procurai no chão e prestai atenção de onde sai a minha voz.Finalmente, depois de muito procurar, os ladrões encontram-no e o apanharam.- Tu, tiquinho de gente, como podes nos ajudar! - disseram eles.- Escutai, - disse o pequeno, - eu entrarei pela grade da janela no quarto do Senhor Vigário e vos entregarei o que quiserdes.- Está bem! - disseram os ladrões; - vamos ver para que serves.Quando chegaram à casa paroquial, Polegar insinuou-se pelas grades e entrou no quarto; uma vez dentro, pôs-se a gritar com todas as forças de seus pulmões:- Quereis tudo o que há aqui?Os ladrões alarmaram-se e disseram:- Fala baixo, não acordes ninguém!Mas Polegar fingiu não ter compreendido e gritou outra vez:- Que quereis? Quereis tudo o que há aqui?A cozinheira, que dormia no quarto ao lado, ouviu, sentou-se na cama e ficou escutando. Assustadíssimos, os ladrões fugiram; tendo corrido até bastante longe criaram coragem e pensaram: "Aquele tiquinho nos está arreliando!" Então voltaram e sussurraram-lhe através da grade:- Deixa de brincadeira e passa-nos qualquer coisa.Polegar então gritou mais alto ainda:- Dar-vos-ei tudo, mas estendei as mãos aqui para dentro.A empregada, que estava a escutar, ouviu-o distintamente; então pulou da cama e, tropeçando, foi até ao quarto. Os ladrões fugiram precipitadamente, correndo como se tivessem o diabo aos calcanhares. A mulher, não vendo nada, foi acender uma vela; quando voltou, Polegar, sem ser visto, escapuliu para o paiol de feno. Após ter vasculhado inutilmente todos os cantos, a empregada voltou novamente para a cama, julgando ter sonhado de olhos abertos.Polegar, trepando pelas hastes de feno, encontrara um excelente lugar para dormir. Tencionava descansar até dia feito e depois regressar à casa dos pais. Mas aguardavam-no outras experiências! Sim, o mundo está cheio de sofrimentos e atribulações!De madrugada, a criada levantou-se para dar comida aos animais. Dirigiu-se em primeiro lugar ao paiol, apanhou uma grande braçada de feno, justamente aquele onde se encontrava Polegar dormindo. Este dormia tão profundamente que não percebeu nada e foi acordar somente na boca da vaca, que o pegara junto com o feno.- Deus meu! - exclamou ele, - como fui cair dentro do pilão!Logo, porém, deu-se conta do lugar em que estava. E quanta atenção lhe foi necessária para desviar-se dos dentes a fim de não ser triturado! Mas sempre acabou escorregando para dentro do estômago da vaca.- Esqueceram de colocar janelas neste quartinho, - disse, - e não penetra sequer um raio de sol; além disso ninguém trás um lume!O apartamento não lhe agradava absolutamente; mas o pior era que, pela porta, continuava a entrar sempre mais feno, e o espaço restringia-se cada vez mais. Por fim, amedrontado, gritou com toda a força de que dispunha:- Não me tragam mais feno! Não me tragam mais feno!A criada estava justamente mungindo a vaca; ouviu a voz falar e não viu ninguém; reconheceu a mesma voz que ouvira durante a noite e assustou-se tanto que escorregou do banquinho e entornou todo o leite. Correu para casa gritando ao patrão:- Meu Deus, reverendo, a vaca falou!- Quê? Enlouqueceste? - disse o vigário.Contudo, foi pessoalmente ao estábulo ver o que sepassava. Mal havia posto o pé dentro, Polegar tornou a gritar:- Não me tragam mais feno! Não me tragam mais feno!O vigário, então, assustou-se também e julgou que havia entrado um espírito maligno na vaca. Mandou logo matá-la. Uma vez abatida, pegaram o estômago e atiraram-no na estrumeira.Com grande dificuldade, Polegar conseguiu abrir caminho e avançar; mas, justamente quando ia pondo a cabeça para fora, sobreveio-lhe outra desgraça. Um lobo esfaimado, que ia passando por aí, agarrou o estômago da vaca e engoliu-o todo de uma só vez.Polegar não desaminou. "Talvez o lobo me dê atenção" pensou, e gritou-lhe de dentro da barriga:- Meu caro lobo, eu sei onde poderás encontrar um petisco delicioso.- Onde? - perguntou o lobo.- Numa casa assim e assim; tens que trepar pelo cano e aí encontrarás bôlo, linguiça e toucinho à vontade; - e descreveu-lhe detalhadamente a casa do pai.O lobo não o fez repetir duas vezes; durante a noite trepou pelo cano, penetrou na despensa e lá comeu até fartar-se.Quando ficou satisfeito, quis sair, mas tinha engordado tanto que não conseguiu voltar pelo mesmo caminho. Era justamente com isso que Polegar contava; e desandou a fazer um barulhão na barriga do lobo, batendo os pés e vociferando o mais que podia.- Queres calar-te? - disse-lhe o lobo, - acabas por acordar todo mundo!- Como! - respondeu Polegar. - Tu te empanturraste à vontade e eu quero me divertir!E voltou a gritar com todas as forças. Por fim o pai e a mãe acordaram, correram à despensa e espiaram por uma fresta. Vendo que era o lobo, precipitaram-se, um com o machado e o outro com a foice.- Fica atrás de mim, - disse o marido, - se não o matar com a primeira machadada, tu corta-lhe a barriga com a foice.Ouvindo a voz do pai, Polegar gritou:- Querido papai, eu estou aqui, dentro da barriga do lobo!- Deus seja louvado! - gritaram os pais muito contentes. - O nosso querido filhinho voltou.Mandou a mulher guardar a foice para não machucar o pequeno Polegar; depois, erguendo o machado, desferiu um terrível golpe na cabeça do lobo, prostrando-o morto no chão. Em seguida, munidos de uma faca e de uma tesoura, cortaram-lhe a barriga e tiraram o pequeno para fora.- Ah, - disse o pai, - como estivemos aflitos por tua causa!- Sim, papai, andei muito por esse mundo; agora, graças a Deus, respiro novamente ar puro.- Mas onde estiveste?- Oh, estive num buraco de ratos, no estômago de uma vaca e na barriga de um lobo. Agora quero ficar para sempre com meus queridos pais!- E nós não te venderemos mais nunca, nem por todo o ouro do mundo, - disseram os pais, abraçando e beijando ternamente o filhinho querido.Depois deram-lhe de comer e beber e tiveram de mandar fazer novas roupas para ele, porque as que vestia se haviam estragado, completamente, durante a viagem.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um alfaiate que tinha três filhos e uma única cabra. Mas como a cabra os nutria a todos com seu leite, precisava de bom alimento e, diariamente, de bom pasto. Os filhos tinham o seu turno para levá-la a pastar. Certa vez, o filho mais velho levou-a ao cemitério, onde crescia a erva mais viçosa e deixou que pastasse e perambulasse à vontade. À tardinha, na hora de voltar para casa, perguntou:- Cabra, estás farta?A cabra respondeu:
- Faria estou,Nem folha ficou; mée, mée!
- Então vamos para casa, - disse o rapaz.Pegou na corda e conduziu a cabra e o estábulo e aí amarrou-a.- Então, - perguntou o velho alfaiate, - a cabra comeu suficientemente?- Ela está tão farta, - respondeu o filho, - que não lhe cabe mais nem uma folha.O pai, querendo certificar-se, pessoalmente, foi ao estábulo, afagou a querida bichinha e perguntou-lhe:- Cabra, estás suficientemente farta?Ela respondeu:
- Farta do que, posso estar,Se não fiz mais que pulare nem uma folhinhapude achar; mée, mée!
- Ah, o que tenho de ouvir! - exclamou o alfaiate, e correu para cima, dizendo ao rapaz:-Seu mentiroso! Disseste que a cabra estava farta; e, ao invés, deixaste a pobrezinha padecer de fome!Furibundo, agarrou o metro de pau pendurado na parede e enxotou o filho a pauladas.No dia seguinte tocou ao segundo filho levar a cabra a pastar. Ele escolheu um lugar junto de uma sebe, onde só crescia erva boa; a cabra comeu até não poder mais. À tardinha, na hora de voltar para casa, perguntou-lhe:- Cabra, estás farta?Ela respondeu:
- Farta estou,Nem folha ficou; mée, mée!
- Então, vamos para casa, - disse o rapaz.Levou-a para o estábulo e amarrou-a.- Bem, - perguntou o velho alfaiate, - a cabra comeu suficientemente?- Oh, - respondeu o filho - está tão farta que não lhe cabe mais nem uma folha.O alfaiate, não confiando no que dizia o filho, desceu ao estábulo e, depois de afagar a bichinha, perguntou-lhe:- Cabra, estás suficientemente farta?A cabra respondeu:
- Farta do que, posso estar,Se não fiz mais que pulare nem uma folhinhapude achar; mée, mée!
- Tratante, desalmado! - gritou o alfaiate, - deixar um animalzinho tão bom padecer de fome!Correu para cima, espancou o filho com o metro de pau e expulsou-o de casa.Depois, chegou a vez do terceiro filho; este, querendo sobressair-se, procurou as moitas mais viçosas e deixou a cabra pastar à vontade. À tardinha, na hora de voltar, perguntou-lhe:- Cabra, estás farta?Ela respondeu:
- Faria estou,Nem folha ficou; mée, mée!
- Então, vamos para casa, - disso o rapaz.Conduziu-a ao estábulo e amarrou-a. Então, - perguntou o velho alfaiate, - a cabra comeu suficientemente.- Oh, - respondeu o filho, - está tão farta que não lhe cabe mais nem uma folha.Não confiando no filho, ò alfaiate foi ao estábulo e perguntou:- Cabra, estás suficientemente farta?A bichinha malvada respondeu:
- Farta do que, posso estar,Se não fiz mais do que pulare nem uma folhinhapude achar; mée, mée!
- Oh! corja de mentirosos - berrou o alfaiate, - um mais desalmado que o outro! Não me enganareis mais!Fora de si pela raiva, correu para cima e com o metro de pau surrou tão violentamente o filho que este esguichou para fora da casa.O velho ficou sozinho com a cabra e, na manhã seguinte, teve de descer ao estábulo; depois de afagar a cabra, disse-lhe:- Vem, querida bichinha, eu mesmo te levarei a pastar.Pegou na corda e levou a cabra ao pé de umas sebes verdejantes, por entre o trevo e outras ervas tão apreciadas pelas cabras."Uma vez na vida, podes comer à fartura" - disse- lhe; e deixou-a pastar livremente até à tardinha. Na hora de voltar, perguntou-lhe:- Cabra, estás suficientemente farta?Ela respondeu:
- Farta estou.Nem folha ficou; mée, mée!
- Então vamos para casa, - disse o alfaiate.Conduziu-a ao estábulo e amarrou-a. Antes de sair, afagou-a carinhosamente e perguntou:- Então, desta vez te fartaste a valer hein?A cabra, porém, não o tratou melhor que aos outros:
- Farta do que, posso estar.Se não fiz mais que pular,e nem uma folhinhapude achar? mée, mée!
Ao ouvir isso, o alfaiate ficou atônito e compreendeu que enxotara os filhos injustamente.Louco de raiva, exclamou:- Espera, ingrata criatura! Expulsar-te daqui é muito pouco; vou-te arranjar de maneira que nunca mais te atreverás a comparecer perante alfaiates honestos.Como um relâmpago, correu para cima, pegou uma navalha, ensaboou bem a cabeça da cabra e rapou-a, deixando-a lisa como uma bola de bilhar. E, como o metro de pau seria muito honroso, apanhou o chicote e deu-lhe tantas chicotadas que ela fugiu a saltos gigantescos.Quando se viu tão sozinho em casa, o alfaiate caiu em profunda tristeza e ansiava por recuperar os filhos, mas ninguém sabia para onde tinham ido.Entretanto, o mais velho empregou-se na oficina de um marceneiro. Aplicado e trabalhador, aprendeu o oficio, que passou a executar com perfeição. Mas, terminado o aprendizado, quis partir. Então o mestre presenteou-o com uma mesinha de madeira comum, cuja aparência não indicava peculiaridade especial alguma. Contudo, possuia a mesa um grande predicado; colocando-a num lugar qualquer e dizendo: "mesinha, põe-te," ela cobria-se com uma bela toalha, com pratos e talheres e toda espécie de requintadas iguarias até vergar ao peso delas; além disso, num grande copo, cintilava o melhor vinho, pondo o coração em alvoroço. O jovem aprendiz pensou: "Com isso tens tudo para o resto de teus dias."Agradeceu muito ao mestre e, alegremente, pôs-se a correr mundo, sem preocupar-se se as hospedarias eram boas ou ruins, se nelas encontrava ou não o que comer. Quando lhe dava na cabeça, nem sequer parava nas hospedarias, acomodava-se simplesmente num campo, numa floresta ou num prado, segundo a própria fantasia, e aí depunha a mesinha e dizia-lhe:- Mesinha, põe-te!Imediatamente surgia o que lhe apetecesse.Por fim, teve a ideia de voltar para a casa do pai. A essa altura, certamente, já lhe tinha passado a raiva, pensava, e vendo-o com a mesinha mágica o receberia de braços abertos. Aconteceu, porém, que, à noite, no caminho de volta, deparou com uma hospedaria cheia de gente alegre; convidaram-no a entrar, a sentar-se e comer em boa companhia; pois dificilmente encontraria o que comer fora daí.- Não, - disso o marceneiro, - não quero privar- vos desses pobres bocados; ao contrário, sou eu quem vos convida, é preferível que sejais meus hóspedes.Caíram todos na gargalhada, julgando que o moço estivesse pilheriando. Mas, colocando a mesa no centro da sala, o marceneiro disse:- Mesinha, põe-te!No mesmo instante, a mesinha ficou coberta de iguarias tão finas, como jamais o hospedeiro poderia oferecer e cujo aroma afagava, agradavelmente, as narinas dos hóspedes.- Comei, caros amigos! - disse o marceneiro.Os hóspedes, ver do que não era brincadeira, não o fizeram repetir duas vezes o convite; aproximaram-se da mesa, pegaram as facas e não fizeram cerimônias. O mais extraordinário era que cada prato, cada terrina, assim que esvaziava, era logo substituída por outra bem cheia. O hospedeiro quedava-se num canto a olhar para aquilo sem saber o que dizer. Mas, no seu íntimo, pensou: "De um cozinheiro assim é que precisas para a tua hospedaria!"O marceneiro e os hóspedes regalaram-se e divertiram-se até tarde da noite; finalmente, foram dormir e o moço foi para o quarto, encostou a mesinha mágica num canto e adormeceu. O hospedeiro, porém, continuou matutando. Lembrou-se que tinha no sótão uma mesinha de aspecto idêntico ao dessa; foi, sorrateiramente, buscá-la e substituiu a outra por essa.Na manhã seguinte, o marceneiro pagou a conta, pôs a mesinha nas costas sem a menor suspeita de que era falsa e prosseguiu o caminho para casa. Ao meio-dia chegou e foi recebido pelo pai com grande alegria.- Então, querido filho, o que aprendeste? - perguntou.- Meu pai, aprendi o ofício de marceneiro.- Um bom ofício, - disse o velho, - mas que trouxeste da tua viagem?- O melhor que eu trouxe, meu pai, foi essa mesinha.O alfaiate examinou-a, detidamente, de um lado e de outro, depois disse:- Não fizeste nenhuma obra-prima! Esta não passa de uma mesinha velha e ordinária.- Mas é uma mesinha mágica, - respondeu o filho. - Quando a coloco no chão e lhe digo: "mesinha põe-te!," logo ela se cobre das mais finas iguarias e de um vinho que alegra o coração. Convida todos os parentes e amigos para que uma vez ao menos na vida se deliciem. A mesinha os saciará a todos.Reunida toda a sociedade, o marceneiro colocou a mesinha no centro da sala e disse:- Mesinha, põe-te!Mas a mesinha não se mexeu, permanecendo tão vazia como outra qualquer que não entendesse a linguagem. Então, o pobre aprendiz percebeu que lhe haviam trocado a mesa e ficou tremendamente envergonhado por ter de passar por mentiroso. Os parentes troçaram dele e voltaram às suas respectivas casas sem comer e sem beber. O pai voltou a pegar no pano e continuou a trabalhar de alfaiate, enquanto o filho foi trabalhar numa oficina.O segundo filho tinha aprendido o ofício de moleiro. Terminado o aprendizado, disse-lhe o patrão:Como te portaste bem e foste um excelente aprendiz, dou-te de presente um burro especial. Ele não puxa carroças nem carrega sacos.- Então, para que serve? - perguntou o aprendiz.- Expele ouro pela frente e por trás - respondeu o moleiro. - Se o pões sobre um pano e lhe dizes: "Briclebrit!, este bom animal põe-se a expelir moedas de ouro, pela frente e por trás.Agradeceu muito o patrão, despediu-se e foi correr mundo. Sempre que necessitava dinheiro, bastava dizer ao burro: "Briclebrit!" e choviam moedas de ouro; seu único trabalho era recolhê-las do chão. Onde quer que fosse exigia sempre do melhor e quanto mais caro, mais lhe agradava, pois tinha sempre a bolsa cheia.Depois de haver perambulado um pouco pelo mundo, disse de si para si: "Deverias voltar para junto de teu pai; vendo-te com, o burro de ouro, esquecerá a zanga e te acolherá bem."Ora, aconteceu que ele, também, foi ter à mesma hospedaria onde haviam substituído a mesinha do irmão. Chegou com o burro e o hospedeiro prontificou-se a levá-lo para a estrebaria, mas o jovem disse:- Não se preocupe, eu mesmo levarei meu Rabi- cão e tratarei dele, pois quero saber onde estará.Tal atitude deixou o hospedeiro intrigado. "Um fulano -pensava ele - que precisa cuidar pessoalmente de seu animal, certamente não tem muito o que gastar."Mas, quando o forasteiro tirou do bolso algumas peças de ouro, pedindo-lhe que lhe servisse o que de melhor tinha em casa, arregalou os olhos e correu providenciar o melhor que pôde encontrar. Após a refeição, o jovem perguntou-lhe quando devia; o hospedeiro, não querendo perder tão bela ocasião, disse que lhe devia ainda duas moedas de ouro. O rapaz meteu a mão no bolso, mas o ouro tinha acabado.- Esperai um instante, senhor hospedeiro, - disse,- vou buscar o dinheiro.Pegou na toalha e saiu. O hospedeiro, que não podia compreender, cheio de curiosidade, seguiu-o ocultamente. Viu o rapaz fechar a porta da estrebaria com o cadeado; então, espiou por uma fresta e viu o forasteiro estender a toalha debaixo do burro e dizer: "Briclebrit" e imediatamente o animal se pôs a expelir moedas de ouro pela frente e por trás.- Apre! - disse o hospedeiro, - como se cunham depressa essas moedas! Uma bolsa assim não é nada de se desprezar!O rapaz pagou a conta e foi dormir. Durante a noite, porém, o hospedeiro esgueirou-se ocultamente para a estrebaria, tirou o moedeiro de lá e em seu lugar amarrou outro burro parecido. Na manhã seguinte, muito cedo, o rapaz foi-se com o animal, certo de que era o burro de ouro. Ao meio-dia, chegou à casa do pai que, feliz por tornar a vê-lo, o acolheu com grande alegria.- Que sabes fazer, meu filho? - perguntou-lhe.- Sou moleiro, meu pai.- Que trouxeste de tua viagem?- Trouxe apenas um burro.- Burros temos de sobra por aqui, - disse o pai, - eu teria preferido uma boa cabra.- Sim, - respondeu o filho, - mas este não é um burro comum; é um burro de ouro. Se lhe digo: "Briclebrit'', o bom animal enche uma toalha de moedas de ouro. Convidai os parentes, que quero enriquecê-los todos.- Muito bem! - disse o alfaiate, - assim não precisarei mais cansar-me com a costura.E foi convidar os parentes. Quando todos se achavam reunidos, o moleiro estendeu uma toalha no chão e trouxe o burro para a sala.- Agora prestai atenção, - disse e, dirigindo-se ao burro, gritou: - Briclebrit!Mas nenhuma moeda de ouro caiu, ficando claro que o burro não tinha o menor conhecimento dessa arte, pois nem todos os burros são dotados de tal capacidade. Então o moleiro ficou com cara de outro mundo e percebeu que fora enganado. Pediu desculpas aos parentes, os quais voltaram para suas respectivas casas tão pobres como haviam chegado.Não tinha remédio! O pobre alfaiate teve de pegar novamente na agulha, enquanto que o filho se empregou num moinho.O terceiro irmão, saindo de casa, fora como aprendiz de torneiro. Sendo este um ofício muito delicado, teve que praticar mais tempo que os irmãos. Estes, em suas cartas, lhe haviam narrado todas as desventuras, dizendo como, justamente na última noite, o hospedeiro lhes surrupiara seus maravilhosos objetos mágicos.Uma vez terminado o aprendizado, o rapaz dispôs-se a partir. Então, o mestre, como prêmio pela sua conduta exemplar, presenteou-o com um saco, dizendo:- Aí dentro tens um bordão.- O saco poderei levá-lo nas costas e poderá ser- vir-me; mas que farei com o bordão? É um peso a mais para carregar!- Eu to direi; - respondeu o mestre; - quando alguém te fizer algum mal, ou tentar agredir-te, basta dizeres: ''Bordão, sai do saco!" Ele saltará do saco e malhará tão alegremente as costas do indivíduo, que o deixará oito dias de cama; e parará de malhar só quando lhe disseres: "Bordão, entra no saco!"O aprendiz agradeceu muito, despediu-se, pôs o saco nas costas e lá se foi. Se alguém tentava agredi-lo dizia depressa: "Bordão, sai do saco!" E o bordão imediatamente saltava, despencando uma chuva de bordoadas nas costas do agressor, não parando enquanto encontrasse roupa sobre a pele e martelando tão ligeiramente que era impossível aparar-lhe os golpes.Ao anoitecer, o jovem torneiro foi dar à hospedaria onde foram ludibriados os irmãos. Na mesa, colocou o saco bem pertinho dele e começou a narrar todas as maravilhas que tinha visto percorrendo o mundo.- De fato, - dizia, - pode-se até encontrar uma mesa mágica, um burro de ouro e outras maravilhas semelhantes; coisas excelentes, que não desprezo. Mas tudo isso nada significa em comparação ao tesouro que adquiri e que trago neste saco.O hospedeiro aguçou os ouvidos: "Que poderá ser? - pensou, - o saco "certamente deve estar cheio de pedras preciosas; seria muito justo que viesse ter às minhas mãos, pois não há dois sem três."Chegando a hora de dormir, o forasteiro deitou-se no banco, colocando o saco sob a cabeça para servir de travesseiro. Quando o hospedeiro julgou que estivesse mergulhado no mais profundo sono, aproximou-se e, devagarinho, com infinito cuidado, deu um puxão no saco procurando substituí-lo por outro. Mas o torneiro, que já contava com isso, justamente quando o hospedeiro deu um puxão mais forte, gritou:- Bordão, sai do saco!Num relâmpago o bordão saltou sobre o hospedeiro, sacudindo-lhe das costas a poeira e alisando-as com esmerado empenho. O hospedeiro gritava de causar dó mas, quanto mais gritava, mais se divertia o bordão a bater o compasso nas suas costas, até que o deixou caido exausto no chão. O torneiro, então, disse:- Se não me devolves a mesinha mágica e o burro de ouro, garanto-te que a dança recomeça.- Ah, não, não, gemeu quase sem fôlego o hospedeiro, - devolverei tudo com muito gosto, contanto que mandes esse espantalho indesejável voltar para o saco.- Com justiça, terei piedade, - respondeu o moço, - mas livra-te de me lograr!Em seguida gritou: "Bordão entra no saco!" - e deixou-o aí á descansar.Na manhã seguinte, o torneiro encaminhou-se para a casa do pai, levando também a mesinha mágica e o burro de ouro. O alfaiate, feliz por tomar a vê-lo, perguntou-lhe o que havia aprendido longe de casa.- Querido pai, aprendi o ofício de torneiro.- Um ofício muito artístico, - disse o pai, - e que trouxeste de tua viagem?- Trouxe um objeto preciosíssimo, querido pai, um bordão no saco.- Um bordão no saco! E valeu a pena? Acho que um bordão poderias cortar de qualquer árvore por ai!- Sim, - respondeu o rapaz, - mas não um como esse; quando lhe digo: "Bordão, sai do saco!" salta logo do saco e regala com uma bela sarabanda qualquer mal intencionado, e não o larga enquanto não o vir estendido no chão pedindo mercê. Olhai, com este bordão consegui reaver a mesinha mágica e o burro de ouro, que aquele ladrão do hospedeiro tinha furtado de meus irmãos. Agora mandai chamá-los e convidai todos os parentes. Quero proporcionar-lhes um lauto banquete e encher-lhes os bolsos de moedas de ouro.O velho não confiava muito no que ouvia, contudo, reuniu os parentes. O torneiro, então, estendeu uma toalha na sala, trouxe para dentro o burro de ouro e disse ao irmão:- Fala-lhe tu, meu irmão.O moleiro disse: "Briclebrit!" E, no mesmo instante, começaram a saltar sobre o pano as moedas de ouro, pipocando como forte chuva; e o burro não cessou de expelir moedas enquanto todos os parentes não estiveram carregados até não poder mais. (Vejo que também tu gostarias de estar lá nessa hora!) Em seguida o torneiro trouxe a mesinha para o centro da sala e disse:- Fala-lhe tu, querido irmão.O marceneiro, então, disse: "mesinha, põe-te" e imediatamente ela se cobriu de numerosos pratos de deliciosas iguarias. Tiveram um banquete como o alfaiate jamais vira em toda a vida. A família ficou reunida até tarde da noite, todos alegres e felizes.O alfaiate trancou num armário a agulha, a linha, o metro de pau, o ferro de passar e, daí por diante, levou uma vida de príncipe em companhia dos filhos.E a cabra? Onde foi parar a culpada de ter o alfaiate enxotado os três filhos? Vou contar-te.Envergonhada de ter a cabeça rapada, correu a esconder-se na toca de uma raposa. Quando a raposa voltou para a toca, viu dois grandes olhos faiscando no escuro e deitou a fugir louca de terror. No caminho, encontrou o urso que, vendo-a tão transtornada, perguntou:- Que te aconteceu, irmã Raposa? Por quê estás com essa cara apavorada?- Ah, - respondeu-lhe a Vermelha, - na minha toca há um monstro, que arregalou para mim dois olhos flamejantes.- Vamos deslindar esse mistério, - disse o urso.Foi com a raposa até a toca; espiou dentro, mas, vendo aqueles olhos de fogo, não quis conversa com o monstro e fugiu com quantas pernas tinha. A abelha, que ia passando por lá, vendo-o com uma cara de quem não está muito bom da bola, perguntou-lhe:- Que cara de poucos amigos tens hoje, amigo urso! Que é feito da tua alegria?- Falas bem, amiga, porque não viste nada, - respondeu o urso; - lá na toca da Vermelha há um monstro com dois olhos de fogo, enormes, e não conseguimos enxotá-lo de lá.- Causais-me pena, urso; - disse a abelha. - Eu não passo de uma pobre e frágil criatura que nem sequer me olhais ao passar por mim na rua, mas eu acho que poderei prestar-vos auxílio.Voou para dentro da toca da raposa, pousou na cabeça pelada da cabra e deu-lhe tão tremenda ferretoada que ela, dando um pulo, desabalou pelo mundo a fora gritando: Mée, mée, mée...Corria como uma louca e até hoje ninguém sabe onde ela foi parar.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Um belo dia, o bom Deus quis dar um passeio pelo jardim celestial; levou consigo todos os apóstolos e santos, não ficando no Paraíso senão São Pedro. O Senhor recomendou-lhe que não deixasse entrar ninguém durante sua ausência e São Pedro ficou de guarda junto à porta do céu. Não demorou muito, alguém bateu. São Pedro perguntou quem era e o que desejava.- Sou um pobre e honesto alfaiate, - respondeu uma vozinha humilde - que pede para entrar.- Sim, honesto! - disse São Pedro; - como um ladrão candidato à forca! Tinhas os dedos compridos quando surrupiavas o pano aos fregueses! No Céu, não podes entrar; o Senhor recomendou-me que não deixasse entrar ninguém durante a sua ausência.- Tende compaixão de mim! - choramingou o alfaiate, - pequenos retalhos que caem da mesa não são roubados, não merecem sequer que se fale neles. Olhai, estou mancando por causa das bolhas que fiz nos pés, de tanto andar; não posso absolutamente voltar daqui. Deixai-me entrar, prometo fazer todo o serviço pesado; carregarei as crianças, lavarei as fraldas, limparei e esfregarei os bancos onde brincam e remendarei os rasgões de suas roupas!São Pedro acabou por compadecer-se e abriu um pouquinho a porta do Céu, um tantinho apenas que deu para o alfaiate coxo insinuar-se. Recomendou-lhe que ficasse quietinho num canto atrás da porta para que, quando o Senhor voltasse, não o descobrisse, senão se zangaria.O alfaiate obedeceu. Sentou-se no canto atrás da porta, mas, assim que São Pedro deu as costas, levantou-se e pôs-se a esquadrinhar curiosamente todos os recantos do Paraíso. Por fim, foi ter a um lugar onde havia muitas cadeiras esplêndidas e, no centro, uma poltrona de ouro cravejada de pedras preciosas; era muito mais alta que as cadeiras circunstantes e à sua frente havia um escabelo também de ouro.Era a poltrona onde sentava o Senhor quando estava em casa e da qual podia ver tudo o que se passava na terra. O alfaiate quedou-se a contemplá-la por algum tempo, pois ela lhe agradava mais que todo o resto. Até que, não conseguindo refrear a temerária curiosidade, foi sentar-se nela. Então viu tudo o que acontecia na terra e, particularmente, notou uma velha feia lavando roupa num regato, que subtraiu e pôs de lado dois véus. Vendo isso, o alfaiate foi tomado de tal indignação que agarrou o escabelo de ouro e, através do Céu, lançou-o violentamente na velha ladra, lá na terra. Como, porém não podia mais ir buscar o escabelo tratou de escapulir o mais depressa possível da poltrona e correr para o seu lugar atrás da porta tudo como se nada houvesse acontecido.Quando o Senhor e Mestre regressou com o séquito celeste para dizer a verdade não percebeu o alfaiate atrás da porta; mas ao sentar na poltrona deu pela falta do escabelo; chamou São Pedro e perguntou-lhe onde fora parar. São Pedro não o sabia. Então perguntou-lhe se havia deixado entrar alguém.- Não sei de ninguém que aqui entrasse - respondeu São Pedro - a não ser um pobre alfaiate coxo que ainda está esperando atrás da porta.O Senhor mandou chamar o alfaiate e perguntou-lhe se tinha-se apoderado do escabelo e onde o escondera.- Senhor, - respondeu prontamente o alfaiate, - num ímpeto de raiva atirei-o na terra, atrás de uma velha que vi, daqui, roubar dois véus dentre a roupa que estava lavando.-Seu patife! - disse-lhe o Senhor; - se eu julgasse como tu, que pensas que teria acontecido desde tanto tempo? Eu não teria, desde séculos, cadeiras, poltronas, nem tenazes, porque tudo teria jogado sobre os pecadores. Por isso não podes ficar no Céu, apenas te sera permitido ficar fora do portão. Vês que belo resultado? Fica sabendo que aqui ninguém pode castigar, somente eu, o Senhor!São Pedro teve de reconduzir o alfaiate para fora do Paraíso. O alfaiate, que tinha os pés cobertos de bolhas e os sapatos rotos, pegou um cajado e foi para Es-peraumpouco, onde estão os soldados devotos a se divertirem.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um homem que tinha uma filha que se chamava Elsie, a sensata. E quando ela já tinha crescido o pai dela falou, "Nós vamos casá-la." - "Sim," disse a mãe, "se encontrarmos alguém que queira desposá-la." Finalmente, apareceu um homem que morava muito longe e começou a cortejá-la, ele se chamava Hans; mas sua única exigência era que a sensata Elsie fosse realmente inteligente. "Oh," disse o pai, "ela é muito perspicaz;" e a mãe dizia, "Oh, ela consegue ver o vento caminhando pelas ruas, e ouvir as moscas tossindo." - "Bem," disse Hans, "se ela não for verdadeiramente inteligente, não irei desposá-la."
Quando eles já estavam sentados para jantar e haviam comido, a mãe falou, "Elsie, vá até o depósito e traga um pouco de cerveja." Então, Elsie, a sensata, pegou o jarro que estava na parede, foi até onde guardavam a cerveja, e ia batendo levemente na tampa a medida que caminhava para que o tempo passasse rápido. Tendo chegado lá embaixo ela pegou uma cadeira, e a colocou diante do barril para que ela não precisasse inclinar-se, para não machucar a costa ou para que não se machucasse inadvertidamente. Então, ela colocou o vasilhame na frente, e abriu a torneira, e quando a cerveja estava caindo ela olhava para a parede, para que seus olhos não dormissem, e depois de muito espiar para lá e para cá, ela viu uma picareta bem em cima dela, e que os pedreiros haviam esquecido lá acidentalmente.
Então, Elsie, a sensata, começou a chorar e disse, "Se eu me casar com o Hans, e nós tivermos um filho, e ele ficar grande, e nós o mandarmos até o depósito aqui para buscar cerveja, então, a picareta poderá cair na cabeça dele e matá-lo." Então, ela chorou sentada e gritava com todas as forças do seus pulmões, sobre o infortúnio que poderia acontecer com ela. A família, na sala de jantar, ficou esperando a bebida, mas Elsie, a sensata, não retornava. Então, a mulher disse para a criada, "Desça até o depósito e procure onde está a Elsie." A criada obedeceu e a encontrou sentada diante do barril, gritando em voz alta.
"Elsie, porque estais chorando?" perguntou a criada. "Ah," respondeu ela, "será que não tenho motivos para chorar? Se eu me casar com o Hans, e nós tivermos um filho, quando ele crescer, e tiver de buscar cerveja aqui no depósito, a picareta poderá cair na cabeça dele, e matá-lo." Então, a criada respondeu, "Mas que garota sensata, nós temos aqui!" e se sentou ao lado dela e começou a chorar em voz alta também, lamentando tão grande infortúnio. Depois de algum tempo, como a criada não voltava, e os comensais estavam com sede de beber cerveja, o homem disse para o garoto, "Vá até o depósito lá embaixo e veja onde Elsie e a criada estão."
O garoto foi até lá, e encontrou Elsie, a sensata, e a criada, ambas chorando uma ao lado da outra. Então, ele perguntou, "Porque vocês estão chorando?" - "Ah," disse Elsie, "será que eu não tenho motivos para chorar? Se eu me casar com o Hans, e nós tivermos um filho, e ele crescer, e ele for buscar cerveja aqui no depósito, a picareta irá cair na cabeça dele e poderá matá-lo." Então, o garoto respondeu, "Que garota sensata, nós temos aqui!" e se sentou ao lado dela, e também começou a berrar em voz alta. Na casa, todos esperavam pelo garoto, mas como ele também não retornava, o homem disse para a mulher, "Desça até o depósito e veja onde a Elsie está!"
A mulher desceu, e encontrou os três chorando e lamentando, e perguntou porque choravam; então, Elsie lhe falou também que o seu futuro filho seria morto pela picareta, quando ele crescesse e tivesse de buscar cerveja, caso a picareta caísse. Então, sua mãe também falou, "Que garota sensata, nós temos aqui!" então, a mãe se sentou e chorou com eles. O homem ficou esperando um pouco, mas como a sua esposa não voltasse e a sua sede aumentava cada vez mais, ele falou, "Preciso ir até o depósito eu mesmo e ver onde Elsie está."
Mas quando ele chegou lá, estavam todos sentados chorando, e quando ele soube do motivo, e que o filho de Elsie era a razão de tudo, e que se Elsie trouxesse um filho ao mundo algum dia, e que ele poderia ser morto pela picareta, caso o garoto estivesse sentado debaixo dela, ao buscar cerveja, exatamente no momento que ela caísse, ele gritou, "Oh, que garota inteligente é a Elsie!" e se sentou, e ficou chorando com eles. O noivo, durante algum tempo, ficou sozinho na casa; então, como ninguém voltasse ele pensou, "Eles devem estar esperando por mim lá embaixo; eu devo ir até lá e ver o que está acontecendo."
Quando ele desceu, os cinco estavam chorando sentados e se lamentando desesperadamente, cada um tentando chorar mais do que o outro. "Que desgraça aconteceu aqui?" perguntou ele. "Ah, meu querido Hans," disse Elsie, "se nós nos casarmos e tivermos um filho, e ele for grande, e nós talvez o mandarmos aqui para buscar um pouco de bebida, então, a picareta que foi deixada pendurada na parede poderia esfacelar a cabeça dele caso ela caísse, então, não temos motivo para chorar?" - "Venham," disse Hans, "maior entendimento que este não é necessário para a minha casa, porque você é Elsie, uma mulher muito sensata, eu me casarei contigo," e tomando a sua mão, subiu de volta para casa, e se casou com ela.
Depois que Hans havia se casado com ela durante algum tempo, ele disse, "Esposa, vou sair para trabalhar e ganhar um pouco de dinheiro para nós; vá até o campo colher algum trigo para que tenhamos um pouco de pão." - "Sim, querido Hans, vou já fazer isso," Depois que Hans tinha saído, ela mesma preparou um caldo bem gostoso e levou ao campo com ela. Quando ela chegou no campo ela disse para si mesma, "O que devo fazer; devo colher primeiro, ou devo comer primeiro? Oh, vou comer primeiro." Então, ela esvaziu a sua bacia de caldo, e quando ela já havia comido tudo, ela disse mais uma vez, "O que devo fazer agora? Devo colher primeiro, ou devo dormir primeiro? Vou dormir primeiro."
Então, ela se deitou no meio do trigal e caiu no sono. Hans já tinha chegado em casa há muito tempo, mas Elsie não tinha voltado; então, ele falou, "Que esposa sensata que eu tenho; ela é tão dedicada que nem vem para casa para comer." Mas como ela não voltava, e já estava ficando noite, Hans saiu para ver o que ela havia colhido, mas ela nada havia colhido, e ela estava deitada entre os trigais e dormia. Então, Hans correu para casa e trouxe uma rede de caçar aves que tinha pequenos sininhos nela e pendurou ao lado dela, e ela continuou dormindo.
Então, ele foi de novo para casa, fechou a porta da casa, sentou-se em sua cadeira e começou a trabalhar. Finalmente, quando já estava bastante escuro, Elsie, a sensata, acordou e quando ela se levantou ela ouviu o retinir de sinos ao seu redor, e os sinos tocavam a cada passo que ela dava. Então, ela ficou confusa, e ficou em dúvida se ela era realmente Elsie, a sensata, ou não, e disse, "Sou eu, ou será que não sou eu?" Mas ela não sabia que resposta daria, e durante algum tempo ela ficou em dúvida; finalmente ela pensou, "Eu irei para casa e perguntarei se sou eu, ou se não sou eu mesma, com certeza lá em casa saberão."
Ela correu até a porta da sua casa, mas a porta estava fechada; então, ela bateu na janela e gritou, "Hans, Elsie está aí?" - "Sim," respondeu Hans, "ela está aqui dentro." Então, ela ficou apavorada, e disse, "Ah, Deus do céu! Então, não sou eu," e foi até outra porta; mas quando as pessoas ouviam os sininhos retinindo, elas não queriam abrir a porta, e ela não conseguia entrar em nenhum lugar. Então, ela fugiu daquela aldeia, e ninguém nunca mais a viu.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, na Suíça, um conde que tinha um filho único, mas tão obtuso que não conseguia aprender coisa alguma. Então, o pai disse-lhe:- Escuta, meu filho, por mais que me esforce, não consigo meter nada dentro da tua cabeça. Precisas ir para fora daqui; eu te confiarei a um mestre muito célebre, que tentará fazer algo de ti.O rapaz foi enviado a uma cidade estranha e hospedou-se na casa do mestre durante ano inteiro. Passado esse tempo, voltou para a casa do pai e este perguntou-lhe:- Então, meu filho, o que aprendeste?- Meu pai, aprendi o que latem os cachorros, - respondeu o rapaz.- Misericórdia divina! - bradou o pai, - foi tudo o que aprendeste? Vou mandar-te para a casa de outro mestre, em outra cidade.O rapaz foi e passou um ano na casa do segundo mestre. Voltando daí a um ano para casa, o pai perguntou-lhe:- Que aprendeste, meu filho?- Meu pai, aprendi o que dizem os passarinhos; - respondeu ele.Zangadíssimo, o pai então gritou:- O perdição humana! Perdeste um tempo precioso e nada aprendeste? E não te envergonhas de aparecer ante meus olhos? Vou mandar-te a um terceiro mestre; se desta vez não aprenderes nada, não quero mais ser teu pai.O filho permaneceu um ano inteiro com o terceiro mestre; quando voltou para casa, o pai perguntou-lhe:- Vejamos, meu filho, que aprendeste?- Meu pai, - respondeu ele, - neste ano aprendi o que coaxam as rãs.O pai, então, louco de raiva, levantou-se de um salto, chamou a criadagem e disse:- Este homem não é mais meu filho; expulso-o de minha casa e ordeno que o leveis à floresta e o mateis.Os criados levaram-no à floresta mas, no momento de matá-lo, condoeram-se dele e soltaram-no para que se fosse. Arrancaram os olhos e a língua de um veado, que levaram ao velho conde como testemunho.O rapaz peregrinou durante algum tempo; por fim foi ter a um castelo, onde pediu pouso para aquela noite- Sim, - disse o castelão, mas só se quiseres pernoitar lá embaixo naquela torre. Advirto-te, porém, que arriscas a vida; a torre está cheia de cães ferozes que latem e uivam sem parar e, em determinadas horas, é preciso dar-lhes um homem, que devoram imediatamente.Em consequência disso, toda a região vivia em luto e mergulhada na tristeza, e não havia quem pudesse solucionar o problema. O rapaz, porém, não tinha medo e disse:- Irei lá com os cães que uivam; dai-me somente alguma coisa que lhes possa atirar para que comam; a mim não farão mal algum.Sendo essa a sua vontade, deram-lhe só a comida para os cães e o conduziram à torre. Quando penetrou lá dentro, os cães não latiram, mas abanaram amistosamente as caudas e comeram o que lhes apresentou, sem lhe torcer um só fio de cabelo.Na manhã seguinte, saiu de lá são e salvo para assombro geral; foi ao castelão e disse:- Os cães, na sua linguagem, revelaram-se a razão por que estão aí presos e porque causam tanto dano à região. Estão encantados e precisam guardar um grande tesouro escondido lá embaixo, na torre. Enquanto o tesouro não for desenterrado, eles não se apaziguarão e, sempre na sua linguagem, entendi o que é preciso fazer.Todos se alegraram ao ouvir isso e o castelão propôs adotá-lo como filho se conseguisse resolver tudo da melhor maneira possível. O rapaz tomou a descer à torre e, instruído como deveria agir, desincumbiu-se da tarefa com felicidade; depois levou para cima uma arca cheia de ouro. A partir desse dia, nunca mais se ouviram os medonhos uivos dos cães ferozes; haviam desaparecido; a região ficou livre para sempre desse flagelo.Decorrido algum tempo, o rapaz teve a ideia de viajar a Roma. Pelo caminho, passou junto a um charco e dentro dele as rãs coaxavam seus mexericos. Aguçou o ouvido, prestando atenção ao que diziam; quando percebeu o que estavam a dizer, caiu em profunda tristeza e preocupação.Finalmente, depois de muito andar, chegou a Roma. Lá soube que havia falecido o Papa e reinava grande incerteza entre os Cardeais, que não conseguiam eleger o sucessor. Por fim, convencionaram que seria eleito aquele a quem fosse revelada, por um sinal milagroso, a vontade Divina.Justamente quando assim deliberavam, o jovem conde entrou na igreja e logo duas pombas brancas como neve, foram pousar em seus ombros e lá permaneceram imóveis. O clero reconheceu nisso a vontade Divina e, sem mais delongas, perguntaram-lhe se queria ser eleito Papa. O jovem, indeciso, não sabia se era digno de tal encargo, mas as pombas o persuadiram e ele respondeu que sim.Então, foi ungido e consagrado, cumprindo-se assim aquilo que, com grande consternação sua, ouvira as rãs coaxarem ao passar pelo charco. Pois elas justamente diziam que ele se tornaria Papa.Depois de coroado, teve de celebrar e cantar missa; mas não sabia uma única palavra, pois jamais tinha feito isso; então as pombas, que permaneciam pousadas em seus ombros, o ajudaram, sussurrando-lhe aos ouvidos tudo o que devia fazer e dizer.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Amãe do João falou para ele,
"Para onde vais, João?"
João respondeu, "Para a casa de Maria."
"Comporte-se bem, João."
"Oh, me comportarei bem. Adeus, mamãe."
"Adeus, João."
João chega na casa de Maria,
"Bom dia, Maria."
"Bom dia, João. O que trouxeste de bom?"
"Não trago nada, gostaria de ganhar algo."
Maria presenteia João com uma agulha.
João diz, "Adeus, Maria."
"Adeus, João."
João pega a agulha, e a joga dentro de um carrinho de feno, e segue com o carrinho para casa.
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, João. Onde estiveste?"
"Com Maria."
"O que levaste para ela?"
"Não levei nada; quis apenas que ela me desse alguma coisa."
"O que Maria deu para ti?"
"Me deu uma agulha."
"Cadê a agulha, João?"
"Coloquei-a dentro do carrinho com feno."
"Fizeste mal, João. Deverias ter colocado a agulha na manga da camisa."
"Não se preocupe, da próxima vez farei melhor."
"Para onde vais, João?"
"Para a casa de Maria, mamãe."
"Comporte-se bem, João."
"Oh, eu me comportarei bem. Adeus, mamãe."
"Adeus, João."
João chega à casa de Maria. "Bom dia, Maria."
"Bom dia, João. O que trouxeste de bom para mim?"
"Não trouxe nada, mas gostaria de receber algo." Maria presenteia João com uma faca.
"Adeus, Maria."
"Adeus, João." João pega a faca, e a coloca na manga de sua camisa, e vai para casa.
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, João. Onde estiveste?"
"Com Maria."
"O que levaste para ela?"
"Não lhe dei nada, mas ela me deu algo."
"O que Maria deu para você?"
"Ela me deu uma faca."
"Onde está a faca, João?"
"Eu a coloquei na manga da minha camisa."
"Fizeste mal, João, deverias ter colocado a faca no bolso."
"Tudo bem, da próxima vez farei melhor."
"Para onde vais, João?"
"Para a casa de Maria, mamãe."
"Comporte-se bem, João."
"Oh, eu me comportarei bem. Adeus, mamãe."
"Adeus, João."
João chega à casa de Maria. " Bom dia, Maria."
"Bom dia, João. O que de bom trouxeste para mim?"
"Não trouxe nada, mas gostaria de receber algo."
Maria presenteia João com um cabritinho.
"Adeus, Maria."
"Adeus, João." João pega o cabritinho, amarra-lhe as pernas, e o coloca dentro do bolso.
Quando ele chega em casa o cabritinho estava sufocado.
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, João. Onde estiveste?"
"Em casa de Maria."
"O que levaste para ela?"
"Não levei nada, mas ela me deu algo."
"O que Maria deu para você?"
"Ela deu para mim um cabritinho."
"Onde está o cabritinho, João?"
"Eu o coloquei no bolso."
"Fizeste mal, João, deverias ter colocado uma corda em volta do pescoço do cabrinho."
"Tudo bem, da próxima vez farei melhor."
"Para onde vais, João?"
"Para a casa de Maria, mamãe."
"Comporte-se bem, João,"
"Oh, eu me comportarei bem. Adeus, mamãe."
"Adeus, João." João chega à casa de Maria.
"Bom dia, Maria."
"Bom dia, João. O que de bom trouxeste para mim?"
"Não trouxe nada, mas gostaria de receber algo."
Maria presenteia João com um pedaço de toucinho.
"Adeus, Maria."
"Adeus, João."
João pega o toucinho, amarra numa corda, e o leva arrastado para casa.
Os cães aparecem e devoram o toucinho.
Quando ele chega em casa, ele tem apenas a corda na mão, e nada está pendurado nela.
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, João. Onde estiveste?"
"Com Maria."
"O que levaste para ela?"
"Não levei nada, ela me deu algo."
"O que Maria deu para você?"
"Me deu um pedaço de toucinho."
"Onde está o toucinho, João."
"Eu o amarrei numa corda, e quando trazia para casa, os cães o comeram."
"Fizeste mal, João, deverias ter trazido o toucinho na cabeça."
"Tudo bem, da próxima vez farei melhor."
"Para onde vais, João?"
"Para a casa de Maria, mamãe."
"Comporte-se bem, João."
"Eu me comportarei bem. Adeus, mamãe."
"Adeus, João."
João chega à casa de Maria.
"Bom dia, Maria."
"Bom dia, João."
"O que de bom trouxeste para mim?"
"Não trouxe nada, mas gostaria de receber algo."
Maria presenteia João com um bezerro.
"Adeus, Maria."
"Adeus, João."
João pega o bezerro, coloca-o na cabeça, e o bezerro lhe aplica um coice na cara.
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, João. Onde estiveste?"
"Com Maria."
"O que levaste para ela?"
"Não levei nada, mas ela me deu algo."
"O que Maria deu para você?"
"Um bezerro."
"Onde está o bezerro, João?"
"Eu o coloquei na minha cabeça e ele me deu um coice na cara."
"Fizeste mal, João, deverias ter levado o bezerro, e o colocado no estábulo."
"Tudo bem, da próxima vez farei melhor."
"Para onde vais, João?"
"Para a casa de Maria, mamãe."
"Comporte-se bem, João."
"Eu me comportarei bem. Adeus, mamãe."
"Adeus, João."
João chega à casa de Maria.
"Bom dia, Maria."
"Bom dia, João. O que de bom trouxeste para mim?"
"Não trouxe nada, mas gostaria de receber algo."
Maria diz a João, "Irei com você."
João pega Maria, amarra ela com uma corda, levou-a até o cavalete, e a amarrou bem forte.
Então, João vai até a sua mamãe,
"Boa noite, mamãe."
"Boa noite, João. Onde estiveste?"
"Com Maria."
"O que levaste para ela?"
"Não levei nada."
"O que Maria deu para você?"
"Ela não me deu nada, ela veio comigo."
"Onde deixaste Maria?"
"Eu a levei com uma corda, e a amarrei no cavalete, e espalhei um pouco de grama para ela."
"Fizeste mal, João, deverias ter lançado olhos gentis sobre ela."
"Não se preocupe, da próxima vez farei melhor."
João entrou no estábulo, arrancou todos os olhos dos bezerros e das ovelhas, e os lançou no rosto de Maria.
Então, Maria ficou brava, soltou as amarras e fugiu desanimada, tornando-se assim a noiva de João.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um moleiro que, pouco a pouco, foi caindo na miséria e nada mais lhe restou que o velho moinho, atrás do qual havia uma macieira.Certo dia, tendo ido catar lenha na floresta, aproximou-se dele um velho que nunca tinha visto antes, o qual lhe disse:- Por quê te cansas tanto a rachar lenha? Se me prometeres o que está atrás do moinho, eu te tornarei imensamente rico."O que mais poderá ser, senão a minha macieira?" pensou o moleiro, que respondeu:- Está bem, prometo. - E o desconhecido fê-lo assinar um compromisso.- Daqui a três anos, virei buscar o que me pertence, - disse o velho sorrindo, sarcasticamente, e indo embora.Ao voltar para casa, a mulher correu-lhe ao encontro e, admirada, perguntou-lhe:- Dize-me, marido, de onde vem essa riqueza que subitamente nos invadiu a casa? Todos os caixotes e caixas, de maneira inesperada e repentina, ficaram cheios de coisas. Não vi pessoa alguma entrar em casa e trazer tudo isso, e não sei explicar de onde veio.O marido, então, explicou:- Foi um desconhecido que encontrei na floresta. Ele prometeu-me grandes tesouros se lhe cedesse o que está atrás do moinho. Assinei um compromisso que lhe cederia; pois, bem podemos dar-lhe a nossa macieira, não achas?- Ah, marido, - gritou, espantada, a mulher, - esse desconhecido era o diabo! E não era a macieira que pretendia, mas nossa filha, que estava nessa hora varrendo o quintal atrás do moinho!A filha do moleiro era jovem, muito bonita e muito piedosa. Passou aqueles três anos no mais santo temor de Deus e sem cometer nenhum pecado. Decorrido o prazo estabelecido, no dia em que o diabo devia ir buscá-la, ela lavou-se bem e, com um giz, traçou um círculo ao redor. Logo cedo, o Diabo apareceu, mas não lhe foi possível aproximar-se dela. Então, muito zangado, disse ao moleiro:- Tens de tirar-lhe toda a água a fim de que não possa lavar-se, porque senão não terei nenhum poder sobre ela.O moleiro, amedrontado, prontificou-se a obedecer. Na manhã seguinte, o diabo apareceu novamente, mas ela havia chorado sobre as mãos e estas estavam completamente limpas; de novo, o diabo não conseguiu aproximar-se dela. Então, furioso, disse ao pai:- Corta-lhe as mãos, do contrário não poderei levá-la.O pai, horrorizado, queixou-se:- Como poderei cortar as mãos à minha própria filha?O demônio, então, ameaçou-o, dizendo:- Se não o fizeres, tu serás meu e eu te levarei comigo!O moleiro, acabrunhado, prometeu obedecer-lhe. Foi ter com a filha e disse:- Querida filha, o diabo ameaçou levar-me se eu não cortar tuas mãos; dominado pelo medo, prometi fazê-lo. Ajuda-me nesta minha angústia e perdoa-me todo o mal que te faço.- Querido pai, - respondeu a jovem, - sou vossa filha, podeis fazer de mim o que quiserdes.Estendeu-lhes as mãos, deixando que lhas cortasse. O diabo veio pela terceira vez, mas ela havia chorado tanto, durante todo o tempo, sobre os pobres cotos que estes ficaram limpíssimos. Tendo assim perdido qualquer direito sobre ela, o diabo foi obrigado a desaparecer.- Graças a ti, - disse-lhe o pai, - ganhei essas riquezas imensas, portanto, quero tratar-te daqui por diante, até o fim de tua vida, como rainha.A jovem, porém, respondeu-lhe:- Não, meu pai, não posso mais ficar aqui, devo ir-me embora. Não faltarão por esse mundo além criaturas piedosas que me darão o necessário para viver!Depois mandou que lhe amarrassem os cotos atrás das costas e quando o sol raiou despediu-se e pôs-se a caminho. Andou, sem rumo certo, o dia inteiro até ao cair da noite. Chegou, assim, ao jardim do palácio real e, como estivesse o luar muito claro, pôde ver as árvores carregadinhas de frutos; mas não podia entrar no jardim, pois era cercado em toda a volta por um largo fosso.Ora, tendo caminhado o dia inteiro sem comer nada, sentia-se desfalecer de fome, e pensou: "Ah, quem me dera estar lá dentro e comer algumas frutas! Senão terei que morrer aqui de fome." Então ajoelhou-se e, rezando fervorosamente, invocou o auxílio de Deus. No mesmo instante, apareceu um anjo, que abaixou uma comporta, esgotando a água do fosso e, assim, ela pôde atravessá-lo.Entrou no jardim, sempre acompanhada pelo anjo. Viu uma árvore carregada de frutos. Eram peras bonitas e maduras, mas estavam todas contadas; a jovem aproximou-se da árvore e com a boca colheu uma pera a fim de aplacar a fome. O jardineiro viu-a mas, como o anjo estava junto dela, ficou com medo, julgando que a moça fosse uma alma do outro mundo e não disse nada, nem mesmo ousou chamá-la ou interrogá-la. Tendo comido a pera, que lhe matou a fome, ela foi esconder-se num bosquete que havia ali por perto.Na manhã seguinte, o rei desceu ao jardim e foi direitinho contar as peras da pereira; notou que faltava uma e perguntou ao jardineiro que fim tinha levado, pois não a via aí no chão debaixo da árvore, portanto, estava mesmo faltando. O jardineiro, então, contou-lhe o ocorrido.- Na noite passada, apareceu uma alma do outro mundo, faltavam-lhes as duas mãos, mas colheu a pera da árvore com a boca e comeu-a.- Mas como conseguiu atravessar o fosso cheio de água? - perguntou o rei. - E para onde foi depois de comer a pera?- Desceu alguém do Céu, trajando roupas alvas como a neve, baixou a comporta, prendendo a água para que a alma do outro mundo pudesse atravessar. Creio que devia ser um Anjo; então fiquei com medo, não fiz perguntas, nem chamei. Tendo comido a péra o espectro desapareceu por onde tinha vindo.- Se é assim como dizes, esta noite ficarei vigiando contigo, - disse o rei.Quando escureceu, o rei desceu ao jardim. Trazia junto um padre, que devia interpelar a alma do outro mundo. Sentaram-se os três, o rei, o padre e o jardineiro, debaixo da árvore, e ficaram aguardando. Quando deu meia-noite, a moça saiu do bosquete, chegou ao pé da pereira e comeu outra péra, colhendo-a com a boca; continuava-lhe ao lado o anjo de vestes brancas como a neve. O padre levantou-se, deu alguns passos em direção dela e perguntou:- Vieste de Deus ou do mundo? Es um espectro ou um ser humano?- Não sou nenhum espectro, - respondeu a moça; - sou uma pobre criatura abandonada por todos, menos por Deus.O rei, ouvindo isso, aproximou-se e disse-lhe:- Se todos to abandonaram, eu não quero te abandonar, vem!Levou-a para o seu castelo e, notando quão bela e piedosa era, logo se apaixonou. Ordenou que se lhe fizessem duas mãos de prata e depois casou-se com ela.Passou-se um ano muito feliz; tendo, porém, que partir para a guerra, o rei recomendou a jovem rainha à sua mãe, dizendo:- Assim que ela der à luz a criança que está esperando, cuidai bem dela e escrevei-me imediatamente.E a rainha deu a luz um lindo menino. A velha mãe apressou-se a escrever ao rei, anunciando-lhe a feliz nova. Pelo caminho, porém, o mensageiro, muito cansado, deteve-se perto de um riacho a fim de repousar um pouco e não tardou a adormecer, t Não demorou muito e apareceu o diabo, que não perdia a menor ocasião para fazer mal à rainha; pegou a carta que o mensageiro levava e trocou-a por outra, que dizia ter a rainha dado à luz um mostrengo.Ao receber a carta, o rei espantou-se e ficou profundamente desolado, porém respondeu dizendo que tratassem bem da rainha até o seu regresso. O mensageiro, de volta com essa outra carta, deteve-se outra vez no mesmo lugar para repousar e adormeceu. Então o diabo, aparecendo, tornou a substituir também essa carta por outra, na qual era ordenado que matassem a rainha e o filho.Ao ler a carta, a velha mãe ficou horrorizada, não podendo acreditar em tal ordem; então escreveu novamente ao filho mas não obteve resposta, porque, todas as vezes, apareciu o diabo e substituía as cartas. Aliás, na última, vinha a ordem expressa de conservar a língua e os olhos da rainha como prova de sua morte.A velha mãe chorava à ideia de ter que derramar aquele sangue inocente e, não sabendo como sair-se de tão penoso encargo, durante a noite mandou que lhe trouxessem uma gazela, cortou-lhe a língua, arrancou-lhe os olhos e guardou-os. Depois foi ter com a rainha, dizendo:- Não tenho coragem de executar as ordens do rei, que mandou matar-te; mas não podes continuar aqui, vai pois por esse mundo afora com o teu menino e não voltes mais.Tendo dito o que devia, amarrou a criança nas costas da pobre mulher, que se foi toda chorosa. Chegando a uma grande floresta virgem, ajoelhou-se e pôs-se a rezar fervorosamente; o Anjo do Senhor apareceu-lhe e conduziu-a a uma casinha, na qual havia uma tabuleta com os seguintes dizeres: "Aqui mora quem quiser, livremente." Da casinha saiu uma donzela alva como a neve, que foi ao encontro da rainha, saudando-a:- Sê bem-vinda, minha rainha!Convidou-a a entrar, desamarrou-lhe a criança das costas e achegou-a ao seio para que a amamentasse, deitando-a depois num lindo bercinho adrede preparado. A pobre mulher, então, lhe perguntou:- Como sabes que sou a rainha?- Sou um anjo, enviado por Deus para cuidar de ti e do teu menino, - respondeu a donzela.A ex-rainha viveu nessa casa durante sete anos, sempre magnificamente tratada; e, graças à sua piedade, Deus permitiu que lhe crescessem novamente as mãos.Enquanto isso, o rei, voltando da guerra, quis ver a esposa e o filho. A velha mãe, prorrompendo em pranto, recriminou-o:- Homem perverso! Por que escreveste ordenando que matasse dois inocentes? - e mostrou-lhe as cartas falsificadas pelo demônio, acrescentando:- Fiz quanto me ordenaste, - e apresentou-lhe as provas pedidas: a língua e os olhos.O rei não pôde conter-se e desatou a chorar, e bem mais amargurado, pela sua querida esposa e pelo filhinho. Chorava tão desesperadamente que a velha mãe, apiedando-se dele, confessou:- Acalma-te, não chores mais; ela ainda está viva. Mandei matar, em segredo, uma gazela e as provas que aí tens são a língua e os olhos dela. Quanto à tua mulher, amarrei-lhe o filho às costas e disse-lhe que se fosse pelo mundo e prometesse nunca mais aparecer por aqui, pois tu estavas tão furioso que receei por ela. O rei, acalmando-se, disse:- Irei até onde acaba o azul do céu, sem comer nem beber, à procura de minha querida esposa e de meu filhinho, se é que ainda não morreram de fome.Pôs-se a caminho. Andou vagando durante sete anos, sondando todos os penhascos e cavernas, mas não a encontrou e, então, julgou que tivessem morrido. Durante esse tempo todo não comeu nem bebeu conforme havia prometido; Deus, porém, o manteve vivo e são. Finalmente, depois de tanto perambular, passou pela floresta virgem e encontrou a casinha com a tabuleta na qual estava escrito: "Aqui mora quem quiser, livremente." Saiu de dentro dela a donzela alva como a neve que, pegando-lhe a mão, convidou-o a entrar.- Sede bem-vindo, Majestade! - e perguntou-lhe de onde vinha. Ele respondeu:- Venho de longe! São quase sete anos que ando à procura de minha esposa e de meu filho, mas não consigo encontrá-los.O anjo ofereceu-lhe alimento e bebida, mas ele recusou, dizendo que só queria descansar um pouco. Deitou-se, cobriu o rosto com um lenço e fechou os olhos. O anjo, então, foi ao quarto onde estava a rainha com o menino, a quem pusera o nome de Doloroso, e disse-lhe:- Vem e traz teu filho, acaba de chegar teu esposo.A mulher foi e aproximou-se de onde ele estava dormindo; nisso caiu-lhe o lenço do rosto e ela disse ao menino:- Doloroso, meu filho, apanha o lenço de teu pai e cobre-lhe o rosto.O menino recolheu o lenço e cobriu o rosto do pai; este, semi-adormecido apenas, ouviu o que diziam e deixou cair outra vez o lenço. O menino, então, disse impaciente:- Querida mamãe, como posso cobrir o rosto de meu pai? Eu não tenho pai na terra! Aprendi a oração que me ensinaste: Pai nosso, que estás no céu. Tu sempre disseste que meu pai estava no céu e que era o bom Deus. Como posso agora reconhecer um homem tão selvagem? Este não é meu pai!A estas palavras o rei sentou-se e perguntou à mulher quem era.- Sou tua esposa, - respondeu a rainha - e este é teu filho Doloroso.Vendo que as mãos dela eram verdadeiras, disse o rei:- Minha esposa tinha mãos de prata!- Foi o bom Deus que me fez crescer estas mãos naturais, - respondeu ela.O anjo, então, foi ao quarto dela e trouxe as mãos de prata, mostrando-as ao rei. Isso convenceu o rei que ela era realmente sua esposa e o menino seu filho. Apertou-os em seus braços e, beijando-os com grande ternura, disse:- Agora caiu-me um grande peso do coração.O anjo do Senhor mais uma vez serviu-lhes comida e bebida. Depois regressaram todos ao palácio, para junto da velha mãe. Houve grande alegria por todo o reino, e o rei e a rainha celebraram outra vez suas núpcias, vivendo felizes até à sua santa morte.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Um piolho e uma pulga decidiram morar juntos e um dia estavam fazendo cerveja numa casca de ovo. E então, o pequeno piolho caiu dentro e se queimou. Diante disto, a pequena pulguinha começou a gritar alto. Então, a pequena porta do quarto disse, "Minha pequena pulguinha, porque estás gritando?"
"Porque o piolho se queimou."
Louca de dor, a porta começou a ranger. Foi aí que uma vassoura, que estava encostada num canto, falou para a porta, "Porque você está rangendo, pequena porta?" - "Não tenho eu razões para me lamentar?"
"O piolhinho se queimou todo,
E a pulguinha está chorando."Então, a vassoura também começou a varrer que nem desesperada. Um carrinho de mão, que passava pelo local, perguntou, "Porque estás chorando, minha amiga vassoura?" - "Não tenho eu razões para chorar?"
"O piolho se queimou,
A pulguinha está chorando,
E a porta está rangendo de dor."Então, o carrinho de mão disse, "Então, eu vou correr," e saiu correndo que nem louco. Então, um monte de cinzas que corria com ele, falou "Porque você está correndo também, carrinho de mão?" - "E não tenho eu motivos para correr?"
"O piolho se queimou,
A pulguinha está chorando,
A porta está rangendo de dor."
E a vassoura está varrendo."Nesse instante, o monte de cinzas falou, "Então, vou queimar furiosamente," e começou a queimar com chamas claras. Uma pequena árvore estava perto do monte de cinzas e perguntou, "Monte de cinzas, porque você está queimando?" - "Será que eu não tenho motivos para estar queimando?"
"O piolho se queimou,
A pulguinha está chorando,
A porta está rangendo de dor."
A vassoura está varrendo."
E o carrinho de mão está correndo."A pequena árvore então, falou, "Então, vou me sacudir todinha," e começou a se sacudir e todas as suas folhas caíram; uma garota apareceu carregando um jarro de água, viu tudo aquilo e perguntou, "Minha amiga árvore, porque você está se sacudindo toda?" - "Será que eu não tenho motivos para me sacudir?," respondeu ela.
"O piolho se queimou,
A pulguinha está chorando,
A porta está rangendo de dor."
A vassoura está varrendo."
O carrinho de mão está correndo."
E o monte de cinzas está se queimando."Então, a garota falou, "Então, eu vou quebrar o meu pequeno jarro dágua," e ela quebrou o seu pequeno jarro dágua. Então, disse uma pequena fonte de onde corria a água, "Menininha, porque você está quebrando o jarro dágua?" - "E não tenho eu motivos para quebrar o jarro dágua?"
"O piolho se queimou,
A pulguinha está chorando,
A porta está rangendo de dor."
A vassoura está varrendo."
O carrinho de mão está correndo."
O monte de cinzas está queimando."
E a pequena árvore está sacudindo.""Oh, não!" disse a fonte, "então, eu vou começar a correr," e ela começou a correr com muita força. E todos se afogaram na água, a menina, a pequena árvore, o pequeno monte de cinzas, o carrinho de mão, a vassoura, a pequena porta, a pulguinha, o piolho, todos juntos.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, uma mulher muito pobre, que deu à luz um menino e, como este nascera com a túnica da sorte, predisseram-lhe que, aos catorze anos se casaria com a filha do rei. Eis que, decorrido pouco tempo, o rei foi àquela aldeia sem que soubessem que era ele; quando perguntou à gente do lugar pelas novidades locais, logo lhe responderam:- Nasceu, nestes dias, um menino com a túnica da sorte. Quem nasce com essa túnica será muito feliz e, faça o que fizer, tudo lhe sairá bem. Predisseram-lhe, ademais, que aos catorze anos se casará com a filha doOuvindo isso, o rei, que era de mau coração, ficou indignado, principalmente por causa da profecia. Foi procurar os pais da criança e, demonstrando benevolência que não possuia, disse-lhes:- Pobre gente, dai-me o vosso menino; eu tomarei conta dele.A princípio, oS pais recusaram-se, mas, como o desconhecido lhes oferecia grande soma de dinheiro, pensaram entre si: "É um filho da sorte, como tal, tudo lhe correrá bem." Assim acabaram concordando e deram-lhe o filhinho.O rei colocou-o dentro de uma caixa; montou a cavalo e pôs-se a caminho. Ao chegar a um rio caudaloso, atirou nele a caixa, murmurando:- Assim livro minha filha desse pretendente indesejado.A caixa, porém, não afundou. Ficou flutuando como um barquinho e nem uma só gota de água penetrou dentro dela. Foi vogando uns dois quilômetros, além da capital do Reino, chegando assim a um moinho em cuja roda ficou presa. Por boa sorte, encontrava-se lá, no momento, o ajudante do moleiro que, vendo-a, a puxou para fora com um gancho, pensando encontrar dentro dela algum tesouro. Mas, quando a abriu, encontrou simplesmente um belo menino, risonho e vivaz. Levou-o para o casal de moleiros, os quais, não tendo filhos, alegraram-se muito, dizendo:- Este é um presente de Deus!Acolheram o enjeitado, trataram-no com todo o carinho e ele cresceu dotado de grandes virtudes.Ora, aconteceu que um dia, durante forte tempestade, o rei teve de refugiar-se no moinho; vendo o menino perguntou aos moleiros se era filho deles.- Não, - responderam, - é um enjeitado que há catorze anos apareceu dentro de uma caixa, a qual ficou presa à roda do moinho, e nosso ajudante retirou-a da água.O rei, então, concluiu que não podia ser outro senão o filho da sorte, atirado por ele dentro do rio. Dirigindo-se aos moleiros disse:- Boa gente, não poderia esse menino levar uma carta à Sua Majestade a Rainha? Eu lhe darei como recompensa duas moedas de ouro.- Será feito o que Vossa Majestade ordena, - responderam os moleiros.Disseram ao menino que se aprontasse. O rei, então, escreveu à rainha uma carta com a seguinte ordem: "Assim que o rapaz, portador desta carta, chegar aí, quero que o matem e o enterrem; faça-se tudo antes do meu regresso."O rapaz pôs-se a caminho, levando a carta, mas extraviou-se e, à noite, foi dar a uma grande floresta. Em meio a escuridão, avistou uma luzinha; caminhou em sua direção e chegou a uma pequena casa; viu uma senhora idosa sentada, sozinha junto do fogo. Esta, ao ver o rapaz, assustou-se e perguntou:- De onde vens? E para onde vais?- Venho do moinho, - respondeu ele, - e vou levar uma carta a Sua Majestade a Rainha. Mas, tendo perdido o caminho, desejo pernoitar aqui.- Pobre rapaz, - disse a velha, - vieste cair num covil de bandidos; quando chegarem e te virem, certamente te matarão.- Venha quem quiser, - respondeu o rapaz, - eu não temo ninguém; estou tão cansado que não posso continuar a viagem.Deitou-se sobre um banco e logo adormeceu. Não tardou muito chegaram os bandidos e, zangados, perguntaram quem era aquele desconhecido ali deitado.- Oh, - disse a velha, - é um inocente menino que se perdeu na floresta; recolhi-o por compaixão, pois vai levando uma carta a Sua Majestade a Rainha.Curiosos, os bandidos abriram a carta para ler o que continha; ao ver que era uma ordem para matar e enterrar o rapaz assim que chegasse ao palácio, aqueles corações empedernidos apiedaram-se dele. O chefe da quadrilha, então, rasgou a carta, escrevendo uma outra, na qual dizia que o rapaz, logo após a chegada, devia imediatamente casar-se com a princesa. Deixaram-no dormir, sossegadamente, até pela manhã. Quando acordou, deram-lhe a carta e ensinaram-lhe o caminho certo.Ao receber a carta, a Rainha prontamente executou as ordens. Mandou que se organizasse uma esplêndida festa e a princesa casou com o filho da sorte. Como era um rapaz bonito e afável, sentiu-se alegre e feliz a seu lado.Transcorrido algum tempo, regressou o rei ao castelo e verificou que se realizara a predição: o filho da sorte casara-se com a princesa sua filha.- Como pôde acontecer isto? - perguntou; - na minha carta dei ordens completamente diversas.A Rainha, então, mostrou-lhe a carta recebida para que ele mesmo visse o que dizia. O rei leu-a e percebeu que havia sido trocada. Perguntou ao rapaz o que acontecera e por que trouxera a carta trocada.- Eu nada sei, - respondeu o rapaz, - talvez tenha sido trocada enquanto dormia lá na floresta.- Não te sairás tão facilmente desta, - exclamou o rei, encolerizado. - Quem quiser minha filha, terá de trazer-me do inferno os três cabelos de ouro do Diabo; quando me trouxeres o que exijo, então poderás ficar com minha filha.Com isto, o rei pensava que se livraria, de uma vez por todas, do rapaz. Mas o filho da sorte disse-lhe:- Está bem, irei ao inferno buscar os cabelos de ouro, pois não tenho medo do Diabo.Despediu-se de todos e iniciou a longa caminhada. A estrada, por onde seguia, conduziu-o a uma grande cidade cercada de muralhas; chegando à porta, a sentinela perguntou-lhe qual era seu ofício e o que sabia.- Sei tudo, - respondeu o filho da sorte.- Dize-nos, então, por favor, por quê é que secou o chafariz da praça do mercado, do qual normalmente jorrava vinho e agora nem mais água jorra? - perguntou a sentinela.- Sabereis quando eu voltar, - respondeu o rapaz.Continuou andando e chegou à porta de outra grande cidade; aí, também, a sentinela perguntou-lhe qual era o seu ofício e o que sabia.- Sei tudo, - respondeu ele.- Dize-nos, então, por favor, por quê é que certa árvore de nossa cidade, que sempre produziu maçãs de ouro, agora nem folhas dá mais?- Sabereis quando eu voltar, - respondeu.Prosseguiu o caminho. Foi andando até à margem de um rio muito largo, que devia atravessar. O barqueiro perguntou-lhe qual era o seu ofício e o que sabia.- Sei tudo, - respondeu outra vez.- Então dize-me, por favor, - perguntou o barqueiro, - por quê é que devo sempre ir e vir sem nunca ficar livre?- Saberás quando eu voltar.Depois de atravessar o rio, encontrou o ingresso do inferno. Tudo lá dentro era negro e cheio de fuligem. O Diabo não estava em casa, estava apenas sua avó, sentada numa grande poltrona.- Que desejas? - perguntou-lhe. - E não tinha aparência de má.- Desejo os três cabelos de ouro do Diabo, - respondeu ele; - se não os conseguir, não poderei conservar minha mulher.- Pedes demasiado! - disse ela. - Se ao chegar, o Diabo te encontrar aqui, ele te esfolara vivo. Mas como tenho pena de ti, verei se posso ajudar-te.Transformou-o numa formiga e disse-lhe:- Agora esconde-te nas dobras da minha saia, ai estarás seguro.- Muito bem, - exclamou o rapaz, - mas há também três coisas que gostaria de saber: primeiro, porque é que secou um chafariz do qual costumava jorrar vinho e agora nem mesmo água jorra; segundo, porque é que uma macieira, que sempre dava maçãs de ouro, agora nem folhas mais dá; terceiro, porque é que um barqueiro deve sempre ir e vir sem nunca se livrar.- Essas são perguntas muito difíceis - respondeu a velha; - mas fica quietinho e calado e presta bem atenção ao que diz o Diabo quando eu lhe arrancar os cabelos de ouro.Quando anoiteceu, o Diabo voltou para casa. Mal entrou na porta, percebeu no ar algo que não era puro.- Sinto cheiro, sinto cheiro de carne humana, - resmungou, - há algo estranho aqui!Revistou todos os cantos mas não conseguiu encontrar nada. A avó então repreendeu-o:- Agora mesmo acabei de varrer e arrumar a casa; e tu, mal chegas, já te pões a fazer desordens; andas sempre com cheiro de carne humana nas narinas! Vamos, senta-te e come o teu jantar!Quando terminou de comer e beber, o Diabo sentiu cansaço; reclinou a cabeça no regaço da avó, pedindo-lhe que lhe fizesse cafuné. Não demorou muito e ferrou no sono, bufando e roncando tranquilamente. Então a velha pegou um cabelo de ouro, arrancou-o e guardou-o de lado.- Ai! - gritou o diabo, - que é que estás fazendo?- Ah, tive um pesadelo, - respondeu a avó, - e sem querer agarrei e puxei teus cabelos.- O que sonhaste? - perguntou o Diabo.- Sonhei que um chafariz, do qual sempre jorrava vinho, secou, e nem mais água jorra. Por quê será?- Ah, se o soubessem! - disse o Diabo. Há no chafariz um sapo, debaixo de uma pedra, se o matarem voltará a jorrar vinho.A avó recomeçou a fazer-lhe cafuné; ele adormeceu de novo, roncando de fazer estremecer os vidros. Ela então, arrancou-lhe o segundo cabelo.- Ui! - gritou zangado, - mas, que estás fazendo?- Não te zangues, - respondeu ela, - fiz isto em- E que sonhastes mais? - perguntou o Diabo.- Sonhei que havia, num reino, uma árvore, a qual primeiro dava maçãs de ouro e agora nem folhas dá mais. Por quê será?- Oh, se o soubessem! - respondeu o Diabo. - Há um rato que lhe está roendo a raiz; se o matarem, voltará a produzir maçãs de ouro, mas se o rato continuar roendo-lhe a raiz, ela secará para sempre. Agora deixa-me em paz com teus sonhos; se me interromperes o sono outra vez, levarás uma bofetada.A avó acalmou-o e voltou a fazer-lhe cafuné, até que ele adormeceu e começou a roncar. Então, agarrou o terceiro cabelo de ouro e arrancou-o. O diabo levantou-se de um pulo, gritando que havia de lhe pagar, mas ela conseguiu acalmá-lo novamente e disse:- Que culpa tenho de ter maus sonhos?- Que é que sonhaste ainda? - perguntou, com certa curiosidade o Diabo.- Sonhei que um barqueiro queixava-se de ter sempre de ir e vir, sem nunca se livrar. Por quê será?- Ah, o tolo! - respondeu o Diabo; - quando alguém quiser atravessar o rio, ele que lhe meta nas mãos o varejão, assim o outro ficará sendo o barqueiro e ele estará livre.Tendo arrancado os três cabelos de ouro e obtido resposta para as três perguntas, a avó deixou o velho Satanás dormir sossegado até à manhã do dia seguinte.Assim que ele saiu de casa, a velha tirou a formiga das dobras de sua saia, restituindo-lhe o aspecto humano. Aqui tens os três cabelos de ouro, - disse, - e certamente ouviste as respostas do Diabo às tuas três perguntas.- Ouvi, sim - disse o rapaz, - e as gravei na memoria.- Bem, agora não precisas mais nada, - disse a velha; - podes, portanto, seguir teu caminho.O rapaz agradeceu contentíssimo à velha por tê-lo tirado das dificuldades e deixou o inferno, muito feliz por ter-se saído tão bem.Quando chegou à margem do rio e encontrou o barqueiro, que aguardava a resposta prometida, disse-lhe:- Leva-me primeiro para o outro lado; depois eu te direi o que deves fazer para livrar-te.Tendo atingido a-outra margem, deu-lhe o conselho do Diabo:- Quando vier alguém e quiser atravessar o rio, dá-lhe o teu varejão e safa-te.Continuou andando, andando, até chegar à cidade onde estava a macieira estéril; ali também a sentinela aguardava a resposta; disse-lhe então o que ouvira do Diabo:- Matai o rato que está roendo as raízes da árvore e ela tornará a produzir maçãs de ouro.A sentinela agradeceu e presenteou-o com dois jumentos carregados de ouro. Por fim, chegou à cidade do chafariz seco. Repetiu à sentinela o que ouvira do Diabo:- Há um sapo debaixo de uma pedra, no fundo de chafariz; é preciso encontrá-lo e matá-lo para que torne a jorrar vinho em abundância do chafariz.A sentinela agradeceu e deu-lhe outros dois jumentos carregados de ouro.Finalmente, o filho da sorte chegou à casa de sua mulher, que ficou radiante por tornar a vê-lo e ouvir contar como tudo lhe correra bem. Depois, foi entregar ao Rei o que este exigira: os três cabelos de ouro do Diabo. Vendo, porém, os quatro jumentos carregados de ouro, o Rei alegrou-se muito e disse:- Agora estão satisfeitas todas as condições, portanto, podes ficar com minha filha. Mas, dize-me, querido genro) de onde provém todo esse ouro? Esse imenso tesouro?- Atravessei um rio, - respondeu o rapaz, - e encontrei-o na areia na margem.- Poderei, também, ir buscar um pouco para mim? - perguntou o rei cobiçoso.- Quanto quiserdes, - respondeu-lhe ele. - No rio há um barqueiro; pedi-lhe que vos transporte para a outra margem e aí podereis encher quantos sacos desejardes.Cheio de cobiça, o Rei pôs-se, imediatamente, a caminho; quando chegou ao rio, pediu ao barqueiro que o transportasse para a outra margem. O barqueiro encostou o barco no ancoradouro e mandou que se sentasse. Ao chegar à margem oposta, o barqueiro entregou-lhe o varejão, pulou fora do barco e desapareceu.E, com isso, o rei teve de ser o barqueiro, em punição de seus pecados.- E ainda continua lá, indo e vindo feito um barqueiro?- Como não? Quem mais conhecia a história para o livrar do castigo?Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um país onde houve um grande alvoroço por causa de um javali que causava grandes prejuízos aos campos dos fazendeiros, matava o gado, e com suas garras rasgava os corpos das pessoas. O rei prometeu uma grande recompensa para aquele que libertasse o reino daquela fera; mas o animal era tão grande e forte que ninguém tinha coragem de se aproximar da floresta onde vivia o temível animal. Finalmente o rei mandou espalhar a notícia dizendo que aquele que conseguisse capturar ou matar o feroz javali receberia como esposa sua única filha.
Ora, aconteceu que, viviam nesse país dois irmãos, filhos de um pobre agricultor, e que se declaravam desejosos de assumir tão perigoso desafio; o mais velho, era astuto e perspicaz, além de orgulhoso; o mais jovem, era ingênuo e inocente, e tinha um bom coração. O rei disse, "Para que vocês tenham maior chance de encontrar a fera, vocês devem entrar na floresta partindo de lados opostos." Então, o mais velho foi para o lado onde o sol se põe, e o mais jovem foi para o lado onde o sol nasce.
Quando o mais jovem havia percorrido um pedaço do caminho, um homenzinho se aproximou dele. Ele portava em sua mão uma lança de cor preta e disse, "Eu te dou esta lança porque o seu coração é puro e bondoso; com ela você poderá atacar corajosamente o temível javali, e ele não lhe fará nenhum mal."
Ele agradeceu ao homenzinho, colocou sobre os ombros a lança, e continuou destemidamente.
Não se passou muito tempo e ele avistou a fera, que se atirou contra ele; mas ele apontou a lança em direção ao feroz animal, e cego de tanta fúria o temível animal se atirou tão rapidamente contra ela que o seu coração se partiu em dois. Então, ele colocou a fera em suas costas e voltou para casa com ela para entregá-la ao rei.
Quando ele chegou do outro lado da floresta, deteve-se diante de uma casa onde as pessoas estavam se divertindo, bebendo vinho e dançando. Ali estava também o seu irmão mais velho, o qual, pensando que afinal de contas o javali não poderia fugir dele, decidiu também tomar um trago para criar coragem. Mas quando ele viu o seu irmão mais jovem voltando da floresta carregando a sua presa, o seu coração perverso e invejoso não lhe deu nenhum instante de sossego. Então, ele gritou, "Entre, querido irmão, descanse e te reanimes um pouco com um copo de vinho."
O jovem, que não desconfiava de nada, entrou e lhe falou a respeito do bom e pequeno homenzinho que havia lhe oferecido a lança com a qual ele matara o javali.
O irmão mais velho lhe fez companhia até o anoitecer, e então, eles foram embora juntos, e como já estava escuro eles chegaram perto de uma ponte que passava por um rio, o irmão mais velho permitiu que o outro passasse primeiro; e quando este já havia atravessado a metade, aquele lhe deu um golpe tão forte por trás que ele caiu morto. Ele o sepultou debaixo da ponte, pegou o javali, e o levou para o rei, mentindo que o havia matado; e com isso ele recebeu a filha do rei em casamento. E como o seu irmão mais jovem não voltou ele dizia, "O javali deve tê-lo matado," e todos acreditaram nisso.
Mas como nada permanece oculto aos olhos de Deus, então, este ato cruel também havia de ser esclarecido.
Anos mais tarde um pastor de ovelhas que conduzia o seu rebanho pela ponte, encontrou misturado com a areia lá embaixo um osso que era branco como a neve. Ele achou que poderia fazer um bom bocal com ele, então, ele desceu, apanhou o osso, e o transformou num bocal para sua flauta. Mas quando ele soprou a flauta pela primeira vez, para seu grande assombro, o osso começou a cantar sozinho:
"Ah, meu amigo, cujo osso estais soprando!Há muito tempo ao lado das águas enterrado estou;Pois o meu irmão me matou por causa do javali,E o rei, a jovem filha a ele consagrou."
"Mas que flauta maravilhosa!" disse o pastor de ovelhas; "ela canta sozinha; Devo levá-la para o rei que é meu senhor." E quando ele levou a flauta para o rei, ela começou novamente a cantar sua pequena canção. O rei então, entendeu tudo, e mandou que o chão debaixo da ponte fosse cavado, e então, o esqueleto inteiro do homem assassinado veio à tona. O irmão perverso não conseguiu negar o fato, e foi amarrado dentro de um saco e afogado. Mas os ossos do homem assassinado foram levados para repousar num túmulo suntuoso dentro do cemitério.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um homem que possuía um burro, o qual, durante longos anos, tinha carregado assiduamente os sacos de farinha ao moinho, mas, por fim, as forças o abandonaram e, de dia para dia, tornava-se menos apto para o trabalho.O patrão, então, resolveu tirar-lhe a ração para que morresse; mas o burro percebeu em tempo as más intenções do dono e decidiu fugir, tomando a estrada de Bremen. Lá, pensava ele, teria possibilidade de ingressar como músico na banda municipal. Assim, pois, tendo caminhado um bom trecho, encontrou um cão de caça deitado na estrada, ofegando como se tivesse corrido muito.- Por quê estás tão ofegante, Mastim? - perguntou-lhe o burro.- Ah, - respondeu tristemente o cão, - como já estou velho e cada dia mais fraco, custando-me ir à caça, meu patrão decidiu matar-me. Então fugi, mas agora que farei para ganhar o pão de cada dia?- Queres saber uma coisa? - disse o burro; - eu vou a Bremen, onde terei a profissão de músico; vem tu, também, e arranja-te para entrar na banda. Eu toco alaúde e tu bates os tímpanos.A proposta agradou ao cão; então continuaram o caminho juntos. Depois de andar bom trecho, encontraram, à margem da estrada, um gato com a cara anuviada como em dia de chuva.- Que é isso, algo te foi de atravessado, velho Limpa-Barbas? - perguntou-lhe o burro.- Como é possível estar alegre quando se está pelos colarinhos? - rosnou o gato. - Como já estou velho e meus dentes não estão mais afiados como antes, preferindo, além disso, ficar tranquilamente roncando junto do fogo em vez de correr atrás dos ratos, minha patroa tentou afogar-me. Consegui escapulir, é verdade, mas agora surge a complicação: aonde irei?- Vem conosco para Bremen; como és entendido em serenatas, poderás entrar na banda municipal!O gato achou a ideia excelente e foi com eles. Pouco depois, os três fugitivos passaram diante de um terreiro e viram um galo, empoleirado no portão, a cantar desbragadamente.- Gritas a ponto de fazer quebrar os tímpanos da gente; que te sucede? - perguntou-lhe o burro.- Pois é, - disse o galo; - eu anunciei bom tempo, porque é dia de Nossa Senhora lavar as camisinhas do Menino Jesus e precisa que enxuguem. Mas, como amanhã é domingo e teremos hóspedes, minha patroa, impiedosamente, disse à cozinheira que deseja fazer uma canja comigo; assim, hoje à noite, terei de deixar-me cortar o pescoço. Então berro até não poder mais,- Deixa disso, Crista-Vermelha, - disse o burro; - fazes melhor vindo conosco, que vamos a Bremen; qualquer coisa, melhor do que a morte, sempre hás de encontrar. Tens uma bela voz e, juntando-nos todos para fazer música, tudo irá maravilhosamente.O galo interessou-se pela proposta e aceitou. Os quatro, então, puseram-se a caminho.Mas não podiam chegar a Bremen num dia; portanto, quando já estava escurecendo, chegaram a uma floresta e aí resolveram pernoitar. O burro e o cão deitaram-se debaixo de uma árvore muito alta; o gato e o galo treparam nos galhos. O galo voou até ao galho mais alto por lhe parecer mais seguro. Antes de adormecer, porém, correu os olhos em todas as direções e pareceu-lhe distinguir ao longe uma luzinha brilhando. Então gritou aos companheiros que, não muito longe, dali, devia encontrar-se alguma casa, pois estava vendo uma luz a brilhar.- Então levantemo-nos e vamos até lá, - disse o burro, - porque o alojamento aqui é bastante ruim.O cão, por seu lado, pensava que um osso com alguma carne grudada, viria a calhar. Por conseguinte, tomaram o rumo em direção à luzinha; não demorou muito, viram-na brilhar mais claramente e cada vez mais perto, até que descobriram uma casa fartamente iluminada, mas que não passava de um covil de ladrões. O burro, que era o mais alto, aproximou-se da janela e espiou dentro.- Que vês, Rabicâo? - perguntou o galo. Que estou vendo? - respondeu o burro - umamesa posta, cheia das melhores iguarias e, sentados em volta dela, um bando de ladrões regalando-se!- Ah! viria a calhar para nós, - disse o galo.- Ah, se estivéssemos lá dentro! - tornou o burro.Então os quatro animais reuniram-se em conselhopara estudar a maneira de enxotar os ladrões; finalmente, chegaram a uma conclusão. O burro teve de apoiar as patas dianteiras no beirai da janela; o cão saltou em cima das costas do burro; o gato trepou no cão, e o galo, com um largo voo, foi pousar na cabeça do gato. Em seguida, dado o sinal, prorromperam todos juntos em concerto: o burro zurrava com toda a força de seus pulmões; o cão latia furiosamente; o gato miava de causar medo e o galo cocoricava sonoramente. Com essa algazarra toda, pularam para dentro da janela e foram cair em cheio no centro da sala, fazendo tinir os vidros.Ante esse barulho ensurdecedor, os ladrões pularam das cadeiras; julgando que um fantasma vinha entrando e, cegos pelo terror, fugiram em carreira desabalada para a floresta. Os quatro companheiros, então refestelaram- se em volta da mesa e avançaram no que tinha sobrado, comendo tanto como se não tivessem comido há quatro semanas.Quando terminaram de comer, os quatro músicos apagaram as luzes e procuraram um lugar confortável para dormir, cada qual de acordo com a própria natureza. O burro deitou-se na estrumeira, o cão deitou-se atrás da porta, o gato enrolou-se na cinza ainda quente do fogão e o galo empoleirou-se na trave mestra. Sentindo- se muito cansados pela longa caminhada, adormeceram logo.Passada a meia-noite, os ladrões viram de longe que na casa não brilhava mais luz alguma e tudo parecia mergulhado na calma e no silêncio. Então, o chefe da quadrilha disse:- Fomos tolos, não deveríamos ter-nos deixado espantar.Resolveu mandar um de seus homens explorar a casa.O homem foi; encontrando tudo calmo, dirigiu-se à cozinha para acender uma luz; aí viu no fogão os olhos brilhantes do gato e, confundindo-se com brasas, pegou um pedaço de cavaco e enfiou-o neles para acender. Mas o gato não gostou da brincadeira e pulou-lhe na cara, cuspindo e arranhando-o todo. Assustadíssimo, o homem tratou de fugir pela porta do fundo, mas o cão, deitado na soleira, deu um salto e mordeu-lhe a perna; quis fugir pelo terreiro mas, ao passar correndo perto da estrumeira, o burro atirou-lhe um solene coice com a pata traseira, e o galo, que tinha acordado com todo esse tumulto, pôs-se a berrar freneticamente do alto da trave: Qui qui ri qui qui!O ladrão, meio morto de susto, saiu a correr até perder o fôlego e foi contar ao chefe o que lhe acontecera.- Lá na casa está uma bruxa medonha, que me soprou cinza em cima e me arranhou todo o rosto com as garras aduncas. Na soleira da porta está sentado um homem, que me feriu a perna com sua faca. No terreiro, então, há um monstro negro que me agrediu com uma tora de madeira, enquanto que, em cima do telhado, estava o juiz a gritar: "Tragam-me esse bandido aqui!" Então tratei de me salvar e nem sei como consegui chegar até aqui!Desde esse dia, os ladrões nunca mais se arriscaram a entrar na casa, o que foi ótimo para os quatro músicos de Bremen, que nela se instalaram, vivendo tão regaladamente que nunca mais quiseram sair.E quem por último a contou, ainda a boca não lhe esfriou.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez uma graciosa menina; quem a via ficava logo gostando dela, assim como ela gostava de todos; particularmente, amava a avozinha, que não sabia o que dar e o que fazer pela netinha. Certa vez, presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho e, porque lhe ficava muito bem, a menina não mais quis usar outro e acabou ficando com o apelido de Chapeuzinho Vermelho. Um dia, a mãe chamou-a e disse-lhe:- Vem cá, Chapeuzinho Vermelho; aqui tens um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho; leva tudo para a vovó; ela está doente e fraca e com isso se restabelecerá. Põe-te a caminho antes que o sol esquente muito e, quando fores, comporta-te direito; não saias do caminho, senão cais e quebras a garrafa e a vovó ficará sem nada. Quando entrares em seu quarto, não esqueças de dizer "bom-dia, vovó," ao invés de mexericar pelos cantos.- Farei tudo direitinho, - disse Chapeuzinho Vermelho à mãe, e despediu-se.A avó morava à beira da floresta, a uma meia hora mais ou menos de caminho da aldeia. Quando Chapeuzinho Vermelho chegou à floresta, encontrou o lobo; não sabendo, porém, que animal perverso era ele, não sentiu medo.- Bom dia, Chapeuzinho Vermelho, - disse o lobo todo dengoso.- Muito obrigada, lobo.- Aonde vais, assim tão cedo, Chapeuzinho Vermelho?- Vou à casa da vovó.- E que levas aí nesse cestinho?- Levo bolo e vinho. Assamos o bolo ontem, assim a vovó, que está adoentada e muito fraca, ficará contente, tendo com que se fortificar.- Onde mora tua vovó, Chapeuzinho Vermelho?- Mora a um bom quarto de hora daqui, na floresta, debaixo de três grandes carvalhos; a casa está cercada de nogueiras, acho que o sabes, - disse Chapeuzinho Vermelho.Enquanto isso, o lobo ia pensando: "Esta meninazinha delicada é um quitute delicioso, certamente mais apetitosa que a avó; devo agir com esperteza para pegar as duas." Andou um trecho de caminho ao lado de Chapeuzinho Vermelho e foi insinuando:- Olha, Chapeuzinho Vermelho, que lindas flores! Por quê não olhas ao redor de ti? Creio que nem sequer ouves o canto mavioso dos pássaros! Andas tão ensimesmada como se fosses para a escola, ao passo que é tão divertido tudo aqui na floresta!Chapeuzinho Vermelho ergueu os olhos e, quando viu os raios do sol dançando por entre as árvores, e à sua volta a grande quantidade de lindas flores, pensou: "Se levar para a vovó um buquê viçoso, ela certamente ficará contente; é tão cedo ainda que chegarei bem a tempo." Saiu da estrada e penetrou na floresta em busca de flores. Tendo apanhado uma, achava que mais adiante encontraria outra mais bela e, assim, ia avançando e aprofundando-se cada vez mais pela floresta a dentro.Enquanto isso, o lobo foi correndo à casa da vovó e bateu na porta.- Quem está batendo? - perguntou a avó.- Sou eu, Chapeuzinho Vermelho, trago vinho e bolo, abre-me.- Levanta a taramela, - disse-lhe a avó; - estou muito fraca e não posso levantar-me da cama.O lobo levantou a taramela, a porta escancarou-se e, sem dizer palavra, precipitou-se para a cama da avozinha e engoliu-a. Depois, vestiu a roupa e a touca dela; deitou-se na cama e fechou o cortinado.Entretanto, Chapeuzinho Vermelho ficara correndo de um lado para outro a colher flores. Tendo colhido tantas que quase não podia carregar, lembrou-se da avó e foi correndo para a casa dela. Lá chegando, admirou-se de estar a porta escancarada; entrou e na sala teve uma impressão tão esquisita que pensou: "Oh, meu Deus, que medo tenho hoje! Das outras vezes, sentia-me tão bem aqui com a vovó!" Então disse alto:- Bom dia, vovó! - mas ninguém respondeu.Acercou-se da cama e abriu o cortinado: a vovó estava deitada, com a touca caida no rosto e tinha um aspecto muito esquisito.- Oh, vovó, que orelhas tão grandes tens!- São para melhor te ouvir.- Oh, vovó, que olhos tão grandes tens- São para melhor te ver.- Oh, vovó, que mãos enormes tens!- São para melhor te agarrar.- Mas vovó, que boca medonha tens!- É para melhor te devorar.Dizendo isso, o lobo pulou da cama e engoliu a pobre Chapeuzinho Vermelho.Tendo assim satisfeito o apetite, voltou para a cama, ferrou no sono e começou a roncar sonoramente. Justamente, nesse momento, ia passando em frente à casa o caçador, que ouvindo aquele ronco, pensou:"Como ronca a velha Senhora! É melhor dar uma olhadela a ver se está se sentindo mal."Entrou no quarto e aproximou-se da cama; ao ver o lobo, disse:- Eis-te aqui, velho impenitente! Há muito tempo, venho-te procurando!Quis dar-lhe um tiro, mas lembrou-se de que o lobo poderia ter comido a avó e que talvez ainda fosse possível salvá-la; então pegou uma tesoura e pôs-se a cortar- lhe a barriga, cuidadosamente, enquanto ele dormia. Após o segundo corte, viu brilhar o chapeuzinho vermelho e, após mais outros cortes, a menina pulou para fora, gritando:- Ai que medo eu tive! Como estava escuro na barriga do lobo!Em seguida, saiu também a vovó, ainda com vida, embora respirando com dificuldade. E Chapeuzinho Vermelho correu a buscar grandes pedras e com elas encheram a barriga do lobo. Quando este acordou e tentou fugir, as pedras pesavam tanto que deu um trambolhão e morreu.Os três alegraram-se, imensamente, com isso. O caçador esfolou o lobo e levou a pele para casa; a vovó comeu o bolo e bebeu o vinho trazidos por Chapeuzinho Vermelho e logo sentiu-se completamente reanimada; enquanto isso, Chapeuzinho Vermelho dizia de si para si: "Nunca mais sairás da estrada para correr pela floresta, quando a mamãe to proibir!"
Contam mais, que, certa vez, Chapeuzinho Vermelho ia levando novamente um bolo para a vovozinha e outro lobo, surgindo à sua frente, tentou induzi-la a desviar-se do caminho. Chapeuzinho Vermelho, porém, não lhe deu ouvidos e seguiu o caminho bem direitinho, contando à avó que tinha encontrado o lobo, que este a cumprimentara, olhando-a com maus olhos.- Se não estivéssemos na estrada pública, certamente me teria devorado!- Entra depressa, - disse a vovó; - fechemos bem a porta para que ele não entre aqui!Com efeito, mal fecharam a porta, o lobo bateu, dizendo:- Abre, vovó, sou Chapeuzinho Vermelho; venho trazer-te o bolo.Mas as duas ficaram bem quietinhas, sem dizer palavra e não abriram. Então o lobo pôs-se a girar em torno da casa e, por fim, pulou em cima do telhado e ficou esperando que Chapeuzinho Vermelho, à tarde, retomasse o caminho de volta para sua casa, aí então, ele a seguiria ocultamente para comê-la no escuro.A vovó, porém, que estava de atalaia, percebeu o que a fera estava tramando.Lembrou-se que, na frente da casa, havia uma gamela de pedra, e disse à menina:- Chapeuzinho, vai buscar o balde da água em que cozinhei ontem as salsichas e traz aqui, para esta gamela.Chapeuzinho Vermelho foi buscar a água e encheu a gamela. Então o cheiro de salsicha subiu ao nariz do lobo, que se pôs a farejar e a espiar para baixo de onde provinha. Mas tanto espichou o pescoço que perdeu o equilíbrio e começou a escorregar do telhado indo cair exatamente dentro da gamela, onde morreu afogado.Assim, Chapeuzinho Vermelho pôde voltar felizmente para casa e muito alegre, porque ninguém lhe fez o menor mal.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Um homem tinha sete filhos e nunca tinha uma filha, por mais que desejasse. Até que, finalmente, sua mulher lhe deu esperanças de novo e, quando a criança veio ao mundo, era uma menina. A alegria foi enorme, mas a criança era franzina e miúda e, por causa dessa fraqueza, foi preciso que lhe dessem logo os sacramentos. O pai mandou um dos filhos ir correndo até a fonte, buscar água para o batismo. Os outros seis foram atrás do irmão e, como cada um queria ser o primeiro a puxar a água para cima, acabaram deixando o balde cair no fundo do poço. Aí eles ficaram assustados, sem saber o que deviam fazer, e nenhum dos sete tinha coragem de voltar para casa. Foram ficando por lá, sem sair do lugar.
Como estavam demorando muito, o pai foi ficando cada vez mais impaciente e disse: - Na certa ficaram brincando e se esqueceram de voltar, aqueles moleques levados...
Começou a ficar com medo de que a menininha morresse sem ser batizada e, com raiva, gritou:
- Tomara que eles todos virem corvos!
Mal o pai acabou de dizer essas palavras, ouviu um barulho de asas batendo no ar, por cima da cabeça. Levantou os olhos e viu sete corvos negros como carvão. voando de um lado para outro.
Os pais ficaram tristíssimos, mas não conseguiram fazer nada para quebrar o encanto.
Felizmente, puderam se consolar um pouco com sua filhinha querida, que logo recuperou as forças e cada dia ia ficando mais bonita. Durante muito tempo, ela ficou sem saber que tinha tido irmãos, porque os pais tinham o maior cuidado de nunca falar nisso. Mas um dia, ela ouviu por acaso umas pessoas comentando que era uma pena que uma menina assim tão bonita como ela fosse a responsável pela infelicidade dos irmãos.
A menina ficou muito aflita e foi logo perguntar aos pais se era verdade que ela já tinha tido irmãos, e o que tinha acontecido com eles. Os pais não puderam continuar guardando segredo. Mas explicaram que o que aconteceu tinha sido um desígnio do céu, e que o nascimento dela não tinha culpa de nada. Só que a menina começou a ter remorsos todos os dias e resolveu que precisava dar um jeito de livrar os irmãos do encanto. Não sossegou enquanto não saiu escondida, tentando encontrar algum sinal deles em algum lugar, custasse o que custasse. Não levou quase nada: só um anelzinho como lembrança dos pais, uma garrafinha d'água para matar a sede e uma cadeirinha para descansar.
Andou, andou, andou, cada vez para mais longe, até o fim do mundo. Aí, ela chegou junto do sol. Mas ele era quente demais e muito terrível, porque comia os próprios filhos. Ela saiu correndo, fugindo, para bem longe, até que chegou junto da lua. Mas a lua era fria demais e muito malvada e cruel. Assim que viu a menina, disse:- Huuummm sinto cheiro de carne humana...
A menina saiu correndo bem depressa, fugindo para bem longe, até que chegou junto das estrelas.
As estrelas foram muito amáveis e boazinhas com ela, cada uma sentada em uma cadeirinha separada. Então, a estrela da manhã se levantou, deu um ossinho de galinha à menina e disse:
- Sem este ossinho, você não vai conseguir abrir a montanha de vidro. E é na montanha de vidro que estão os seus irmãos.
A menina pegou no ossinho, embrulhou-o com todo cuidado num lenço e continuou seu caminho, até que chegou à montanha de vidro. A porta estava bem fechada, trancada com chave, e ela resolveu pegar o ossinho de galinha que estava guardado no lenço. Mas quando desembrulhou, viu que não tinha nada dentro do pano e que ela tinha perdido o presente que as boas estrelas tinham dado. Ficou sem saber o que fazer. Queria muito salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da montanha de vidro. Então, a boa irmãzinha pegou uma faca, cortou um dedo mindinho, enfiou na fechadura e deu um jeito de abrir a porta. Assim que entrou, um gnomo veio ao seu encontro e lhe perguntou:
- Minha filha, o que é que você está procurando?
- Procuro meus irmãos, os sete corvos - respondeu ela. O gnomo então disse:
- Os senhores Corvos não estão em casa, mas se quiser esperar até que eles cheguem, entre e fique à vontade.
Lá em cima, o gnomo pôs a mesa para o jantar dos corvos, com sete pratinhos e sete copinhos. A irmã então comeu um pouco da comida de cada prato e bebeu um gole de cada copo. Mas no último, deixou cair o anelzinho que tinha trazido.
De repente, ouviu-se nos ares um barulho de gritos e batidas de asas. Então o gnomo disse:
- São os senhores Corvos que estão chegando.
Eram eles mesmos, com fome e com sede. Foram logo em direção aos pratos e copos. E, um por um, foram gritando:
- Quem comeu no meu prato? Quem bebeu no meu copo? Foi boca de gente, foi boca de gente...
Mas quando o sétimo corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu lá de dentro. Ele olhou bem e reconheceu que era um anel do pai e da mãe deles, e disse:
- Quem dera que fosse a nossa irmãzinha, porque aí a gente ficava livre.
Quando a menina, que estava escondida atrás da porta, ouviu esse desejo, apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez. Começaram todos a se abraçar e se beijar e a se fazer mil carinhos e depois voltaram para casa muito felizes.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Uma viúva tinha duas filhas, das quais uma era bela e inteligente, a outra feia e preguiçosa. Mas ela gostava muito mais da feia , porque era a sua própria filha , e a outra tinha de fazer o trabalho da casa e ser a criada da casa. A pobre moça era obrigada a ir todos os dias para a rua, sentar-se na beira de um poço e fiar até que seus dedos sangrassem.Aconteceu, certo dia , que a bobina ficou ensanguentada, e, por isso, ela se debruçou sobre o poço para lavá-la, quando a bobina lhe escapou da mão e caiu dentro do poço. A moça correu chorando para a madrasta e contou-lhe sua desgraça. Esta, porém, lhe passou uma descompostura tão violenta, e foi tão impiedosa, que disse:- Se deixaste a bobina cair no poço, agora vai e traze-a de volta!A pobre moça voltou para o poço, sem saber o que fazer. E, na sua grande aflição, pulou para dentro, para buscar a bobina. Ela perdeu os sentidos, e quando acordou e voltou a si, viu-se num lindo campo inundado de sol e coberto de flores. A moça foi andando por esse campo , até chegar a um forno que estava cheio de pão. E o pão gritava: - Ai, tira-me, tira-me, senão eu queimo , já estou assado há muito tempo. Então ela se aproximou e com a pá tirou os filões de dentro do forno.Continuou o caminho , e chegou a uma árvore que estava coberta de maçãs, que gritava: - Ai, sacode-me , sacode-me, nós, maçãs, já estamos maduras. Então ela sacudiu a árvore até as maçãs caírem e não ficar nenhuma na árvore. E, depois de arrumar todas as maçãs num monte, continuou o caminho.Finalmente, ela chegou até uma casa pequenina, da qual espiava uma velha, que tinha dentes muito grandes e a moça ficou com medo e quis fugir, mas a velha gritou-lhe: - De que tens medo minha filha? Fica comigo. Se fizeres os trabalhos da casa direito estarás muito bem. Só precisas prestar muita atenção ao arrumar minha cama, sacudindo o acolchoado com vontade, até que as penas voem, então cai neve no mundo. Eu sou a Senhora Holle, no mundo: Senhora Flocos de Neve.
Como a velha lhe falava mansamente, a moça criou coragem e entrou na casa para o serviço. Ela cuidava de tudo a contento da velha, e sacudia o acolchoado com vontade, até que as penas voassem como flocos de neve. Por isso tinha uma vida boa junto da velha , comia bem todos os dias.Depois de viver com Senhora Holle por um tempo a menina começou a entristecer.No começo, nem ela mesma sabia o que lhe faltava, mas finalmente percebeu que sentia saudades, embora aqui passasse mil vezes melhor que na sua própria casa, mas mesmo assim ela sentia saudades.Finalmente ela disse à velha:- A saudade me pegou e mesmo que eu passe aqui embaixo tão bem , não posso continuar. Tenho que subir e voltar para os meus.A Senhora Holle lhe disse:- Agrada-me saber que tu queres voltar para casa, e como tu me servistes tão fielmente , eu mesma vou te levar para cima. Ela tomou a mão da moça e levou-a para um grande portão. O portão se abriu e, quando ela estava bem debaixo dele, caiu uma forte chuva de ouro, e o ouro ficou pendurado nela, e ela ficou toda coberta de ouro.- Isto é para ti, porque foste tão diligente , disse a velha e devolveu-lhe também a bobina que caíra no poço. Então o portão se fechou e a moça chegou novamente na superfície da terra e quando chegou ao pátio da casa, o galo que estava pousado no poço gritou:
"Cocoricó, cocoricó,A donzela de ouro está aqui!"
Então a moça entrou em casa, foi bem recebida pela irmã e pela madrasta por estar coberta de ouro.A moça contou tudo o que lhe acontecera , e quando a madrasta soube como ela chegara a tanta riqueza, quis arranjar a mesma sorte para a sua filha feia. Ela deveria sentar-se na beira do poço e fiar, para que a bobina caísse ela precisaria picar seu dedo, mas ela meteu o dedo no espinheiro para ensanguentá-lo, aí jogou a bobina e pulou atrás.Ela chegou, no lindo campo e continuou a caminhar. Chegou perto do forno e o pão gritou para ser retirado do forno pois já estava muito assado. Mas a preguiçosa respondeu:- Não tenho vontade de me sujar, e foi embora.Logo chegou perto da macieira que pediu que ela a sacudisse para as maçãs caírem porque estavam maduras. Mas ela respondeu:- Não faço isso, pois pode cair uma na minha cabeça, e continuou no caminho.Quando chegou à casa de Senhora Holle, não ficou com medo porque já ouvira falar dos seus dentes , e logo se engajou no serviço dela. No primeiro dia foi diligente e fez tudo direito pensando no que ia ganhar.Porém, no segundo dia ela começou a ficar preguiçosa e no terceiro ela nem queria se levantar da cama e nem arrumar a cama de Senhora Holle como devia e as penas não voaram. Aí Senhora Holle cansou-se dela e a despediu. A preguiçosa ficou contente e pensou que agora viria a chuva de ouro .Senhora Holle levou-a até o portão, a moça ficou embaixo dele, mas em vez de ouro foi despejado um grande pote de piche em cima dela.- Isto é a recompensa pelos teus serviços, disse Senhora Holle e trancou o portão.Ela voltou para casa , mas toda coberta de piche e o galo cantou:
"Cocoricó, cocoricó,A donzela suja está aqui!"
Mas o piche ficou grudado nela e não saiu por toda a sua vida!Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um ratinho, um passarinho e uma linguiça, que resolveram viver em sociedade e, juntos, com grande harmonia, governavam a casa. Viveram muito tempo magnificamente, sem aborrecimentos, fazendo prosperar o patrimônio comum. A tarefa do passarinho consistia em voar todos os dias à floresta e catar lenha; ao ratinho cabia baldear água, acender o fogo e pôr a mesa; enquanto que a linguiça era encarregada de cozinhar.Quem vive muito bem, sempre anseia por novidades! Certo dia, o passarinho encontrou, pelo caminho, um outro pássaro e lhe decantou a feliz situação. O outro, porém, chamou-o de tolo, dizendo que, enquanto ele fazia o trabalho pesado, os outros dois passavam boa vida em casa; porque, após ter baldeado a água e ter acendido o fogo, o ratinho ia descansar em seu quarto até a hora de pôr a mesa; a linguiça, por sua vez, ficava a olhar que a comida estivesse bem cozida e, à hora da refeição, mergulhava, enrolava-se, duas ou três vezes no angu ou na verdura e a comida ficava pronta, temperada e salgada. O passarinho chegava com o feixe de lenha, jogava-o no canto e todos iam para a mesa. Depois de comer regaladamente, deitavam-se todos e dormiam de barriga cheia até a manhã seguinte; uma verdadeira vida de príncipes.No dia seguinte, depois que o outro pássaro lhe enchera a cabeça, o passarinho não quis mais ir catar lenha na floresta; desde muito, vinha sendo o criado dos outros, quase palhaço deles; as coisas deviam mudar! Que tentassem outro sistema.Por mais que lhe suplicassem, o rato e a linguiça, o passarinho não cedeu e acabou vencendo. Tiveram de tirar a sorte para ver quem iria; coube à linguiça ir à floresta. O rato então ficou sendo o cozinheiro e o passarinho passou a baldear água.E sabem o que aconteceu?A linguiça foi lenhar, o passarinho acendeu o fogo, o rato preparou o caldeirão; só aguardavam a volta da linguiça com a lenha do dia seguinte para jantar. Mas ela tardava tanto que os outros ficaram preocupados e o passarinho decidiu ir ao seu encontro. Eis que, pouco distante, avistou um cachorro o qual, tendo topado com a pobre linguiça, presa fácil e convidativa, não teve dúvidas em abocanhá-la e engoli-la.O passarinho não deixou de exprobrar asperamente o cachorro pela evidente rapinagem, mas o fez em pura perda; o cachorro alegou ter surpreendido a linguiça com documentos falsos, portanto, tivera de pagar com a vida.O passarinho recolheu, tristemente, a lenha, voltou para casa e contou o que tinha visto e ouvido. Ficaram ambos muito tristes e convencionaram fazer o melhor que pudessem e continuar juntos. Por conseguinte, o passarinho teve que pôr a mesa enquanto o rato preparou o jantar; na hora de servi-lo, quis também fazer como fazia a linguiça, mergulhar e enrolar-se no angu e na verdura a fim de temperá-los. Mas, antes mesmo de chegar ao meio, atrapalhou-se, caiu dentro da panela e perdeu o pelo, a pele e também a vida.Quando o passarinho chegou para servir a mesa, não encontrou mais o cozinheiro. Consternado, atirou a lenha para o ar; chamou, procurou, mas em vão. Por descuido, a lenha caiu no fogo originando um grande incêndio; o passarinho então saiu correndo em busca de água, mas o balde, nessa pressa toda, caiu-lhe no poço; ele caiu junto com o balde e, não conseguindo escapar, morreu afogado.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um príncipe que sentiu desejo de sair pelo mundo e não levou junto consigo senão um criado fiel. Um dia, ele cavalgava em uma grande floresta e, quando escureceu, vendo que não havia por ali nenhuma hospedaria, ficou sem saber onde passaria a noite. Então avistou uma moça que se dirigia a um casebre e, quando ele chegou mais perto, viu que a moça era jovem e bonita. Iniciou a conversa com estas palavras! "Cara criança, será que eu e meu criado podemos encontrar abrigo nesta casa por esta noite?" - "Claro," disse a moça, com voz triste. "Mas eu não aconselho; não entrem ali!" - "Por que não?" perguntou o príncipe. "A moça disse suspirando!" - "Minha madrasta pratica artes maléficas e não simpatiza com estranhos."
Então ele compreendeu que tinha chegado à casa de uma feiticeira, mas, como estava escuro e ele não poderia prosseguir viagem nem tinha medo, entrou. A velha estava sentada em uma poltrona junto à lareira e examinou os estranhos com seus olhos vermelhos. "Boa noite!" murmurou ela, fingindo cordia lidade. "Acomodem-se e descansem." Depois soprou o carvão sobre o qual, em uma grande panela, estava cozinhando alguma coisa. A filha avisou-os de que tomassem cuidado para nada comer e também nada beber naquela casa, pois a velha preparava bebidas maléficas.
Dormiram tranqüilamente até o raiar do dia. Quando se preparavam para a partida e o príncipe já estava sentado em seu cavalo, a velha disse! "Espere um momento, desejo fazer um brinde à sua partida." Enquanto ela foi buscar a bebida, o príncipe partiu a cavalo e o criado, que tinha de prender sua sela, ficou sozinho, quando eis que a feiticeira volta com a bebida. "Leve-a a seu patrão," disse ela, mas naquele momento o copo quebrou e o veneno derramou sobre o cavalo, e era tão poderoso que o animal morreu na hora. O criado correu até seu patrão e contoulhe o que tinha acontecido, mas não queria deixar para trás sua sela e correu de volta para pegála. Mas, quando chegou junto ao cavalo morto, um corvo já estava sentado sobre ele e o devorava. "Quem sabe se hoje encontraremos algo melhor?" disse o criado. Matou o corvo e levou-o consigo.
Percorreram a floresta o dia todo, mas não conseguiram sair dela. Ao cair da noite, toparam com uma hospedaria e nela entraram. O criado deu ao dono o corvo, a fim de que ele o preparasse para o jantar. Eles, porém, tinham ido parar num covil de assassinos; com a escuridão, chegaram doze bandidos e sentiram vontade de matar e roubar os estranhos. Mas, antes de pôr mãos à obra, sentaram-se à mesa, e o dono da hospedaria e a feiticeira se uniram a eles.
Comeram juntos um prato de sopa na qual se tinha picado a carne do corvo. Mal tinham engolido alguns bocados e caíram mortos, pois o corvo os tinha contaminado com o veneno da carne do cavalo. Não restava ninguém naquela casa senão a filha do hospedeiro, que era uma moça honesta e não tinha tido nenhuma participação nas coisas terríveis que ali aconteciam. Ela abriu todas as portas para os estranhos e mostrou-lhes tesouros incontáveis. O príncipe, porém, disse que ela poderia ficar com tudo, pois ele não queria nada, e partiu com seu criado.
Depois de terem cavalgado por muito tempo, chegaram a uma cidade onde havia uma princesa bela mas muito convencida; ela tinha feito proclamar que quem propusesse um enigma que ela não fosse capaz de decifrar se tornaria seu marido. Mas, se ela o decifrasse, ele seria decapitado. Ela tinha três dias para refletir; mas era tão esperta que sempre acabava decifrando o enigma antes do prazo. Já nove tinham morrido daquela maneira, quando chegou o príncipe e, deslumbrado com a beleza da moça, quis arriscar sua vida.
Então, apresentou-se diante dela e propôs seu enigma! "O que é?: um não matou nenhum, mas matou doze." Ela não sabia do que se tratava, pensou e pensou, mas não conseguiu desvendar o enigma. Consultou seu livro de enigmas, mas nada encontrou ali. Em resumo, sua esperteza chegara ao fim. Não sabendo mais o que fazer, mandou sua criada ir até o quarto do senhor para espioná-lo enquanto dormia! talvez ele falasse durante o sono e revelasse o enigma... Mas o esperto criado tinha-se deitado na cama no lugar de seu patrão e, quando a criada chegou, arrancou-lhe o manto em que ela estava envolvida e expulsou-a do quarto a chicotadas.
Na segunda noite, a princesa enviou sua camareira na esperança de que ela tivesse melhor sorte. Mas o criado também arrancou-lhe o manto e expulsou-a a chicotadas. Na terceira noite, o príncipe julgou-se em segurança e deitou-se em sua cama. Eis que vai até lá a princesa em pessoa, envolta num manto cinzento, e se senta perto dele. Quando pensou que ele estava dormindo e sonhando, pôs-se a lhe falar, na esperança de que ele lhe respondesse durante o sono, como muitos fazem.
Mas ele estava bem acordado e compreendeu e ouviu tudo muito bem. Ela perguntou! "Um matou nenhum, o que isso significa?" - "Um corvo, que se alimentou de um cavalo morto e envenenado e por isso morreu," foi a resposta do príncipe. "E matou doze... como assim?" perguntou a princesa. "São doze assassinos que provaram do corvo e por isso morreram."
Ao saber a chave do enigma, a princesa quis sair de fininho, mas o príncipe segurou-lhe o manto bem firmemente, de tal forma que ela teve de deixá-lo para trás. Na manhã seguinte, a princesa fez saber que decifrara o enigma, mandou chamar os doze juizes e disse a eles qual era a solução. Mas o jovem pediu permissão para falar e disse! "Ela foi de fininho até meu quarto à noite e me perguntou, caso contrário não teria decifrado o enigma." Os juizes pediram uma prova. Então o criado trouxe os três mantos. Quando os juizes viram o manto cinzento que a princesa costumava vestir, disseram: "Que se borde o manto com ouro e prata! Será seu vestido de casamento."Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.