Contos de Grimm
Os Contos de Fadas dos Irmãos Grimm, originalmente compilados por Jacob e Wilhelm Grimm, são uma coleção de contos populares atemporais que encantam leitores há séculos. Estes contos são um verdadeiro tesouro de folclore, apresentando histórias de coragem, magia e moralidade que ressoam através das gerações. Desde clássicos como ”Cinderela”, ”Branca de Neve” e ”João e Maria”, até joias menos conhecidas como ”O Pescador e sua Mulher” e ”Rumpelstiltskin”, cada história oferece um vislumbre do rico tecido da tradição oral europeia. Os Contos de Fadas dos Grimm são caracterizados por seus personagens vívidos, lições morais e frequentemente tons sombrios, refletindo as duras realidades e os elementos fantásticos de seus contextos históricos. Seu apelo duradouro reside em sua capacidade de entreter, ensinar e inspirar maravilha, tornando-os um alicerce da literatura infantil e uma fonte de fascínio para estudiosos do folclore e da narrativa.
Episodes
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um irmãozinho e uma irmãzinha que muito se amavam. Como lhes falecera a mãe, tinham eles uma madrasta que os detestava e que, às ocultas, lhes fazia todo o mal possível.Um dia, os dois irmãozinhos estavam brincando com outras crianças num campo em frente da casa; ao lado desse campo, havia uma lagoa que chegava até ao pé da casa.As crianças brincavam aí de pegador, cantando de vez em quando:
Um. dois. deixa-me correr;eu te darei ao meu passarinho.Meu passarinho cortará o capinzinho.Darei o capinzinho à cabrinha,A cabrinha dará leitinho.Darei o leitinho ao padeiro,O padeiro dará pãozinho.Darei o pãozinho ao gatinho,O gatinho pegará o ratinho.O ratinho pendurarei no fumeiro;e eu vou segurar.
E, assim cantando, formavam uma roda e aquele em quem caía a palavra "segurar," tinha de sair correndo e os outros o perseguiam e o seguravam.Brincavam todos alegres e despreocupados, correndo atrás um dos outros; a madrasta, que estava à janela, observava-os e seu coração tremia de raiva contra os irmãozinhos. E, como era versada em feitiçarias, lançou um feitiço contra eles, transformando o irmãozinho num peixe e a irmãzinha num cordeirinho.O peixinho nadava de cá para lá dentro da lagoa, mas estava muito triste. O cordeirinho andava de cá para lá no campo e, também, estava muito triste; não comia nada, nem sequer tocava nos tenros fios de erva.Assim se passou algum tempo. Certo dia, chegaram ao castelo algumas pessoas vindas de fora. A perversa madrasta pensou de si para si: "Eis uma ótima ocasião para livrar-me deles." Então chamou o cozinheiro e disse-lhe:- Vai ao campo, pega o cordeirinho o mata-o, depois prepara-o para a ceia, pois não temos outra coisa a oferecer aos hóspedes.O cozinheiro foi buscar o cordeirinho, levou-o para a cozinha e amarrou-lhe as perninhas; o pobre bichinho suportou tudo isso com a maior paciência. No momento, porém, em que o cozinheiro pegou no facão e se pôs a afiá-lo no cimento da soleira da porta, para cravar-lho no coração, o cordeirinho viu um peixinho nadando de cá para lá, bem em frente ao escoadouro da água, e olhar para ele intensamente.Era o irmãozinho que, tendo visto o cozinheiro agarrar o cordeirinho e levá-lo para a cozinha, seguiu-o dentro da lagoa, nadando até junto da casa. O cordeirinho então gritou-lhe:
- Ai, querido irmãozinho!como me dói o coraçãozinho.O cozinheiro está afiando o facão,para me transpassar o coração.
O peixinho respondeu-lhe:
- Ó irmãzinha querida,que aí no alto estás;quão grande é a minha dor, não sabes,como ninguém dentro do lago o sabe.
O cozinheiro, ouvindo o cordeirinho falar e dizer ao peixinho palavras tão tristes, espantou-se e logo desconfiou que não se tratava de um verdadeiro cordeirinho e sim de alguém encantado por obra da cruel madrasta. Então disse:- Tranquiliza-te, meu pobre bichinho, eu não te matarei.Foi buscar um outro animal qualquer no campo e cozinhou-o para os hóspedes. Em seguida levou o cordeirinho para a casa de uma bondosa camponesa, contando- lhe tudo o que vira e ouvira.Deu-se o caso que essa camponesa era, justamente, a que fora ama de leite da irmãzinha, e não teve dificuldades em adivinhar quem era o pobre bichinho.Pegou nele, carinhosamente, e levou-o à casa de uma bruxa que morava por perto. A bruxa fez uma benze- dura sobre o cordeirinho e depois sobre o peixinho e ambos readquiriram a forma humana.Depois conduziu-os ao meio da floresta, onde havia uma linda casinha, e os dois irmãozinhos passaram a viver lá, sozinhos, mas tranquilos e felizes.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
- Aonde vais?- Para Vale.- Eu para Vale, tu para Vale; sim, sim, vamos, pois.- Tens, também, um marido? Como se chama?- Tito.- Meu marido Tito, teu marido Tito; eu vou para Vale, tu vais para Vale; bem, bem, vamos juntas.- Tens, também, um filho? Como se chama teu filho?- João.- Meu filho João, teu filho João; meu marido Tito, teu marido Tito; eu vou para Vale, tu vais para Vale; bem, bem, vamos, pois, juntas.- Tens um campo? Como se chama teu campo?- Matão.- Meu campo Matão, teu campo Matão; meu filho João, teu filho João; meu marido Tito, teu marido Tito; eu vou para Vale, tu vais para Vale; bem, bem, vamos pois, juntas.- Tens, também, um criado? Como se chama teu criado?- Faça-bem-feito.- Meu criado Faça-bem-feito, teu criado Faça-bem-feito; meu campo Matão, teu campo Matão; meu filho João, teu filho João; meu marido Tito, teu marido Tito; eu vou para Vale, tu vais para Vale; bem, bem, vamos, pois, juntas.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Certa vez, uma jovem de Brakel foi à capela de Santana, ao pé do Castelo dos Gigantes, e, como desejava muito casar-se, julgando que na capela não havia ninguém, pôs-se a cantar:
- Oh, querida Santana,Ajuda-me a casar;Tu já o conheces,Ele mora perto do Bazar.É mesmo aquele loirinho,de olhos azuizinhos.Ajuda-me, querida Santana!
Mas o sacristão estava atrás do altar e ouviu tudo; com uma voz fina e zangada, gritou:- Não o terás, não o terás!A moça, julgando que fosse a Virgem Maria menina, ao lado de Santana, quem lhe dirigia a palavra, gritou-lhe, muito zangada:- Perepepé, feia bisbilhoteira, fecha o bico e deixa tua mãe falar!Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Entre a aldeia de Werrel e a aldeia de Soist havia um homem chamado Nicolau, o qual tinha três filhos: um era cego, o outro era coxo e o terceiro apresentava-se completamente nu.Um dia, saíram os três para o campo e avistaram uma lebre. O coxo perseguiu-a, o cego alvejou-a e o nu guardou-a no bolso. Depois, chegaram à margem de um grande lago e viram três botes: um vogava, o outro afundava-se e o terceiro não tinha fundo. E, neste sem fundo, embarcaram os três.Depois chegaram a uma grande floresta, onde viram uma enorme árvore, dentro de cujo tronco havia uma grande capela; na capela encontravam-se um bode selvagem que servia de sacristão e um penitente feito pastor, os quais esparramavam a água benta; vendo os três compadres, espancaram-nos tanto, que os deixaram moídos.
Feliz o que conseguever-se livre de compadres!
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Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Certa ocasião, a Índia oriental estava sitiada pelo inimigo, que não queria levantar o cerco se antes não lhe pagassem a vultosa soma de seiscentas moedas de ouro.Os habitantes da cidade estavam amargurados, pois não possuíam esse dinheiro. Então resolveu-se lançar um apelo, declarando que, quem conseguisse arranjá-lo. seria nomeado Governador da cidade.Ora, existia lá um pobre pescador, que vivia com o filho a pescar à beira-mar. Aproximaram-se dele os inimigos e aprisionaram-lhe o filho, dando em troca, ao pai, a quantia de seiscentas moedas de ouro. Este foi à cidade e entregou às autoridades o dinheiro recebido. Com isso os inimigos retiraram-se, e o pescador foi nomeado Governador, sendo decretado que aquele que não dissesse: "Senhor Governador," seria logo enforcado.O filho do pescador conseguiu fugir das mãos do inimigo e foi ter a uma grande floresta, bem no alto de uma montanha. A montanha abriu-se e ele penetrou num castelo mal-assombrado, onde as cadeiras, os bancos, as mesas, estavam todos cobertos de luto.Logo chegaram três princesas, completamente pretas, as quais disseram ao rapaz que não tivesse medo; não lhe fariam nenhum mal e ele poderia libertá-las. O rapaz prontificou-se a libertá-las com a maior boa vontade, contanto que lhe dissessem como o poderia fazer.As princesas disseram-lhe que não devia olhá-las, nem falar com elas durante um ano inteiro, e, se por acaso precisasse de alguma coisa, podia pedir em voz alta sem dirigir-se a ninguém; se elas pudessem, atenderiam aos seus pedidos.Depois de algum tempo que se achava no castelo, o jovem pediu para ir visitar o pai; as princesas disseram que podia ir, mas que devia vestir um determinado traje, levar certa bolsa de dinheiro e voltar ao cabo de oito dias.Em seguida, ele foi carregado pelos ares e dentro em breve encontrou-se naquela cidade da índia oriental.Dirigiu-se, imediatamente, à choupana de seu pai e, não o encontrando lá, perguntou a algumas pessoas onde tinha ido parar o pobre pescador. Disseram-lhe, então, que, não falasse daquele modo, se não queria acabar dependurado numa forca. O rapaz foi ter com o pai e disse-lhe:- Pescador, como subiste até este posto?O pai respondeu:- Não faleis desse modo; se as autoridades da cidade vos ouvirem, sereis enforcado.O filho, porém, continuava no mesmo tom, e então levaram-no à forca. Quando estava lá, pediu:- Meus senhores, permiti que vá ainda uma vez à choupana do pescador.Deram-lhe a permissão e ele foi. Depois vestiu o velho blusão de pescador e voltou a apresentar-se às autoridades, dizendo:- Eis-me aqui, senhores! Sou ou não sou o filho do pobre pescador? Até há pouco, ganhei o pão para o sustento de meus pais.Então reconheceram-no e pediram-lhe desculpas pelo mau trato; em seguida, levaram-no à casa e lá ele narrou tudo quanto lhe havia acontecido: que fora ter a uma grande floresta, no alto de uma montanha, e esta se abrira, dando-lhe entrada num castelo encantado, dentro do qual tudo era preto, e que apareceram três princesas pretas, com uma nesguinha apenas branca no rosto, as quais lhe disseram que não tivesse medo e que ele as podia libertar.A mãe do jovem, ouvindo isso, disse que talvez algo de tenebroso se ocultasse por baixo disso tudo. Aconselhou ao filho que levasse uma vela benta e deixasse pingar três gotas de cera quente no rosto das princesas.O rapaz voltou ao castelo encantado, mas sentia um grande medo. Contudo, pingou a cera no rosto das princesas adormecidas e elas ficaram meio brancas; puseram-se todas de pé e gritaram:- Cão maldito, nosso sangue clamará vingança sobre ti! Agora não nasceu ninguém no mundo capaz do nos libertar e não nascerá mais ninguém. Nós temos três irmãos acorrentados por sete correntes, eles te estraçalharão.Nisso ouviu-se um ruído infernal no castelo e o rapaz teve apenas o tempo de pular pela janela, fraturando uma perna ao cair. Então o castelo abismou-se no seio da montanha, esta fechou-se novamente e ninguém jamais soube onde ele havia existido.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um príncipe. Não sabemos nem em que tempo, nem o lugar onde esta acontece. Sabemos que ele vivia em um reino outrora equilibrado e próspero, com seu pai, o rei, sua mãe, a rainha, e toda a corte. Atras do castelo havia uma grande floresta, na qual o rei gostava muito de caçar. Mas um dia aconteceu que um de seus caçadores dela não regressou. No dia seguinte outros dois foram a sua busca, mas nenhum retornou. A partir daí a floresta foi abandonada por ser muito perigosa, e ninguém mais pôde entrar lá. Isto durou um longo tempo. Até que um certo dia apareceu um caçador desconhecido que se propôs a livrar o reino da maldição. Ele entrou na floresta com seu cão, e ambos seguiram um animal selvagem até um laguinho O caçador foi, então, buscar outros homens que, com baldes, esvaziaram o laguinho encontrando no fundo um homem selvagem, cujo corpo era marrom como o ferro enferrujado, e cujos cabelos iam até os joelhos. Eles, então, o amarraram e o levaram para o rei, que o prendeu em uma imensa jaula de ferro, a qual colocou no jardim do castelo, proibindo sob pena de morte que o libertassem. A chave da jaula o rei deu para a rainha guardar. Depois disso, qualquer um podia ir sem perigo a floresta.
O rei tinha um filho ainda criança, que estava brincando no jardim com sua bola de ouro quando, acidentalmente, ela rolou para dentro da jaula do Homem de Ferro. O príncipe, então, correu até a jaula e pediu a sua bola de volta, ao que o Homem de Ferro respondeu, "não, até que você abra a minha porta." Então o príncipe disse, "não, isto eu não posso porque meu pai proibiu." Na manhã seguinte a cena se repete tal qual a anterior. Mas na terceira manhã, o príncipe chega até a jaula, dizendo ao Homem de Ferro: "mesmo que eu quisesse, não poderia abrir a porta, pois eu não a chave." Ao que o homem selvagem respondeu "ela esta debaixo do travesseiro de sua mãe, e você pode pegá-la se quiser." Assim o príncipe, querendo muito sua bola de volta, pegou a chave e libertou o homem selvagem. Quando a porta da jaula abriu, o menino apertou o seu dedo. O Homem de Ferro, então, devolveu a bola e fugiu. Quando o menino se deu conta disso chamou o homem selvagem dizendo, "homem selvagem, não vá embora ou baterão em mim!" O homem então voltou e, colocando o menino em seus ombros, seencaminhou para a floresta a passos largos. Tão logo o rei chegou e viu a jaula vazia perguntou à rainha o que havia acontecido. A rainha, então, chamou seu filho, mas ninguém respondeu. Então o rei mandou as pessoas irem procurá-lo nos campos, mas ninguém o encontrou. Diante disso o rei imaginou o que havia acontecido, e uma grande tristeza tomou conta do reino.
Enquanto isso, o homem selvagem atingia seus antigos domínios e, colocando o menino no chão, disse-lhe: "Quanto a seu pai e sua mãe você nunca mais os verá novamente, mas eu o manterei comigo, pois você me libertou. Por isso eu tenho pena de você, e se você fizer tudo que eu disser, será bem tratado, pois eu tenho muitos tesouros e dinheiro, na verdade, mais do que qualquer um no mundo."
Esta noite o Homem de Ferro deixou o príncipe dormir em um macio leito musgo e, na manhã seguinte, o levou até um poço e disse: "Veja, esta água dourada é brilhante e clara como um cristal, por isso você deve sentar e cuidar para que nada caia nela, ou ela será desonrada. Sempre ao final do dia eu virei para ver se você obedeceu as minhas ordens." Assim o menino sentou na margem do poço, mas o seu dedo começou a doer e, para aliviar a dor, ele o colocou na água. Ele rapidamente o tirou, mas veja! o dedo estava dourado. Apesar da dor ele esfregou o dedo, mas foi em vão, pois o ouro não saiu. Quando o Homem de Ferro retornou, perguntou ao menino: "O que aconteceu ao meu poço?" - "Nada , nada," respondeu o menino, escondendo o dedo nas costas. Mas o homem disse: "você mergulhou o dedo na água, desta vez eu o perdoarei, apenas cuide para que isto não aconteça novamente."
No dia seguinte o menino reassumiu o seu posto ao nascer do sol. Mas logo seu dedo começou a doer novamente, mas desta vez ele o esfregou na cabeça, arrancando, acidentalmente, um fio de cabelo, o qual caiu na água. O menino pegou o cabelo rapidamente, mas ele havia se transformado em ouro. Mais tarde, o Homem de Ferro retornou consciente do que havia acontecido: "você deixou um fio de cabelo cair no poço," disse ele ao menino. Mas mais uma vez eu desculparei sua falta, só que, se isto acontecer novamente o poço será desonrado e você não poderá permanecer comigo."
Na terceira manhã, o menino tomou o seu lugar novamente e não moveu mais o seu dedo, apesar da dor. Entretanto, o tempo passava tão devagar, que ele sentiu vontade de ver sua face refletida na água. Mas quando ele se abaixou, o seu cabelo caiu no poço. Rapidamente ele levantou a cabeça, mas seus cabelos foram transformados em ouro e reluziam à luz do sol. Você pode imaginar o quanto assustado o pobre menino ficou! Assim, ele tomou o seu lenço e o amarrou envolta da cabeça, para que ninguém pudesse ver-lhe o cabelo. Mas assim que o Homem de Ferro retornou, falou ao menino: "desamarre seu lenço!," pois ele sabia o que havia acontecido. Então o cabelo dourado caiu sobre os ombros do rapaz, que em vão tentou se desculpar. "Você não passou na prova," disse o Homem de Ferro, "e não deve mais permanecer comigo. Vá para o mundo, e lá você verá como é a pobreza Mas porque o seu coração é inocente, e eu gosto de você, lhe garantirei um favor: quando você tiver em dificuldades venha até esta floresta, chame meu nome e eu virei ajudá-lo. Meu poder é grande e eu tenho ouro e prata em abundância."
Após ter sido reprovado nas provas a que lhe propôs o Homem de Ferro, o príncipe foi expulso da floresta e devolvido ao mundo. Mas ele não voltou para o castelo de seus pais, mas seguiu pelo mundo em busca de seu destino, viajando por estradas difíceis atrás de seu sustento. Finalmente ele encontrou trabalho na corte de um rei. Como não havia aprendido nada que fosse de útil, o cozinheiro o tomou como seu auxiliar. Ali ele tinha de catar lenha, apanhar água para o fogo e depois limpar as cinzas. Um dia nosso herói foi encarregado de levar um prato até a mesa do rei, e como não quisesse que seu cabelo dourado fosse visto, entrou na sala do trono com um boné na cabeça. "Quando você vier até a mesa real," exclamou o rei assim que viu o menino, "você deve tirar seu boné." - "Ah, sua majestade," respondeu o príncipe, "eu não devo, pois tenho uma terrível doença em minha cabeça." Então o rei chamou o cozinheiro a sua presença e o repreendeu por ter tomado tal jovem a seu serviço. Por fim, ordenou que o cozinheiro dispensasse o rapaz. Como o cozinheiro teve pena dele, trocou-o pelo menino do jardineiro.
Agora o príncipe tinha que plantar e semear, cavar e limpar o pátio, não importando o tempo, a chuva ou o vento.
Em um dia de verão ele estava trabalhando, quando tirou seu boné para refrescar a cabeça. Neste momento, o sol brilhou em seu cabelo e seu brilho foi refletido no espelho do quarto da princesa. Ela correu para ver o que tinha provocado tal reflexo, e, vendo o rapaz do jardineiro, chamou-o para lhe trazer um buque de flores. O príncipe, então, tomou um ramalhete de flores do campo e o levou à princesa. Chegando aos aposentos da princesa, ela lhe ordenou que tirasse o boné, ao que ele responde dizendo que sua cabeça é muito feia de se ver. Mesmo assim ela tirou o boné, e sua enorme cabeleira dourada lhe caiu sobre os ombros. O rapaz tentou fugir, mas a princesa o deteve e lhe deu um punhado de moedas, as quais o príncipe deu aos filhos do jardineiro, pois ele despreza dinheiro. Esta cena se repetiu mais duas vezes, entretanto a princesa não mais conseguiu lhe tirar o boné.
Em seguida, o reino entrou em guerra, e o rei reuniu todo o seu povo para lutar, pois o inimigo era muito poderoso e tinha um imenso exército. O rapaz, então, pediu um cavalo para ir à batalha, mas, sendo ainda muito pequeno, os outros não o levaram a sério e lhe deram um cavalo coxo. Assim ele foi com seu cavalo até a floresta e lá chamou pelo Homem de Ferro tão alto que as árvores ecoaram. Logo que o Homem de Ferro apareceu e perguntou o que ele queria, o príncipe respondeu, "eu desejo um cavalo forte, pois vou para uma batalha." - "Isto você terá, respondeu o homem selvagem, e até mais do que você deseja." E vindo por entre as árvores apareceu um pagem trazendo um cavalo fogoso e impetuoso. Atras do garanhão apareceram uma tropa de guerreiros, todos vestidos de ferro, com espadas que brilhavam à luz do sol. O príncipe desmontou seu cavalo coxo e montando o garanhão foi para a batalha a frente de sua tropa. Chegando lá encontrou o exército do rei quase vencido. Então o jovem príncipe caiu sobre seus inimigos como uma tempestade de granizo, exterminando-os a todos. Mas ao invés de levar sua tropa diante do rei, ele voltou à floresta e devolveu tudo ao Homem de Ferro, tomando novamente para si seu cavalo coxo e voltando para o castelo, sem que ninguém soubesse de seus feitos.
Algum tempo depois, o rei promoveu um grande festival, na expectativa de que o cavaleiro que salvara o reino aparecesse. O festival deveria durar três dias, em cada um dos quais a princesa lançaria uma maçã de ouro que seria disputada pelos cavaleiros. Diante dessa situação, o príncipe foi até o Homem de Ferro e pediu condições para que pudesse conquistar as maçãs de ouro. Assim, no primeiro dia, o Homem de Ferro vestiu o príncipe com uma armadura vermelha e lhe deu um cavalo avermelhado para montar. Logo que obteve a maçã na disputa com os outros cavaleiros, o príncipe, ao invés de se apresentar ao rei, fugiu.
No segundo dia, o Homem de Ferro vestiu o jovem como um cavaleiro branco e lhe deu de montaria um cavalo branco. Novamente, somente ele pôde obter a maçã de ouro. O rei ficou furioso quando o cavaleiro fugiu com o prêmio pela segunda vez, e proclamou que no dia seguinte, se o cavaleiro se recusasse a se apresentar, seria perseguido e morto.
No terceiro dia, o príncipe recebeu do Homem de Ferro uma armadura negra e um garanhão negro, e, novamente, conquistou a maçã quando ela foi jogada. Ele foi perseguido, e um dos perseguidores chegou tão perto que conseguiu feri-lo com a ponta da espada. Em sua fuga o cavaleiro negro deixou cair seu elmo e sua cabeleira dourada foi vista. Os cavaleiros então retornaram e contaram ao rei o que tinham visto.
No dia seguinte a princesa perguntou ao jardineiro sobre seu menino, este respondeu que o rapaz estava no festival, e que ontem à noite retornou e deu para seus filhos três maçãs de ouro que ele ganhou lá.
Quando o rei soube disto mandou que o jovem fosse trazido a sua presença, e ele apareceu como costumava andar, com seu boné na cabeça. Mas a princesa veio até ele e lhe tirou o boné, e seus cabelos dourados caíram sobre seus ombros. Ele pareceu tão bonito que todos ficaram impressionados. Então o rei perguntou, "Você é o cavaleiro que apareceu no festival usando cada dia uma cor diferente e que ganhou as três maçãs de ouro? " - "Sim," ele retrucou, "e estas são as maçãs," e assim dizendo ele tirou-as de sua bolsa e entregou-as ao rei. "Se você quiser outra prova," continuou ele, "eu lhe mostrarei o ferimento que os seus me fizeram quando eu fugia; mas eu sou também o cavaleiro que obteve a vitoria sobre seus inimigos." - "Se você pode fazer estes feitos," disse o rei, "você não é um jardineiro, diga-me, quem é seu pai?" - "Meu pai é um poderoso rei, e ouro eu tenho não só o quanto eu deseje, mas muito mais do que pode ser imaginado," disse o jovem príncipe. "Eu reconheço," disse o rei, "que estou em débito com você, posso fazer alguma coisa para demonstrar isto?" - "Sim, se você me der sua filha como esposa!," replicou o jovem. A princesa sorriu e disse: "ele não fez rodeios, eu tinha visto há muito tempo que ele não era um simples menino do jardineiro por causa de seu cabelo dourado," e com essas palavras ela se aproximou e beijou-o. Assim foi celebrado o casamento, e para ele vieram os pais do príncipe, que há muito tempo tinham dado seu filho como morto. De repente, enquanto todos estavam na festa, uma musica foi ouvida, as portas se abriram e um magnifico rei entrou, seguido de uma enorme corte. Ele se aproximou do príncipe, abraçou-o e disse: "Eu sou o Homem de Ferro, que você salvou de sua natureza selvagem, todos os tesouros que me pertencem são, daqui em diante, sua propriedade!"Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, uma mulher que tinha uma filha e uma enteada. Certo dia, estavam as três ceifando feno no campo e delas se aproximou o bom Deus, disfarçado de mendigo, e perguntou: -- Por onde passa a estrada que vai à aldeia? -- Se queres sabê-lo, vai procurá-la! -- respondeu grosseiramente a mãe. E a filha acrescentou: -- Se receias não encontrá-la, arranja um guia. A enteada, porém, interveio dizendo: -- Vem, pobre homem, eu te conduzirei até lá; segue-me. O bom Deus, então, encolerizou-sem com a mãe e a filha; deu-lhes as costas e, como castigo pela sua ruindade, determinou que se tornassem pretas como a noite e feias como o pecado. Ao passo que à enteada dispensou grande magnanimidade. Acompanhado por ela, chegou à aldeia, onde a abençoou e disse-lhe: -- Podes pedir três coisas, que eu tas concederei. A môça pediu: -- Quisera ser tão bela e clara como o sol. Instantâneamente, tornou-se bela e clara como o sol. -- Depois, gostaria de ter uma bôlsa que nunca se esvaziasse. O bom Deus deu-lhe a bôlsa, dizendo: -- Não te esqueças da coisa melhor! Então a môça acrescentou: -- A terceira coisa que desejo, é ir para céu quando morrer. Isto, também, lhe foi concedido; e o bom Deus despediu-se dela e se afastou. Quando a madrasta com a filha chegaram a casa e verificaram que estavam pretas como o carvão e muito feias, ao passo que a enteada estava linda e alva como um dia ensolarado, seus corações transbordaram de maldade e não cogitavam outra coisa se não impingir-lhe maiores castigos ainda. A enteada tinha um irmão chamado Reginaldo, ao qual amava extremamente. Contou, pois, ao irmão tudo que se passara. Certo dia, Reginaldo disse à irmã: -- Querida irmãzinha, quero pintar teu retrato ára tê-lo sempre diante dos olhos. Minha ternura por ti é tão grande, que eu gostaria de ver-te a todos os momentos. A irmã concordou, dizendo: -- Peço, te, porém, que nunca mostres a ninguém. O irmão fêz-lhe o retrato e o pendurou na parede do quarto, no castelo real, pois, como cocheiro do rei, habitava lá. E, todos os dias, detinha-se diante do retrato, dando graças a Deus por ter-lhe concedido uma irmã tão bela e tão boa. Isso se passava justamente, na ocasião em que o rei, seu amo, havia perdido a espôsa, a qual fôra tão linda, que não se podia encontrar outra que se lhe assemelhasse, e isso punha o rei desolado. Entretanto, os criados do palácio observaram que o cocheiro detinha-se diàriamente diante daquele belíssimo retrato e, cheios de inveja, foram contar ao rei. O soberano ordenou que lhe levassem o retrato e, vendo que se assemelhava muito à sua falecida espôsa, sendo mesmo muito mais bonita, enamorou-se perdidamente do original. Mandou chamr o cocheiro e perguntou-lhe quem era a jovem retratada. O cocheiro disse que era irmã dêle; então o rei decidiu que não queria outra mulher se não ela. Deu ao cocheiro uma explêndida carruagem e cavalos, suntuosos trajes dourados, e mandou que fôsse buscar a jovem que seria sua espôsa. Quando Reginaldo chegou à casa dela com a mensagem, a irmã ficou radiante de alegria, mas a madrasta e sua filha, loucas de inveja pela sorte do outro, ficaram furiosas. A filha, tremendamente enfurecida, disse à mãe: -- De que servem tôdas as tuas artes, se não consegues proporcionar-me igual felicidade? -- Não te exaltes, -- respondeu a mãe. -- hei de fazer com que a sorte recaia sôbre ti. Por meio de suas magias, ofuscou a vista do cocheiro, deixando-o quase cego; obstruiu os ouvidos da môça, deixando-a meia surda. Em seguida, embarcaram na carruagem, em primeiro lugar a noiva em seus trajes preciosos, depois a madrasta e a filha. Reginaldo ia na boléia, dirigindo os cavalos. Depois de percorrerem em bom trecho do caminho, o cocheiro disse: --Cobre-te bem, minha irmãzinha, que não te molhe a chuvinha, nem o vento te traga poeira, tens de chegar bela e faceira para seres a rainha! A noiva, meio surda, perguntou: -- O que disse meu irmão? -- Êle disse que deves tirar êsse traje dourado e dá-lo à tua irmã. A môça despiu o rico vestido e entregou-o à moça preta, que lhe deu em troca um capote velho e feio. Depois de andar mais algum tempo, o irmão tornou a dizer:
--Cobre-te bem, minha irmãzinha, que não te molhe a chuvinha, nem o vento te traga poeira, tens de chegar bela e faceira para seres a rainha! A noiva perguntou, outra vez, e a velha respondeu: -- Êle disse que deves tirar teu toucado de ouro e dá-lo à tua irmã. Ela tirou o toucado de ouro e entregou-o à môça preta, ficando sem nada na cabeça. Continuaram mais um bom trecho; e o irmão tornou a repetir:
--Cobre-te bem, minha irmãzinha, que não te molhe a chuvinha, nem o vento te traga poeira, tens de chegar bela e faceira para seres a rainha! E a noiva tornou a perguntar: -- O que disse meu irmão? -- Êle disse que tens de olhar fora da janela da carruagem. Estavam, justamente, atravessando uma ponte sôbre um rio caudaloso; assim que a jovem se debruçou para fora da janela, as duas megeras deram-lhe um empurrão, fazendo-a cair dentro do rio. Mas, apenas mergulhou na água, veio à tona uma patinha alva como a neve, que foi nadando vio acima. O irmão nada percebera e continuou dirigindo a carruagem, até chegarem ao castelo. Lá chegando, conduziu a môça preta ao rei, pensando ser sua própria irmão, pois tinha os olhos tão ofuscados que nada via além do brilho das roupas douradas. Quando o rei viu a espantosa feiúra daquela que supunha sua noiva, ficou de tal modo enfurecido que mandou atirar o cocheiro numa gruta cheia de serpentes. Entretanto, a velha conseguiu tão bem enredar e estontear o rei com suas artes, que êle conservou junto de si a mãe e filha; melhor, achou esta perfeitamente suportável e acabou casando-se com ela. Uma noite, em que a negra espôsa estava sentada sôbre os joelhos do rei, veio do rio, nadando por um rêgo até a cozinha, a linda pata branca, que disse ao môço da limpeza: -- Rapazinho, acende o fogo, para as minhas penas enxugar um pouco.
O môço obedeceu, acendendo o fogo na lareira. A patinha sentou-se ao lado, espanejou e alisou bem as penas com o bico. E, enquanto estava lá refazendo-se a calor do fogo, perguntou: -- Que faz meu irmão, Reginaldo?
O môço ajudante respondeu:
-- Está prêso, o pobrezinho, na furna em que as cobras têm o ninho.
A patinha tornou a perguntar:
-- E que faz lá em cima, a negra feiticeira?
O môço respondeu: -- Entre os braços do rei, ela aconchegada está. A patinha disse:
-- Oh, Deus, tem pena de mim!
e, agradecendo ao rapaz, saiu pelo rêgo e foi nadando para o rio. Ela voltou na noite seguinte e na terceira, fazendo sempre as mesmas perguntas. O rapaz, preocupado com aquilo, quis desabafar e foi contar tudo ao rei; êste, porém, quis ver com seus próprios olhos se era verdade, e na noite seguinte desceu até a cozinha. Assim que viu a patinha botar a cabeça de fora para entrar em casa, tomou da espada e cortou-lhe o pescoço. No mesmo instante, ela tranformou-se na môça mais linda dêste mundo; tal qual o retrato que seu irmão fizera. O rei ficou encantado e feliz; mandou logo que trouxessem as mais belas roupas para a linda jovem, que estava tôda molhada, e mndou que as vestisse. Assim que ficou prnta, ela contou-lhe como fôra cruelmente ludibriada e atirada para dentro do rio. E, antes de mais nada, implorou ao rei que mandasse retirar o querido irmão da gruta das serpentes. Depois de atender ao pedido dela, o rei foi ao quarto onde se encontrava a velha feiticeira e perguntou-lhe: -- Que castigo sugeres para uma pessoa que fêz uma coisa dessas? E narrou tôda a história que acabara de ouvir. A velha estava tão deslumbrada com a sua posição, que nem lhe ocorreu tratar-se do seu próprio caso, e, com a maior naturalidade, respondeu: -- Oh, essa pessoa merece que a dispam completamente e a coloquem dentro de um barril forrado de pontas de pregos, ao qual deve ser atrelado um cavalo que o arraste de uma ponta a outra da cidade. E tal foi a sorte dela e da filha preta. Em seguida, o rei desposou a linda môça do retrato. Recompensou o irmão com grandes honrarias e riquezas, vivendo, depois, todos muito felizes.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Em tempos muito remotos, existiu uma velha rainha, que era feiticeira e a filha dela era a criatura mais bela do mundo.A velha rainha só se preocupava em atrair os homens para prejudicá-los; todo pretendente que aparecia, ela informava-o de que, se quisesse casar com a filha, devia antes decifrar uma adivinhação; se não o conseguisse, teria de morrer.Muitos jovens, seduzidos pela beleza deslumbrante da princesa, arriscavam-se, mas nenhum conseguia acertar a adivinhação imposta; então, sem a menor piedade, fazia-os ajoelhar e, no mesmo instante, mandava decepar-lhes a cabeça.Um belo príncipe, ouvindo falar na beleza radiosa da princesa, disse ao rei seu pai:- Deixai-me partir, meu pai; quero obter a mão dessa princesa.- Jamais! - respondeu o rei; - se lá fores irás ao encontro da morte.Não se conformando com isso, o moço adoeceu gravemente, ficando entre a vida e a morte durante sete anos, sem que médico algum pudesse curá-lo. Vendo que não tinha mais esperanças, o pai disse-lhe com profunda tristeza:- Podes ir tentar a sorte; não encontrando o que te possa curar, e se tens mesmo que morrer, faço-te a vontade.Ouvindo essas palavras, o moço levantou-se completamente bom e, alguns dias depois, pôs-se alegremente a caminho.Sucedeu-lhe ter de atravessar a cavalo uma grande planície e, de longe, avistou enorme pilha de feno; aproximando-se, observou que nada mais era do que a barriga de um homem deitado, a qual, à distância, parecia um montinho.O gordalhão, quando viu o cavaleiro, levantou-se e disse:- Se tendes necessidade de um criado, tomai-me ao vosso serviço.- Que vou fazer com um homem tão desajeitado? - disse o príncipe.- Oh, isto não quer dizer nada, - disse o gordalhão; - se me espicho todo, sou três mil vezes mais gordo ainda.- Se é assim, talvez me possas ser útil; vem comigo; - disse o príncipe.O gordalhão acompanhou-o e não demorou muito encontraram um indivíduo deitado no chão, com o ouvido encostado na relva.- Que estás fazendo aí? - perguntou-lhe o príncipe.O homem respondeu:- Escuto.- E que é que escutas tão atentamente?- Estou justamente escutando o que vai pelo mundo, porque nada escapa ao meu ouvido. Chego a ouvir até a erva crescer.Um tanto admirado, o príncipe perguntou-lhe:- Dize-me, então: o que ouves na corte daquela velha rainha que tem uma filha maravilhosa?O orelhudo respondeu:- Ouço o sibilar da espada cortando a cabeça de um infeliz pretendente.O príncipe, então, disse:- Tu poderás ser-me útil, vem daí comigo.E os três continuaram juntos o caminho; pouco mais além, viram no chão dois pés e um bocado de pernas e não viram o resto. Depois de andar bastante, viram um tronco e finalmente a cabeça.- Alô! - disse o príncipe, - como és comprido!- Isso não é nada, - respondeu o outro; - se me estico bem, fico três mil vezes mais comprido ainda; sou mais alto que a mais alta montanha do mundo. Se precisais de mim, seguir-vos-ei com muito gosto.- Vem, - disse o príncipe; - poderás ser-me útil.E foram andando; pouco depois encontraram um tal,sentado à margem da estrada com os olhos vendados. O príncipe perguntou-lhe:- Sofres da vista, que não suportas a luz?- Não, - respondeu o homem, - não posso tirar a venda, pois tamanha força possuem meus olhos, que despedaçam qualquer coisa em que pousam. Se puder servos útil, disponde de mim.- Vem comigo, - disse o príncipe, - talvez me sejas útil.E todos juntos continuaram andando. Mais adiante, encontraram um homem deitado ao sol abrasador, tremendo de frio como uma vara verde.- Como é possível que sintas tanto frio, com um sol tão quente? - perguntou o príncipe.- Ah, eu sou de natureza diversa da dos outros; quanto mais calor, mais frio sinto e o gelo me penetra na medula dos ossos. Quanto mais frio, mais calor eu sinto; no meio do gelo não aguento o calor e no meio do fogo, não aguento o frio.- És um tipo interessante! - disse o príncipe; - se queres servir-me, acompanha-me.Continuaram juntos o caminho e, mais além, avistaram um homem que espichava imensamente o pescoço e olhava por cima das montanhas e bosques. Intrigado, o príncipe perguntou-lhe:- Que estás olhando com tanto interesse?O homem respondeu:- A minha vista é tão aguda, que alcança além das montanhas e vales, podendo ver o que se passa no mundo.O príncipe então disse-lhe:- Vem comigo; faltava-me justamente um tipo como tu!Assim, acompanhado pelos seis criados, o príncipe chegou à cidade habitada pela velha rainha. Apresentou-se diante dela, sem revelar a identidade, e declarou:- Se me concedeis a mão de vossa filha, farei tudo o que me impuserdes.A rainha feiticeira alegrou-se por lhe ter caído nas garras um tão belo rapaz, e disse-lhe:- Três vezes eu te darei uma empreitada; se de cada vez a levares a termo conforme meu desejo, serás senhor e esposo de minha filha.- Qual é a primeira? - perguntou o príncipe.- Quero que me tragas o anel que deixei cair no fundo do Mar Vermelho.O príncipe foi ter com os criados e disse-lhes:- A primeira empreitada não é nada fácil; temos de pescar o anel que a rainha perdeu no Mar Vermelho. Aconselhai-me o que devo fazer.Então Olhosdelince falou:- Quero antes ver onde está.Foi olhar para as profundezas do Mar e, depois, disse:- Está lá no fundo, espetado na ponta de uma rocha.O compridão levou todos até junto do Mar, e disse:- Eu bem poderia pescá-lo, se pudesse vê-lo.- Não seja essa a dificuldade! - disse o gordalhão.E deitou-se com a boca na água; as ondas despejavam-se-lhe dentro como absorvidas por um abismo; em breve ele bebeu toda a água do mar, deixando-o seco como um prado.O compridão curvou-se, um pouco, e apanhou o anel. Cheio de alegria, o príncipe correu a entregá-lo à rainha. Ela ficou pasma; depois disse:- Sim, é mesmo esse o anel. Executaste bem a primeira empreitada, agora tens a segunda. Olha, naquele campo, em frente ao meu castelo, há trezentos bois pastando, todos muito gordos; tens de os comer todos, inclusive o couro, os chifres e os ossos. E na adega há trezentos barris de vinho; tens de beber tudo. Se sobrar um pelo que seja de um boi, ou uma gotinha de vinho, perderás tua bela cabeça.O príncipe perguntou:- Não posso convidar alguns comensais? Sem uma boa companhia, não tem graça comer!A velha sorriu, ironicamente, e disse:- Se queres ter companhia, podes convidar um apenas, e não mais.O príncipe foi ter com os criados e disse ao Gordalhão:- Hoje, convido-te a almoçar; uma vez pelo menos, comerás até te fartares.O Gordalhão aceitou o convite e foi-se esticando sempre mais e comeu os trezentos bois sem deixar um pelo sequer, perguntando ainda se não havia mais nada para sobremesa. Para beber o vinho não teve necessidade de copo: bebeu-o todo mesmo pelos barris; lambendo a última gotinha que lhe caíra no dedo.Finda a refeição, o príncipe chamou a velha, mostrando-lhe que nada havia sobrado. A segunda empreitada estava concluída. Ela ficou enormemente admirada e disse:- Ninguém jamais conseguiu fazer isso. Tens. porém, de realizar a terceira.Consigo mesma ia pensando: "Desta não me escaparás e não salvarás a tua cabeça."- Hoje à noite, - disse ela, - levarei minha filha ao teu quarto. Tu tens de abraçá-la; mas livra-te de ferrar no sono enquanto estais abraçados. Eu chegarei à meia-noite em ponto; se ela não estiver em teus braços, estás perdido.O príncipe refletiu: "Esta empreitada é muito fácil; é claro que ficarei com os olhos abertos." Contudo, chamou os criados e expôs-lhes a exigência da velha, dizendo:- Quem sabe lá que cilada se esconde atrás disto? É preciso ser prudente; ficai de guarda à porta e prestai muita atenção para que a princesa não saia do quarto.Ao anoitecer, chegou a velha com a filha; empurrou esta para os braços do príncipe e saiu. O compridão deitou-se fazendo um círculo em volta deles e o Gordalhão postou-se diante da porta, de maneira a não deixar sair ninguém.Assim ficaram os dois abraçadinhos e a moça não proferia palavra. A lua, filtrando através da janela, iluminava-lhe o semblante e o príncipe pôde ver-lhe deslumbrante beleza. Ficava a olhar embevecido para ela, apaixonado e feliz, e seus olhos não cansavam de contemplá-la. Isso durou até às onze horas; aí então a velha lançou um sortilégio sobre todos eles, fazendo-os dormir; imediatamente a moça desapareceu.Eles dormiram até meia-noite menos um quarto, quando cessou o efeito do sortilégio e todos acordaram.- Oh, que desgraça, - exclamou o príncipe; - estou perdido, estou perdido!Os fiéis criados também lastimavam-se, mas Ouvidofino disse:- Calem-se! Quero ouvir.Escutou um instante, depois exclamou:- Ela está sentada num rochedo distante trezentas horas daqui, e está chorando a sua sina. Isso agora é contigo, Compridão; se te esticas todo, com dois passos chegarás até lá.- Esta bem, - respondeu Compridão; - mas Olhosderaio tem de me acompanhar para dar cabo do rochedo.Assim dizendo, carregou nas costas o homem dos olhos vendados e, num relâmpago, acharam-se diante do rochedo encantado. Imediatamente Compridão tirou a venda dos olhos do companheiro e este, pousando-os sobre o rochedo, fê-lo quebrar-se em mil pedaços.Compridão tomou a princesa nos braços e num instante levou-a ao castelo; em seguida, rápido como um raio, voltou a buscar o companheiro. Antes que soassem as doze badaladas da meia-noite, estavam todos no castelo, alegres e felizes.Ao último toque da meia-noite, chegou a velha, devagarinho, devagarinho, com um sorriso de mofa nos lábios, a significar:- Ah, agora é meu; não me escapará! - julgando que a filha estivesse no rochedo a trezentas horas daí.Quando entrou no quarto e viu-a entre os braços do príncipe, ficou espavorida e exclamou:- Eis aí um que sabe mais do que eu!Mas não tinha o que dizer e foi obrigada a conceder- lhe a mão da filha. Entretanto, sussurrou-lhe ao ouvido:- Que humilhação para ti, teres de obedecer a uma pessoa ordinária! E não poderes escolher um marido digno de ti!No íntimo do coração, a princesa orgulhosa revoltou-se e encheu-se de ira; então premeditou uma grande vingança.No dia seguinte, ela mandou amontoar trezentas carroças de lenha, dizendo ao príncipe que, embora tivesse cumprido as três empreitadas, ela só se casaria com ele se, pondo-se no meio daquela lenha, fosse capaz de resistir ao fogo.Ela julgava que nenhum dos criados se deixaria queimar por ele. Por amor a ela, o príncipe se submeteria ao sacrifício e a deixaria livre de uma vez por todas. Mas os criados disseram:- Todos nós já fizemos alguma coisa; agora cumpre ao Friorento fazer o que lhe toca.Colocaram-no no meio da lenha e atearam-lhe fogo. As labaredas subiram para o céu durante três dias, até queimar toda a lenha e, quando a fogueira se apagou, Friorento estava lá no meio das cinzas tremendo como uma vara verde.- Nunca sofri tanto frio na minha vida! - disse ele. - Se esta fogueira durasse mais um pouco, eu acabaria morrendo enregelado.Não havia mais escapatória; a bela princesa foi obrigada a casar-se com o jovem desconhecido. A caminho da igreja, a velha lamentou-se:- Não posso suportar esta vergonha!E mandou o exército ao seu encalço, com ordens de estraçalhar quem encontrassem pela frente e trazer- lhe de volta a filha.Mas Ouvidofino, que ficara a escutar, ao ter conhecimento desta ordem secreta da velha, disse ao gordalhão:- Que faremos?Este não teve um minuto de hesitação; vomitou atrás da carruagem dos noivos a água do mar que havia engolido, formando um grande lago, onde os soldados se precipitaram e morreram afogados.Ao saber disso, a feiticeira expediu os seus coura-ceiros, mas Ouvidofino ouvira a ordem e, em seguida, o barulho das armas; então tirou a venda dos olhos do companheiro e este com o olhar fulminou todos os inimigos, espatifando-os como se fossem de vidro.Os noivos, então, puderam seguir para diante sem dificuldades e, quando receberam a bênção nupcial na igreja, os criados despediram-se deles, dizendo ao príncipe:- Estão cumpridos os vossos desejos; já não precisais de nós. Agora vamos pelo mundo em busca da felicidade.A uma meia hora antes do castelo, havia uma aldeia e lá estava um guardador de porcos vigiando a vara. Quando chegaram lá, o príncipe disse à mulher:- Sabes quem sou? Não sou um príncipe, mas sim um guardador de porcos; aquele que aí está é meu pai. Nós devemos ajudá-lo no trabalho e guardar os seus porcos.Apearam da carruagem diante de uma hospedaria e o príncipe segredou aos hospedeiros que, durante a noite, levassem os trajes suntuosos da princesa e os escondessem.Pela manhã, quando a princesa despertou, nada encontrou para vestir; então a hospedeira deu-lhe um vestido velho e um par de meias de lã estragadas, com o ar de quem estava a fazer um presente régio, dizendo:- Se não fosse pelo vosso marido, eu não vos daria nada.A princesa acreditou, realmente, ter-se casado com um guarda-porcos. Passou a ser guardadora juntamente com o marido, mas ia pensando: "Bem mereci tudo isto, por causa da minha soberba e presunção!."Essa situação durou oito dias e ela já não podia mais, porque estava com os pés tremendamente feridos. Ao cabo dos oito dias, apareceram uns desconhecidos, que lhe perguntaram se sabia quem era seu marido.- Sei, sim, - respondeu ela; - é um guarda-porcos; acaba justamente de sair para ir vender umas correias e algumas fitas.Os desconhecidos, então, disseram-lhe:- Vem conosco, vamos para onde está teu marido.E levaram-na para o castelo. Quando ela entrou nosalão de honra, deu com o marido ricamente ataviado com os trajes reais. Assim, de momento, não o reconheceu, até que o príncipe, tomando-a nos braços e beijando-a lhe disse:- Sofri muito por tua causa; por isso tiveste que sofrer um pouco por mim.Depois disso, prepararam uma grandiosa festa para celebrar as núpcias e, quem esta história contou, bem quisera ter estado lá.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um rei que tinha doze filhas, uma mais linda que a outra. As princesas dormiam todas juntas num grande salão, em camas colocadas juntinhas. Todas as noites, quando iam para a cama, o rei fechava a porta com cadeado; mas, pela manhã, quando ia abrir para que elas saíssem, o pai notou que os sapatos delas estavam gastos de tanto dançar, e ninguém conseguia saber o que se passava. Então, o rei fez uma proclamação: quem descobrisse onde as princesas iam dançar durante a noite, poderia escolher uma delas para esposa e mais tarde herdaria o trono. Mas o pretendente que nada descobrisse dentro de três dias e três noites, seria condenado à morte.Não demorou muito, apresentou-se um príncipe pedindo para tentar a prova. Foi muito bem acolhido e à noite conduziram-no a um quarto contíguo ao das princesas, onde lhe haviam preparado uma boa cama. Desse posto de observação, ele devia prestar bem atenção para ver aonde iam dançar as princesas e, para que não pudessem fazer as coisas às escondidas, deixaram a porta do salão sem aferrolhar.O príncipe, porém, estando cansado da viagem, caiu logo em profundo sono e, na manhã seguinte, ao despertar, verificou que as princesas tinham ido dançar.O mesmo aconteceu na segunda e na terceira noite; no quarto dia foi decapitado sem dó nem piedade.Depois desse príncipe, chegaram muitos outros pretendentes tentando superar a prova, mas todos pagaram com a vida.Deu-se o caso, então, de um pobre soldado, que por ter sido ferido, e não podendo mais prestar serviço, ia andando pela grande estrada que conduzia à cidade desse rei. Em certo ponto, encontrou uma velhinha que lhe perguntou aonde ia.- Eu mesmo não sei bem, - disse o soldado, e acrescentou por brincadeira: - muito me agradaria descobrir onde é que as princesas vão estragar os sapatos a assim tornar-me rei.- Não é tão difícil assim! - disse a velha. - Se o quiseres saber, não deves beber o vinho que te será servido à noite, e deves fingir que estás profundamente adormecido.Em seguida, deu-lhe uma capinha, dizendo:- Vestindo isto, tornar-te-ás invisível e poderás seguir as princesas sem que elas o saibam.Tendo recebido as excelentes instruções, o soldado levou a coisa a sério; armou-se de coragem e foi apresentar-se ao rei como candidato à prova. Foi bem recebido, como os predecessores, e deram-lhe trajes principescos para vestir.A noite, quando chegou a hora de dormir, levaram- no para o quarto vizinho ao das princesas; no momento de deitar-se, aparece a princesa mais velha, trazendo-lhe um copo cheio de vinho. Ele, porém, prevenira-se, amarrando uma esponja sob o queixo, na qual deixou escorrer o vinho; dessa maneira não bebeu uma gota sequer.Depois deitou-se e, decorridos alguns instantes, pôs- se a roncar como um leão. Do quarto, as princesas ouviram o ronco, sem poder conter o riso; então, a mais velha disse:- Esse tolo bem teria podido poupar a sua vida.Apressaram-se a abrir armários, gavetas e baús deonde tiravam maravilhosos vestidos. Vestiram-se e adornaram-se diante do espelho, pulando de alegria por irem ao baile. A mais moça de todas, porém, observou:- Não sei, não! Vós vos alegrais tanto, mas eu tenho um pressentimento estranho; acho que nos vai acontecer alguma desgraça!- És uma tonta, que tens medo de tudo! - disse a mais velha: - acaso esqueceste quantos príncipes já estiveram aqui, inutilmente? A esse pobre soldado aí, nem teria sido necessário o narcótico, pois esse plebeu já estava caindo de sono quando lá fui.Assim que ficaram todas prontas espiaram o soldado para ver se dormia realmente. Este continuava roncando, de olhos fechados, como se dormisse de verdade; então elas se julgaram seguras. A mais velha foi até à sua cama e bateu umas pancadinhas nela: imediatamente a cama afundou-se numa espécie de alçapão e por essa abertura desceram, uma após outra, as doze princesas seguindo a mais velha, que ia na frente.O soldado vira tudo sem se mexer e, sem hesitar, vestiu a capinha, descendo após a última. No meio da escada, pisou-lhe inadvertidamente a cauda do vestido fazendo-a soltar um grito de susto:- Que é isso? Quem está me segurando pelo vestido?- Não sejas tão tola, - disse-lhe a maior, - certamente o prendeste em algum gancho!E continuaram descendo até chegar a uma alameda maravilhosa, ladeada de árvores, cujas folhas eram de prata cintilante.O soldado pensou consigo mesmo: "Tens de levar uma prova." E quebrou um galho da árvore, que deu um forte estalo. A mais moça das princesas gritou outra vez:- Está acontecendo alguma coisa; não ouviram este estrondo?A mais velha respondeu:- São salvas em sinal de alegria, porque dentro em breve serão libertados os nossos príncipes.Depois chegaram a outra alameda ladeada de árvores, cujas folhas eram de ouro e, por fim, desembocaram numa terceira alameda, onde as folhas eram todas do mais puro diamante. De cada árvore o soldado ia levando um galho, e, cada vez que o tirava, repetia-se o estrondo, fazendo estremecer a princesa mais moça, embora a mais velha se obstinasse a afirmar que eram salvas de regozijo.Andaram mais um pouco e chegaram à margem de um grande rio onde estavam atracados doze barquinhos. Dentro de cada barquinho estava um belo príncipe esperando cada qual a sua princesa; estas ocuparam os seus respectivos lugares nos barquinhos e o soldado seguiu junto com a mais moça.O príncipe, que ia remando, disse:- Não sei por que o barquinho está hoje mais pesado; tenho de remar com todas as minhas forças para tocá-lo para a frente.- Não sei também por que hoje não me sinto bem, - disse a princesa; - deve ser por causa do calor!Na margem oposta do rio havia um belíssimo castelo, todo iluminado, do qual provinha o som alegre de músicas, de timbalos e de trombetas. Dirigiram-se todos para lá e cada príncipe dançou com a sua bem-amada. O soldado, invisível, também dançou com eles; se um pegava no copo para beber, ele tomava todo o conteúdo, o mesmo fazendo com os outros. A princesa mais moça ficava estarrecida, mas a maior sempre lhe impunha silêncio.Assim, pois, dançaram até às três horas da madrugada, quando os sapatos furaram de tanto dançar e elas não puderam mais continuar. Então os príncipes conduziram-nas à outra margem do rio e, desta vez, o soldado sentou-se no barco da frente ao lado da mais velha. As princesas despediram-se dos príncipes, prometendo voltar na noite seguinte; enquanto isso, o soldado correu na frente e, quando elas chegaram ao palácio, cansadas ao extremo, viram-no dormindo na cama e roncando tão sonoramente, que todo mundo podia ouvir.- Desse aí, não precisamos ter receio! - disseram elas.Em seguida, despiram e guardaram os lindos vestidos, deixaram os sapatos debaixo da cama e deitaram-se.Na manhã seguinte, o soldado absteve-se de dizer qualquer coisa, decidindo assistir novamente à festa que tanto lhe agradava; assim pôde ir com elas as três noites, e tudo se passou como da primeira vez. Na terceira noite, levou uma taça como prova; quando chegou a hora em que devia apresentar-se para responder ao que lhe perguntassem, o soldado enfiou no bolso os três ramos e a taça, e foi ter com o rei. As doze princesas correram a postar-se atrás da porta para ouvir o que ele diria.O rei perguntou-lhe:- Aonde é que minhas filhas foram gastar os sapatos esta noite?Ele respondeu prontamente:- Estiveram dançando com doze príncipes, num castelo subterrâneo.E contou direitinho tudo o que vira e o que acontecera, exibindo as provas que trazia no bolso. O rei mandou chamar as filhas e perguntou se era verdade o que dissera o soldado. Vendo-se descobertas, elas compreenderam que não podiam negar nada e, então, confessaram tudo.O rei perguntou ao soldado qual delas escolhia por esposa. Mas ele respondeu:- Eu já não sou muito moço; dai-me portanto a mais velha.No mesmo dia, celebrou-se o casamento, sendo-lhe prometido o trono quando o rei viesse a falecer.Entretanto, os pobres príncipes foram novamente encantados, por tantos dias quantos haviam dançado com as princesas.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um camponês que possuía um cavalo que trabalhara sempre com a maior dedicação, mas o pobre animal ficara velho e imprestável, e o seu dono não queria mais alimentá-lo. Um belo dia, disse- lhe:- Agora já não tens mais utilidade para mim; eu, porém, gosto de ti. Se tiveres ainda força suficiente para me trazeres um leão, ficarei contigo. Mas, por enquanto, tens de ir-te embora e desocupar a cocheira! - Com isso, tocou-o para o pasto.O cavalo ficou muito triste e encaminhou-se para a floresta, a fim de se abrigar do temporal, e lá encontrou a raposa, que lhe dirigiu a palavra:- Por quê é que andas assim, a esmo, triste, de cabeça baixa?- Ah, - respondeu o cavalo - avareza e fidelidade não moram juntas! Meu patrão esqueceu os serviços que lhe prestei durante tantos anos e, agora, porque não posso mais puxar o arado com a mesma rapidez, resolve; privar-me do alimento e enxotou-me de casa.- Sem uma palavra de consolação? - perguntou a raposa.- A consolação foi magra: disse-me que, se ainda tiver forças para lhe levar um leão, ficará comigo, pois bem sabe que não posso fazer tal coisa.- Eu te ajudarei; - disse a raposa, - basta que te deites esticado no chão sem te mexeres, como se estivesses morto.O cavalo fez o que lhe sugeria a raposa; enquanto isso ela foi ter com o leão, que tinha o antro ai perto, e disse-lhe:- Perto daqui há um cavalo morto; vem comigo e terás um farto almoço.O leão seguia-a e, quando se aproximaram do cavalo, a raposa disse:- Aqui não terás a necessária comodidade para comê-lo. Sabes de uma coisa? amarrá-lo-ei pelo rabo à tua perna, assim poderás arrastá-lo, facilmente, para a tua toca e lá o comerás tranquilamente.O leão achou ótima a ideia. Então a raposa pegou o rabo do cavalo e com ele amarrou, fortemente, as patas traseiras do leão; amarrou tão bom que não havia força capaz de desamarrá-lo. Findo o trabalhou, de uma pancadinha nas costas do cavalo, gritando:- Upa, meu alazão; puxa, puxa!Então o cavalo de um salto pôs-se de pé e foi arrastando o leão; este começou u rugir tão espantosamente que repercutiu por toda a floresta, assustando os pássaros que fugiram voando de seus ninhos. O cavalo não se importou e deixou-o rugir à vontade.Embora com alguma dificuldade, foi puxando-o e arrastando-o através dos campos, até à porta da casa do seu amo.Ao deparar com aquilo, o camponês disse ao cavalo:- Podes ficar aqui comigo para sempre e nada te faltará.Depois deu-lhe comida com fartura e tratou-o bem até ele morrer.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
- Bom dia, Pai Valente.- Obrigado, Poldo Pif Paf.- Posso casar-me com vossa filha?- Pois não; se mamãe Leiteira, o irmão Convencido, a irmã Queijeira e a bela Catarina concordarem, podes casar.- E onde está mamãe Leiteira?- Ordenhando a vaca, como mulher ordeira!- Bom dia, mamãe Leiteira.- Obrigada, Poldo Pif Paf.- Posso casar-me com vossa filha?- Pois não; se papai Valente, o irmão Convencido,a irmã Queijeira e a bela Catarina concordarem, podes casar.- E onde está o irmão Convencido?- Está no barracão partindo lenha.- Bom dia, Irmão Convencido.- Muito obrigado, Poldo Pif Paf.- Posso casar-me com tua irmã?- Pois não; se papai Valente, mamãe Leiteira, a irmã Queijeira e a bela Catarina concordarem, podes casar.- E onde está a irmã Queijeira?- Está na horta cortando a verdura.- Bom dia, irmã Queijeira.- Obrigada, Poldo Pif Paf.- Posso casar-me com tua irmã?- Pois não; se o pai Valente, a mamãe Leiteira, o irmão Convencido e a bela Catarina concordarem, podes casar.- E onde está a bela Catarina?- Está contando dinheiro lá na salinha.- Bom dia, bela Catarina- Muito obrigada, Poldo Pif Paf.- Consentes em ser minha namorada?- Pois não; se papai Valente, mamãe Leiteira, o irmão Convencido e a irmã Queijeira concordarem, poderemos casar.- Bela Catarina, quanto tens de dote?- Catorze vinténs em dinheiro, três vinténs e meio de dívidas, meio quilo de maçãs sêcas, um punhado de ameixas e um punhado de raízes.- E algumas coisitas mais, não sou então rica?- Poldo Pif Paf, qual é o teu ofício? Talvez alfaiate?- Oh, melhor do que isso!- És sapateiro?- Oh, melhor do que isso!- És lavrador?- Oh, melhor do que isso!- És marceneiro?- Oh, melhor do que isso!- És ferreiro?- Oh, melhor do que isso!- És moleiro?- Oh, melhor do que isso!- Talvez sejas vassoureiro!- Acertaste; não é um ótimo ofício?Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era, uma vez, uma mulher que tinha três filhas. A mais velha chamava-se Olhinho, porque só tinha um ôlho no meio da testa; a segunda chamava-se Doisolhinhos, porque tinha dois olhos, como todo mundo; e a terceira, chamava-se Trêsolhinhos, porque tinha três olhos: o terceiro estava no meio da testa.Mas como Doisolhinhos era igual ao resto da humanidade, a mãe e as outras irmãs, detestavam-na. Por isso diziam:- Tu, com os teus dois olhos, não és nada diferente da gente vulgar! Nada tens em comum conosco!Viviam a enxotá-la de um lado para outro aos empurrões; atiravam-lhe os piores vestidos e, para se alimentar, davam-lhe as sobras de comida; torturavam-na, enfim, de mil maneiras.
Um belo dia, Doisolhinhos tinha que ir levar as cabras a pastar; mas estava fraca de tanta fome porque as irmãs lhe haviam deixado pouquíssimas sobras para comer. Então sentou-se à borda do campo e pôs-se a chorar; chorou tanto que as lágrimas, escorrendo-lhe pelas faces, formaram dois regatos.Enquanto estava assim chorando, deu com uma mulher na sua frente, que lhe perguntou:- Por que estás chorando?Doisolhinhos respondeu:- E não tenho razão para chorar? Só porque tenho dois olhos, como todo mundo, minha mãe e minhas irmãs detestam-me, empurram-me de um canto para outro, atiram-me vestidos velhos e dão-me apenas restos de comida para me alimentar. Hoje comi tão pouco, que estou morrendo de fome.A mulher, que era uma feiticeira, então disse:- Enxuga teus olhos, minha menina; vou dizer-te uma coisa, para que não padeças mais fome. E' isto: basta que digas à tua cabrinha:- Linha cabrinha, põe a mesinha!e logo surgirá à tua frente uma mesinha ricamente posta, coberta com o que há de melhor no mundo, e ninguém te impedirá de comer até te fartares. Assim que estiveres satisfeita, dize:- Linha cabrinha, tira a mesinhale a mesinha desaparecerá. Dito isto, a feiticeira retirou-se e a mocinha ficou a pensar: "Vou experimentar já fazer o que ela disse, para ver se é verdade, pois estou morrendo de fome!" Dito e feito. Aproximou-se da cabra e disse:- Linha cabrinha, põe a mesinha!Mal acabou de pronunciar essas palavras, surgiu a mesinha e, sôbre a linda e alva toalha que a cobria, viu um talher e um prato, tudo de prata, e mais diversas ter- rinas cheias de iguarias deliciosas, bem quentinhas, como se saissem nesse momento do fogo.Doisolhinhos ajoelhou-se e rezou uma oração bem curta, pois a fome não permitia mais: "Senhor e Deus meu, - disse ela - que sejas o meu hóspede, agora e para sempre, Amém." Em seguida, serviu-se e comeu com grande apetite. Depois de satisfazer-se, repetiu as palavras que lhe ensinara a feiticeira:- Linha cabrinha, tira a mesinha!E a mesa, com tudo o que tinha em cima, desapareceu."Oh, - pensou ela muito feliz, - essa é uma bela maneira de preparar a comida!"À noitinha, quando regressou à casa levando a cabra, lá encontrou apenas um pratinho de barro, com o pingo de sobras deixado pelas suas irmãs; mas não tocou néle. No dia seguinte, tornou a levar a cabra a pastar, sem tocar nos restos que lhe deram para comer.Ora, nas primeiras vêzes isso não despertou a atenção das irmãs, mas, como o caso se repetisse, elas ficaram desconfiadas e disseram:- Há coisa nisto! Doisolhinhos não toca mais na comida que antes devorava; decerto encontrou outra saída!Para descobrir a verdade, Olhinho foi incumbida de segui-la ao campo e prestar bem atenção ao que ela fazia, e ver se alguém lhe dava a comida e a bebida.Assim que a irmã se pôs a caminho, Olhinho aproxi- mou-se-lhe dizendo:- Vou contigo ao campo; quero ver se cuidas bem das cabras e as deixas pastar convenientemente.Doisolhinhos percebeu a intenção da irmã e uma vez no campo, levou a sua cabra para o meio de um capim muito alto e disse:- Vem Olhinho, sentemo-nos aqui; eu te cantarei qualquer coisa.Olhinho sentou-se, pois estava muito cansada pela caminhada que dera e pelo calor que fazia; a irmã então pôs-se a cantar:- Olhinho, velas tu? Olhinho, dormes tu?e ela, fechando o ôlho, adormeceu. Certificando-se de que a irmã dormia realmente e não poderia revelar nada, Doisolhinhos chamou a cabra:- Linha cabrinha, põe a mesinha!Comeu tudo o que quis, bebeu o que lhe apetecia, e tornou a dizer:- Linha cabrinha. lira a mesinha!Imediatamente, desapareceu a mesa e tudo o que havia em cima dela. Em seguida despertou a irmã dizendo: '- Olhinho, vieste tomar conta das cabras e ver se pastam o suficiente e acabas dormindo! Contigo, elas poderíam perder-se tranqüilamente! Vem, levanta-te, vamos para casa.Voltaram as duas para casa e também desta vez Dois- olhinhos deixou intacto o prato de comida. Olhinho não pôde explicar à mãe a razão por que a irmã não comia, e desculpou-se dizendo:- Eu nada vi; pois lá no campo, deu-me sono e eu dormi um pouco.No dia seguinte, a mãe disse a Trêsolhinhos:- Vai tu com a tua irmã e presta bem atenção se ela come alguma coisa, ou se alguém lhe dá o que comer e beber.Quando Doisolhinhos se aprestava a sair com as cabras, Trêsolhinhos disse-lhe:- Vou contigo; quero ver se cuidas bem das cabras e as deixas pastar bastante.A irmã compreendeu a intenção dela e, chegando ao campo, levou a cabra para o meio do capim bem alto, depois disse:- Sentemo-nos aqui, Trêsolhinhos, quero cantar-te alguma coisa.Cansada pela caminhada e pelo calor, Trêsolhinhos sentou-se e a irmã pôs-se a cantar o seu estribilho:- Trêsolhinhos, velas lu?Mas, ao invés de cantar:- Trêsolhinhos, dormes tu?Cantou distraidamente:- Doisolhinhos, dormes tu?E foi cantando, distraidamente:- Trêsolhinhos, velas tu? Doisolhinhos, dormes tu?Então, dois olhos fecharam-se e dormiram, mas o terceiro ficou aberto, pois a canção não se dirigira a êle. Trêsolhinhos, astuciosamente, fechou-o como se estivesse dormindo realmente êsse também. Entretanto, com êle espiava e enxergava tudo. Quando a irmã pensou que ela estivesse perfeitamente adormecida, pronunciou as palavras conhecidas:Surgiu a mesa e ela comeu e bebeu fartamente, depois fêz desaparecer tudo, dizendo:Trêsolhinhos vira tudo. A outra aproximou-se; despertou-a e disse:- Linha cabrinha, põe a mesinha!- Linha cabrinha, tira a mesinha!- Trêsolhinhos, adormeceste? Como guardas bem as cabras! Vem daí, vamos para casa.Chegando a casa, Doisolhinhos não comeu nada; mas a irmã contou à mãe que uma cabra lhe servia a melhor comida, numa mesa magnífica.A mãe, cheia de inveja e de ódio, gritou:- Ah, queres passar melhor do que nós? Hás de perder êsse gôsto!Foi buscar um facão de açougueiro e matou a cabra.Vendo isso, Doisolhinhos saiu desesperada, foi sentar-se à borda do campo e desatou a chorar. Repentinamente surgiu à sua frente a feiticeira, dizendo:- Por que estás chorando, Doisolhinhos?- E não tenho razão para chorar? Minha mãe matou a cabra que todos os dias me proporcionava tão gostosos alimentos; agora voltarei a padecer fome!- Vou dar-te um ótimo conselho; - disse a feiticeira. - Volta para casa pede que te dêem os intestinos da cabra e enterra-os diante da porta; será a tua felicidade.Dizendo isto desapareceu, e Doisolhinhos foi para casa.- Queridas irmãs, - disse ela - dai-me alguma coisa da minha querida cabra! Não exijo o melhor; quero apenas os intestinos.As irmãs puseram-se a rir dêsse estranho pedido e disseram:- Podes pegá-los, já que não queres outra coisa!A noite, quando estavam tôdas recolhidas, Doisolhinhos pegou os intestinos da cabra e, ocultamente, enter- rou-os diante da porta de casa, tal como lhe aconselhara a feiticeira.No dia seguinte, quando despertaram, as irmãs, chegando à janela, viram uma árvore estupenda, maravilhosa, coberta de folhas de prata, no meio das quais balou- çavam lindas maçãs de ouro; tão lindas como certamente não existiam iguais no mundo. Mas não sabiam de que maneira havia surgido ali, durante a noite. Somente Doisolhinhos compreendeu que a árvore surgira dos intestinos da cabra, enterrados justamente naquele lugar.A mãe, então, disse a Olhinho:- Minha filha, trepa na árvore e colhe algumas frutas para nós.Olhinho obedeceu; mas, quando ia colhêr uma fruta, os galhos fugiam-lhe das mãos; por mais que fizesse, sempre que ia agarrar uma fruta, esta fugia-lhe e não conseguiu apanhar uma. Então a mãe disse à outra filha:- Trêsolhinhos, vai tu; com os teus três olhos poderás ver melhor que tua irmã.Ela trepou na árvore, mas não teve melhor êxito. Por mais que olhasse e fizesse, as maçãs de ouro fugiam- -lhe das mãos e ela nada conseguiu.A mãe acabou por perder a paciência e trepou ela mesma na árvore; mas teve a mesma sorte das filhas. Então Doisolhinhos ofereceu-se para colher as frutas. As irmãs disseram, desdenhosamente:- Que podes fazer tu, com êsses dois olhos?Ela não se importou e trepou na árvore; as maçãs não se retraiam dela; ao contrário, apresentavam-se espontâneamente ao alcance de sua mão de maneira que ela conseguiu encher o avental. A mãe tomou-lhas tôdas e, em vez de tratá-la melhor, como era sua obrigação, ela e as outras duas filhas, cheias de inveja, começaram a maltratá-la ainda mais.Certo dia, encontravam-se as três môças ao pé da árvore, quando viram aproximar-se garboso cavaleiro.- Depressa, Doisolhinhos, - exclamaram as outras; - corre, vai esconder-te debaixo do barril, pois não queremos envergonhar-nos por tua causa.E, mais que depressa, empurraram a irmã, jogando- -lhe em cima um barril vazio, escondendo também as maçãs que haviam colhido.O cavaleiro já estava bem próximo e as duas irmãs viram que êle era muito formoso. Deteve-se ao pé da árvore e ficou a admirar os belos frutos de ouro, depois disse:- A quem pertence esta bela árvore? Quem me der um galho dela, pode pedir-me em troca o que quiser.Olhinho e Trêsolhinhos responderam que a árvore pertencia a elas e que de bom grado lhe davam o galho pedido. E as duas esforçaram-se, mas inutilmente, para apanhar um galho, pois êste sempre lhes fugia das mãos, e, por mais que fizessem, nada conseguiram.Então, o cavaleiro disse:- E' estranho que, pertencendo-vos esta árvore, não possais arrancar-lhe um galho!As duas môças continuaram insistindo que a árvore lhes pertencia realmente; mas, enquanto assim falavam, Doisolhinhos empurrou para fora do barril as maçãs de ouro e estas rolaram até aos pés do cavaleiro, porque a irritava ouvir Olhinho e Trêsolhinhos afirmarem o que não era verdade.O cavaleiro ficou surpreendido ao ver aquelas maçãs rolando para junto dêle e perguntou de onde vinham. Olhinho e Trêsolhinhos responderam que tinham outrairmã mas que não podia mostrar-se porque só tinha dois olhos, como a gente ordinária. O cavaleiro, porém, quis vê-la e gritou:- Doisolhinhos, vem cá; apresenta-te!Muito contente e cheia de esperanças, ela saiu debaixo do barril, deixando o cavaleiro admirado de sua grande beleza. Êste perguntou-lhe:- Tu, Doisolhinhos, com certeza podes dar-me um galho dessa linda árvore!- Posso, sim, - respondeu ela - porque essa árvore é minha.Trepou, àgilmente, pelo tronco acima e, sem a menor dificuldade, apanhou um galho com as mais lindas folhas de prata, carregado de frutas de ouro, e entregou-o ao môço, o qual disse:- Que devo dar-te, em troca disto?- Ah, - respondeu Doisolhinhos - aqui padeço fome o dia inteiro e tôda espécie de maus tratos; se quisésseis levar-me embora, eu seria muito feliz.O cavaleiro colocou-a no arção da sela e levou-a para o castelo de seu pai. Lá, mandou que lhe dessem trajes suntuosos e a melhor alimentação. Tendo-se apaixonado loucamente por ela, desposou-a em meio a grandes festas e alegria.Quando o cavaleiro levou consigo Doisolhinhos, a sorte desta aumentou incrivelmente a inveja das duas irmãs, que se consolaram, pensando: "Resta-nos, todavia, a árvore maravilhosa e, embora não possamos colher seus lindos frutos, ela atrairá a atenção de todos os transeuntes, que virão até cá para admirá-la; quem sabe se não teremos também uma feliz sorte?"Mas, na manhã seguinte, viram, desapontadas que a árvore tinha desaparecido desvanecendo-se assim as suas esperanças. E Doisolhinhos, ao olhar para fora da janela, viu com grande alegria que a sua árvore a havia acompanhado e estava lá diante dela.Doisolhinhos viveu longamente, muito feliz, mas certo dia, apresentaram-se ao castelo duas mendigas pedindo esmola. Olhando para elas atentamente, Doisolhinhos reconheceu suas irmãs, Olhinho e Trêsolhinhos, reduzidas a tamanha miséria que eram obrigadas a mendigar de porta em porta.Ela, porém, acolheu-as amàvelmente. E no castelo foram muito bem tratadas e assistidas, acabando por arrepender-se, sinceramente, de todo o mal causado à boa irmãzinha durante a sua juventude.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Era uma vez um pobre homem que tinha quatro filhos; quando já estavam crescidos, disse-lhes:- Meus caros filhos, já é tempo de que cuideis de vossa vida; ide pois pelo mundo afora. Eu nada tenho para vos dar; portanto, viajai para algum país estrangeiro e aprendei um ofício que vos permita viver honestamente.Os quatro irmãos despediram-se do pai, tomaram dos bordões e, juntos, saíram da cidade. Andaram algumas horas e chegaram a uma encruzilhada de onde partiam quatro estradas divergentes. Então, Pedro, que era o mais velho, disse aos irmãos:- Agora 6 melhor separarmo-nos; cada qual irá para um lado tentar fortuna: daqui a quatro anos, no mesmo dia e na mesma hora de hoje, devemos nos encontrar neste mesmo lugar.Cada qual seguiu por um caminho. O mais velho logo encontrou um homem, que lhe perguntou aonde ia e o que tencionava fazer. Vou à procura de um ofício - respondeu o moço. Pois bem, - disse o homem, - vem comigo eaprenderás o ofício de ladrão.- Não, não, - respondeu Pedro; - essa é uma profissão pouco honrada e, no fim da festa, acaba-se feito badalo de forca.- Oh, - retorquiu o outro, - não deves temer a forca; eu te ensinarei, somente, como deves fazer para apropriar-te de objetos mais escondidos em lugares onde ninguém poderá ir no teu encalço.Pedro deixou-se persuadir e, nessa escola, tomou-se logo tão hábil na arte de roubar, que nada mais estava em segurança desde que o desejasse.O segundo, que se chamava João, também encontrou um homem no seu caminho, que lhe perguntou para onde ia e o que desejava aprender.- Vou à procura de um ofício, mas ainda não sei qual.- Então vem comigo e aprenderás a ser um bom astrônomo; não há coisa melhor; nada haverá de oculto para ti.João aceitou e seguiu o mestre. Após algum tempo, tornou-se astrônomo perfeito e, quando apto a cuidar de si, quis continuar a viagem; o mestre fez-lhe presente de um telescópio, dizendo;Com este aparelho poderás ver tudo o que ocorre na Terra e no Céu, e nada poderá ficar oculto de ti.O terceiro irmão, chamado José, entrou como aprendiz em casa de um caçador, que tão bem lhe ensinou tudo o que se relacionava com a arte de caçar, que ele se tornou caçador perfeitamente adestrado e insuperável. Quando terminou o aprendizado, despediu-se do mestre e este presenteou-o com uma espingarda, dizendo:- Esta espingarda nunca falha; com ela acertarás qualquer alvo.Miguel, o mais moço dos quatro irmãos, por sua vez encontrou um homem que lhe fez as mesmas perguntas, e lhe sugeriu:- Não gostarias de aprender o ofício de alfaiate?- Não é do meu agrado, - respondeu o rapaz; - não me entusiasma a ideia de ficar o dia inteiro curvado com uma agulha na mão!- Qual nada! - respondeu o homem; - isto é o que pensas; comigo aprenderás uma arte muito diversa. Uma arte digna e muito apreciada, mesmo honrosa!O rapaz convenceu-se; seguiu o mestre e acabou por se tomar um alfaiate de primeira ordem e muito hábil. Findo o tempo de aprendizado, despediu-se e o mestre presenteou-o com uma agulha, dizendo:- Com esta agulha, podes coser seja lá o que for; quer seja mole como um ovo ou duro como o aço, a emenda ficará tão perfeita que ninguém a poderá distinguir.Entretanto, os quatro anos passaram e, no dia marcado, os quatro irmãos encontraram-se no lugar combinado. Cheios de alegria, abraçaram-se e beijaram-se, dirigindo-se depois para a casa do pai. Este ficou radiante ao tornar a vê-los:- Que bom vento vos trouxe novamente à casa? - disse muito satisfeito.Os filhos contaram-lhe, então, todas as peripécias ocorridas com eles e a espécie de ofício que tinham aprendido. Estavam justamente sentados à sombra de uma frondosa árvore que havia em frente da casa, e o pai, querendo certificar-se sobre o que diziam, propôs: Desejo pôr à prova a vossa habilidade. Lá em cima, no topo da árvore, entre dois galhos, há um ninho de pintassilgos; dize-me, meu filho, - falou o pai dirigindo-se ao segundo, - podes dizer-me quantos ovos há dentro dele?João, o astrônomo, pegou na luneta, dirigiu-a para a árvore e disse no fim de alguns segundos:- Há cinco.- Tu, - disse o pai ao mais velho, - vai retirar os ovos, mas sem incomodar o pássaro que lá está chocando.O ladrão perito trepou pela árvore acima e, sem incomodar o pássaro, que nada percebeu, retirou os cinco ovos que estava chocando e trouxe-os para o pai, que os colocou sobre a mesa, um em cada ângulo e o quinto no centro. Dirigindo-se ao terceiro filho, disse:- Quanto a ti, tens de os furar pelo meio, com um só tiro da tua espingarda.O caçador apontou a espingarda e furou os ovos exatamente como lhe pedia o pai, acertando todos cinco com um só tiro. (Com certeza ele possuía aquela espécie de pólvora que dobra as esquinas!)- Agora a tua vez, Miguel - disse o pai. - Com tua famosa agulha tens de coser as cascas dos ovos e os passarinhos que estão dentro de maneira que o tiro não os prejudique.O alfaiate pegou a agulha e costurou tudo como exigia o pai. Quando terminou Pedro tornou a ir pôr os ovos no ninho tão de leve que o pássaro não se apercebeu e continuou a chocar; alguns dias depois os filhotes saíram da casca como se não tivessem sido furados, e tinham uma listrazinha vermelha em volta do pescoço, no lugar onde o alfaiate fizera a costura.- Muito bem, - disse o pai, - só posso fazer os melhores elogios. Aproveitastes bem o vosso tempo, aprendendo com perfeição. Não sei a qual hei de dar o prêmio da destreza; veremos isso quando tiverdes oportunidade de empregar a vossa arte.Algum tempo depois, o país estava todo em alvoroço, porque a filha do rei tinha sido roubada por um dragão. O rei, tremendamente aflito, mandou anunciar que aquele que a trouxesse de volta, casaria com ela e, mais tarde, herdaria o trono.- Eis uma ótima ocasião para nos distinguirmos, - disseram os quatro irmãos; - procuremos juntos salvar a princesa.- Vou saber já onde ela se encontra, - disse o astrônomo.Foi buscar a luneta e, olhando cm todos os sentidos, disse:- Estou vendo-a; está sentada sobre um rochedo, no meio do mar, distante daqui muitas léguas; o terrível dragão está montando guarda junto dela.Apresentaram-se ao rei e pediram-lhe um navio; assim que o obtiveram, puseram-se a navegar em direção ao rochedo. A princesa continuava lá sentada e o terrível animal, deitado ao lodo dela, dormia com a cabeça no seu regaço. O caçador disse:- Nessa posição em que se encontra, não posso atirar, pois mataria também a princesa.- Deixe isto por minha conta, - disse o perito ladrão.Saltou para terra, esgueirou-se sorrateiramente e retirou a princesa, tão habilmente e com tanta destreza, que o monstro não se apercebeu e continuou roncando.Radiantes de alegria, carregaram-na correndo para bordo e, soltando todas as velas, fizeram-se ao largo.Mas o dragão, despertando pouco depois e não vendo mais a princesa, saiu a persegui-los, rugindo furiosamente pelo espaço. Quando já pairava por cima do navio e ia precipitar-se sobre os fugitivos, o caçador apontou-lhe a espingarda e atingiu-o em pleno coração. O monstro despencou, fragorosamente, sem vida; mas era tão colossal, que ao cair despedaçou completamente o navio.Felizmente, eles conseguiram agarrar-se a algumas tábuas e ficaram flutuando no vasto mar. Contudo, o perigo era imenso, mas o alfaiate, sem perder tempo, pegou a agulha prodigiosa e, num abrir e fechar de olhos, coseu solidamente os destroços do navio, recolheu nele toda a ferragem, cosendo-a muito bem nos respectivos lugares. Executou o trabalho com tanta habilidade que, em breve, o navio ficou em condições de navegar e assim puderam voltar para casa.Ao ver a querida filha, o rei ficou transportado de alegria e disse aos quatro irmãos:- Cumprirei a promessa. Um dos quatro a receberá por esposa, mas, qual será, deveis decidi-los entre vós.Então rebentou entre eles tremendo litígio, porque cada qual tinha as suas pretensões. O astrônomo dizia:- Se eu não tivesse descoberto com a minha luneta onde se encontrava a princesa, todas as vossas artes teriam sido vãs; portanto sou eu que a devo desposar.- De que serviria saber onde ela estava, - protestou o ladrão, - se eu não a tivesse subtraído ao dragão? Portanto, ela é minha.O caçador, por sua vez, dizia:- Qual nada; o monstro teria devorado vós todos e mais a princesa, se o tiro de minha espingarda não o tivesse matado; por conseguinte ela pertence-me.- E se eu, com a minha agulha prodigiosa, não tivesse recomposto o navio, teríeis todos perecido afogados; portanto, ela tem ser minha.A discussão já ia longe, quando o rei interveio.- Na verdade, todos têm igual direito à mão de minha filha e, como ela não poderá casar com os quatro, nenhum a terá. Em compensação cedo-vos a metade do meu reino para que o partilheis entre vós.Essa decisão agradou plenamente os irmãos, que exclamaram:- E' bem melhor assim antes que vivermos em desarmonia.Assim, cada qual instalou-se nos seus ricos domínios, vivendo muito felizes. O pai ia, alternadamente, passar três meses em companhia de cada um dos filhos, ficando todos satisfeitos, enquanto o bom Deus o permitiu.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Há muitos, muitos anos, vivia numa aldeia um casal. A mulher, porém, era tão preguiçosa que nunca tinha vontade de trabalhar. Se o marido mandava-a fiar, ela empregava um tempo enorme para o fazer, não acabava nunca o trabalho e, se acaso punha-se a fiar, não dobrava o fio, deixando-o todo embaraçado.Certo dia, em que o marido a censurava por isso, retrucou-lhe, dizendo:- Como queres que dobre direito o fio se não tenho a dobadoura? Seria melhor que fosses arranjar um pau e me fizesses uma!- Se é só isto, - disse o marido - vou buscar um pau na floresta e faço uma.A mulher, então, receou que ele de fato encontrasse o pau e fizesse a dobadoura, o que a obrigaria a trabalhar.Pensou um pouco e logo teve uma boa ideia. As escondidas, saiu atrás do marido na floresta e, quando o viu trepado numa árvore a fim de cortar o pau apropriado, ela agachou-se atrás de uma moita que a ocultava toda, e de lá gritou:
Quem corta pau para a cardadeira, morre;Quem com ela trabalha, nada tem, sempre corre...
ouvindo isto o homem susteve a machadinha e ficou a pensar no que poderia significar.- Bem, - disse depois - que queres que seja! foi um zumbido que passou pelo teu ouvido, é tolice assustar-se.Voltou ao trabalho, mas, quando ia cortar o pau ouviu novamente a voz falando:
Quem corta pau para a cardadeira, morre;Quem com ela trabalha, nada tem, sempre corre...
Êle então ficou com medo realmente, pensando no que poderia ser aquilo; todavia, criando coragem, pegou na machadinha decidido a continuar. E, pela terceira vez, quando ia desferir o golpe, a voz tornou a gritar:
Quem corta pau para a cardadeira. morre;Quem com ela trabalha, nada tem, sempre corre...
Isso foi o bastante para lhe tirar toda a vontade de continuar. Desceu, rapidamente, da árvore e, mais que depressa, voltou para casa.A mulher tomou por um atalho e, correndo o mais que podia, tratou de chegar em casa antes dele. Quando ele entrou na sala onde ela já se encontrava, esta, com o ar mais inocente deste mundo, como se nada soubesse, perguntou-lhe:- Então, trazes um bom pau para fazer a cardadeira?- Não, - disse ele - pelo que vejo, acho melhor não pensar mais nisso.Em seguida, contou o que se tinha passado na floresta e, desde então, não fez mais menção à dobadoura, deixando a mulher em paz.Entretanto, não demorou muito e o marido começou a irritar-se com a desordem que reinava em casa.- Oh, mulher! - resmungou ele - é uma vergonha ver esse fio todo emaranhado na roca!Ela respondeu:- Sabes de uma coisa? Já que não consegues arranjar uma dobadoura, vai postar-te lá em cima no sótão; eu ficarei aqui em baixo e te jogarei o fuso e tu o tornarás a jogar para baixo, assim, para cima e para baixo, iremos fazendo a meada.- Está bem, - disse o marido.E assim fizeram. Terminada a meada, ele disse:- Agora que fizemos a meada, temos que fervê-la.O mulher alarmou-se, mas disse:- Faremos isso amanhã cedo.Enquanto isso, ia pensando numa nova artimanha que a isentasse de trabalhar.Na manhã seguinte, levantou-se cedo, acendeu o fogo sob o caldeirão, mas, ao invés de botar nele a meada, botou uma maçaroca de estopa e deixou-a fervendo. Em seguida, foi ter com o marido, que ainda estava na cama, e disse-lhe:- Eu preciso sair um pouco; levanta-te e olha o fio que está a ferver no caldeirão. Vai depressa e presta bem atenção; pois se o galo cantar e tu não prestares atenção, o fio ficará feito estopa.O homem tratou de levantar imediatamente; vestiu-se às pressas e foi para a cozinha. Mas, quando olhou dentro do caldeirão, viu com espanto um monte de estopa a ferver. O coitado perdeu o fôlego, pensando que se havia descuidado e que lhe cabia a culpa por esse desastre. Então ficou bem caladinho e, desde esse dia. nunca mais falou em fio ou em fiar.Convenhamos, porém, que aquela mulher era deveras perversa!Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Nos tempos em que desejar alguma coisa era o bastante para vê-la realizada, houve um príncipe, encantado por uma velha bruxa, que o condenara a permanecer dentro de um fogão, abandonado no meio de uma floresta. Passou longos anos aí, sem que ninguém o pudesse libertar. Certo dia, foi ter à floresta uma princesa que se havia perdido e não conseguia achar o caminho do reino de seu pai. Estava vagando pela floresta havia nove dias, quando se aproximou do fogão de ferro e ouviu sair dele uma voz perguntando:- De onde vens e para onde vais?- Perdi o caminho do reino de meu pai e não posso voltar para casa, - respondeu ela.Então a voz do fogão disse-lhe:- Vou ajudar-te a voltar para casa em pouco tempo, se prometeres fazer o que te peço. Sou filho de um Rei muito mais poderoso do que teu pai e estou disposto a casar-me contigo.Ela estremeceu de pavor, pensando: "Santo Deus. que vou fazer com um fogão de ferro?" Mas, ansiosa por voltar à casa paterna, ela prometeu o que ele quis. Então o príncipe lhe disse:- Tens de voltar aqui trazendo uma faca para fazer um buraco no ferro.Depois lhe deu um companheiro, que foi andando silenciosamente a seu lado e, em menos de duas horas, deixou-a no palácio do pai. No castelo, foi grande o regozijo pela volta da princesa, e o velho rei abraçou-a e beijou-a cheio de contentamento. Mas a princesa estava preocupada e aflita.- Ah, meu pai, - disse com tristeza, - que coisa estranha me aconteceu! Eu nunca teria achado o caminho para voltar se não tivesse encontrado um fogão de ferro, no meio da floresta, que me ajudou, dando-me o guia que me trouxe até aqui; em troca disso tive que prometer voltar lá e libertá-lo para com ele me casar.O rei ficou tão consternado que quase desmaiou, pois ela era sua filha única. Por conseguinte, deliberaram mandar em lugar dela a filha do moleiro, que era uma moça muito bonita. Conduziram-na à floresta, deram-lhe uma faca e disseram-lhe para raspar o fogão até fazer um buraco. Durante vinte e quatro horas a pobre moça ficou raspando e raspando o fogão, mas não conseguiu sequer tirar-lhe a mais leve camada. Ao clarear o dia, a voz do fogão gritou:- Parece-me que aí fora já está claro.- Está claro, sim, - respondeu a moça - e parece que estou ouvindo o rumor do moinho de meu pai!- Tu, então, és filha de um moleiro? - disse a voz - Pois volta para tua casa já e manda aqui a princesa.A moça voltou e foi dizer ao rei que o fogão não queria saber dela e pedia que lhe mandassem a princesa. O rei ficou apavorado e a princesa desatou a chorar amargamente. Mas havia no reino a filha de um guarda-porcos, que era muito mais bonita do que a filha do moleiro; ofereceram-lhe uma boa quantia de dinheiro para que fosse em lugar da princesa. Ela aceitou e deixou-se conduzir à floresta; como a primeira, raspou o fogão durante vinte e quatro horas sem parar, mas não conseguiu fazer nele nem mesmo um pequeno arranhão. Ao clarear o dia, disse a voz do fogão:- Parece-me que aí fora já está claro.- Está claro, sim, - respondeu a moça. Parece-me ouvir a buzina de meu pai.- Ah, tu és filha de um guarda-porcos? Volta já para casa e manda aqui a princesa; dize-lhe que terá tudo quanto lhe prometi, mas, se não vier pessoalmente, seu reino todo se desmoronará, não ficando pedra sobre pedra.Quando lhe transmitiram essas palavras, a princesa pôs-se a chorar e a soluçar desesperadamente. Mas não havia outra solução senão cumprir a promessa. Portanto, despediu-se do pai, muniu-se de uma faca e lá se foi para a floresta. Assim que chegou, começou a raspar o ferro, com pressa, para terminar logo aquele desagradável trabalho, e o ferro começou a ceder. Antes de transcorridas duas horas, já havia feito no fogão um pequeno orifício. Espiou pelo buraquinho e avistou no interior do fogão um belíssimo jovem, que trajava suntuoso manto, cintilante de ouro e pedrarias. Apaixonou-se instantaneamente por ele e, com redobrado ardor, se pôs a raspar e raspar, até que em breve abriu um buraco suficientemente grande, por onde o príncipe pôde sair.- Tu és minha e eu sou teu! - disse ele sorrindo- lhe feliz. - Serás minha esposa, pois conseguiste livrar- me do encanto a que estava preso.Em seguida, o jovem quis conduzi-la ao seu reino, mas a princesa pediu-lhe que lhe permitisse voltar ainda uma vez à casa paterna para se despedir do seu velho pai; o príncipe consentiu, recomendando-lhe, porém que não proferisse mais do que três palavras e voltasse imediatamente para junto dele. Ela chegou em casa mas, aí, pronunciou muito mais do que três palavras e no mesmo instante o fogão de ferro desapareceu, sendo carregado para muito longe, além das montanhas de vidro e espadas aguçadas, porém, sem o príncipe, que estava salvo e não mais devia ficar detido naquela prisão.Tendo-se despedido do pai, a princesa tomou consigo uma certa quantidade de moedas de ouro, não muitas, voltou à floresta a fim de procurar o fogão de ferro, mas não o encontrou mais. Durante nove dias, ela o procurou e, então, apertando a fome, e não tendo o que comer, pensou que iria morrer. Quando anoiteceu, ela trepou numa pequena árvore, com a intenção de passar lá a noite, pois receava as feras que rondavam pela mata durante a escuridão. Pouco antes da meia-noite, avistou, bem longe, uma luzinha brilhando; então pensou:- Lá, certamente, encontrarei auxilio!Desceu da árvore e encaminhou-se em direção da luz, rezando enquanto caminhava. Foi andando, andando e chegou a uma choupana cercada de plantas e, tendo diante da porta uma pilha de lenha.- Ah, onde vieste parar! - pensou ela, e espiou pela vidraça; não viu ninguém, senão alguns sapos grandes e pequenos. Viu a mesa posta, com vinho e um assado tentador; os pratos e os copos eram de prata. Criando coragem, ela bateu na porta e a rainha dos sapos gritou:
- Donzela verde, pequenina,perninha torta,magra cadelinha,abra depressa a portapara ver quem está aí fora!
No mesmo instante, veio um sapinho e abriu a porta. Quando a princesa entrou, todos lhe deram as boas- vindas convidando-a para sentar-se. Perguntaram-lhe de onde vinha e para onde ia. Ela contou-lhes tudo quanto lhe tinha sucedido e como, por ter dito mais do que as três palavras permitidas, o fogão tinha desaparecido juntamente com o príncipe. Agora andava à sua procura por montes e vales até o encontrar. Então a rainha dos sapos disse:
- Donzela verde, pequenina,perninha torta,magra cadelinha,vai buscar depressaminha caixa, atrás da porta.
O sapinho foi buscar a caixa atrás da porta, entregando-a à velha rainha. Em seguida, serviram o jantar à princesa e depois levaram-na para uma linda cama, coberta de sedas e veludos, na qual ela se deitou, recomendando-se à proteção de Deus, e dormiu profundamente.Ao raiar do dia, a princesa levantou-se, e a velha rainha tirou de sua grande caixa três agulhas e ofereceu-lhas para que as levasse consigo, dizendo que lhe seriam úteis porque ela teria que atravessar uma montanha de vidro, três espadas afiadas e um rio muito largo; se o conseguisse, encontraria o seu amado. Deu-lhe ainda alguns objetos que devia guardar zelosamente: três agulhas bem grandes, uma roda de arado e três nozes. E assim, munida desses objetos, a princesa se despediu e continuou o caminho. Chegando à montanha de vidro, que era muito lisa, ela empregou as agulhas para firmar os pés a cada passo que dava e assim conseguiu chegar ao cimo.Tendo chegado ao outro lado da montanha, guardou, cuidadosamente, as agulhas num lugar seguro. Depois deparou com as três espadas afiadas; servindo-se da roda de arado rolou por cima ultrapassando-as. Por fim chegou ao grande rio e, tendo atravessado, chegou a um grande e magnífico castelo. Ela entrou e pediu emprego, dizendo ser uma pobre moça sem ninguém por ela, embora soubesse que o príncipe desencantado do fogão de ferro, graças a ela, estava lá. Ela foi aceita como moça de cozinha, com um ordenado ínfimo. O príncipe, entretanto, tinha outra noiva e pretendia casar-se com ela, certo de que sua primeira eleita morrera há muito tempo.Uma tarde, tendo terminado os trabalhos, ela se lavou e se arrumou; ao pôr as mãos no bolso encontrou as três nozes que a velha rainha dos sapos lhe tinha dado. Partiu uma, com os dentes, para comê-la e viu, assombrada, que dentro havia um belíssimo vestido de noiva real.Ao saber disso, a noiva quis vê-lo e comprá-lo, dizendo que não era vestido para uma moça de cozinha. A princesa não quis vendê-lo; mas lho daria, com uma condição, isto é, se lhe permitisse dormir uma noite perto do quarto do príncipe.A noiva consentiu, fascinada pelo vestido maravilhoso, como não havia outro igual. Quando anoiteceu ela disse ao noivo:- Aquela tonta da criada quer dormir esta noite perto do teu quarto!- Se achas que está bem, eu também acho! - respondeu ele. Ela porém lhe ofereceu um copo de vinho contendo um narcótico, em consequência do qual ele dormiu tão profundamente que a princesa não conseguiu acordá-lo. Ela chorou a noite toda dizendo em voz alta:- Eu te salvei na floresta c te livrei do fogão de ferro. Tenho procurado por ti c, para te encontrar, tive de atravessar uma montanha de vidro, três espadas afiadas e um rio muito largo, e agora não me queres ouvir!Os criados, porém, que montavam guarda junto da porta, ouviram a princesa chorar e queixar-se a noite toda e, na manhã seguinte, foram contar ao príncipe o que tinham ouvido. Naquela mesma tarde, depois de terminadas as tarefas diárias e depois de se lavar e arrumar, a princesa partiu a segunda noz a fim de comer o miolo; dentro da noz estava outro vestido ainda mais lindo que o primeiro. Vendo-o, a noiva quis comprar esse também, mas a moça de cozinha não aceitou dinheiro; tornou a impor a mesma condição da noite anterior, que foi igualmente aceita.A noiva administrou novo narcótico ao príncipe, que o fez dormir profundamente e não ouviu nada. A princesa chorou e queixou-se a noite toda em voz alta:- Eu te salvei na floresta e te livrei do fogão de ferro. Tenho procurado por ti e, para te encontrar, tive que atravessar uma montanha de vidro, três espadas afiadas e um rio muito largo, e agora não queres me ouvir!E, novamente, os criados que montavam guarda junto da porta ouviram essas lamentações e as foram contar ao príncipe no dia seguinte.Na terceira noite, após ter-se lavado e arrumado, a pobre moça de cozinha partiu sua terceira noz, encontrando dentro um vestido ainda mais rico que os precedentes, todo recamado de puro ouro. Ao vê-lo, a noiva ficou deslumbrada e quis possuí-lo; a moça de cozinha deu-lho sob as mesmas condições das duas outras vezes. O príncipe, porém, já prevenido, em vez de beber o vinho, despejou-o pela janela e ficou prestando atenção. Logo que a princesa começou:- Ai de mim, meu amor! eu te salvei na floresta e te desencantei do fogão de ferro e tu o esqueceste!Ouvindo isso, o príncipe saltou da cama dizendo:- Tu és a verdadeira noiva; tu és minha e eu sou teu!E, naquela mesma noite, entrou numa carruagem com a princesa, tirando antes os vestidos da falsa noiva para que esta não os pudesse seguir. Chegando ao grande rio, atravessaram-no num bote, depois atravessaram as espadas rolando sobre a roda de arado e, na montanha de vidro, serviram-se das três agulhas. Finalmente, chegaram á casinha dos sapos que, apenas entraram, instantaneamente se transformou num grande o maravilhoso castelo. Quebrado o encanto que lá pesava, todos os sapos retomaram aspecto primitivo de verdadeiros príncipes e princesas que eram.Logo foi celebrado o casamento e o príncipe ficou com a princesa nesse castelo, pois era muito mais espaçoso do que o que pertencia ao pai dela. Entretanto, o velho rei vivia a se lamentar por ter de viver só e longe da filha. Então eles foram buscá-lo para viverem juntos e assim ficaram com dois reinos e viveram muito felizes durante a vida inteira.
Um ratinho passou,e a história acabou...
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Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um homem e uma mulher que, enquanto eram muito ricos, não tinham filhos, mas, depois que se tomaram extremamente pobres, nasceu-lhes um menino.Agora, justamente porque eram muito pobres, não conseguiram arranjar padrinho para o filho. O marido então resolveu ir até povoado vizinho para ver se lá arranjava um.Ia andando pela estrada fora, quando se lhe aproximou um mendigo, que lhe perguntou para onde ia. O homem respondeu que se dirigia ao povoado vizinho a fim de arranjar um padrinho para seu filho, porquanto, como se havia tomado muito pobre, ninguém queria aceitar tal encargo.- Oh, - disse o outro - se tu és pobre, eu também o sou; todavia, terei prazer em ser teu compadre. Entretanto, como sou paupérrimo, não me é possível oferecer nem um presentinho ao meu afilhado. Volta, pois, para casa e dize à comadre que o leve à igreja.Pouco depois rumaram todos para a igreja e lá já estava o mendigo, o qual deu ao menino o nome de Fernando fiel.Ao sair da igreja, após o batizado, disse o padrinho:- Podeis voltar para vossa casa. Eu nada tenho para vos dar, e vós também não me deveis dar coisa alguma.Contudo, entregou uma chave à sua comadre, pedindo-lhe que a desse ao pai da criança para guardar cuidadosamente até o afilhado completar catorze anos. Ao atingir essa idade, êle deveria ir a uma determinada planície onde encontraria um castelo, cuja porta seria aberta mediante aquela chave. Tudo o que êle encontrasse lá dentro, lhe pertenceria.Passaram-se os anos e, quando o menino completou sete, estando já bem crescido, foi um dia brincar com outras crianças. Estas, uma após outra, contavam as maravilhas que haviam ganho de seus respectivos padrinhos. Fernando, porém, não podia dizer o mesmo do seu; e, magoado com isto, foi chorando para casa a perguntar aos pais:- Meu padrinho não me deu mesmo nada, no dia do meu batizado?- Oh. sim, - disse o pai. - Deu-te uma chave. Disse que lá naquela planície encontrarás um castelo e com ela poderás abrir a porta; disse mais: que tudo o que vires lá dentro será teu.O menino foi, cheio de esperanças, mas não encontrou nenhum castelo. Decorridos outros sete anos, quando ele completou os catorze, tornou a voltar à planície e desta vez viu o castelo. Introduziu a chave na fechadura e abriu a porta, mas, ao entrar, viu somente um cavalo branco; ficou tão contente de possuir um cavalo, que lhe saltou imediatamente na garupa e saiu, a galope, em procura do pai.- Papai, agora que tenho tão belo cavalo, quero viajar pelo mundo! - disse ele.Alguns dias depois, despediu-se dos pais e partiu. Ia trotando calmamente pela estrada e, abaixando os olhos, viu no chão uma pena de escrever. Teve o impulso de apanhá-la mas, refletindo um pouco, disse: "Deixa-a ficar; se precisares de uma pena, sempre a encontrarás no lugar aonde fores." E continuou para diante.Mal se distanciara um pouco ouviu uma voz sussurrar-lhe:- Fernando fiel leva-a contigo!Ele olhou para todos os lados e não viu quem assim falava; então retrocedeu e apanhou a pena guardando-a cuidadosamente.Após ter viajado bastante e quando beirava um grande rio viu na margem, debatendo-se, semi-asfixiado, um peixe prestes a morrer. Condoendo-se do infeliz animalzinho, desceu do cavalo, dizendo:- Meu pobre peixinho, ajudar-te-ei a voltares para dentro da água.Apanhou-o, delicadamente, pela cauda e lançou-o dentro do rio. Imediatamente o peixe botou a cabeça de fora e disse: Salvaste-me a vida; como recompensa pela tuabondade, quero dar-te esta gaitinha. Em caso de necessidade, toca-a e eu virei em teu auxílio. E, se por acaso, deixares cair alguma coisa dentro da água, não tens mais que tocar a gaitinha para que eu ta restitua.O jovem agradeceu e continuou o caminho. Mais adiante, encontrou um homem que lhe perguntou para onde ia.- Vou até à aldeia mais próxima.- Como te chamas?- Chamo-me Fernando fiel.- Ora, veja só! temos quase o mesmo nome; eu chamo-me Fernando infiel.E foram andando juntos, até chegar à hospedaria da localidade vizinha.O pior da história é que Fernando infiel adivinhava tudo o que os outros pensavam e pretendiam fazer e utilizava-se dessa peculiaridade para fins muito maus.Entretanto, na hospedaria, deram com u'a moça, muito bonita, de rosto alegre e sorridente e de maneiras bastante gentis. Assim que viu Fernando fiel, o qual era realmente um belo rapaz, a moça apaixonou-se por ele e perguntou-lhe para onde é que se dirigia.Não tinha rumo certo, disse ele, só queria conhecer o mundo. Ela, então, aconselhou-o a permanecer aí, dizendo que o rei desse país estava interessado em arranjar um bom criado ou um batedor de estrada. Ele bem poderia entrar ao serviço do rei.O jovem respondeu que não ficava bem oferecer-se. Mas ela retrucou:Deixa isso por minha conta; eu mesma falarei ao rei.E dirigiu-se imediatamente ao palácio, falando do belo jovem que conhecia e que poderia, perfeitamente, ocupar o cargo que se oferecia. O rei, muito satisfeito, mandou que o rapaz se apresentasse querendo tomá-lo como criado. O rapaz, porém, declarou que só aceitaria o cargo de batedor de estradas, pois não queria de maneira alguma separar-se do seu cavalo. E assim, nessa condição, ficou servindo no palácio.Fernando infiel logo ficou sabendo do ocorrido, e, então, disse à moça:- Como é isso? A ele tu ajudas e a mim não?- Oh, - disse ela - ajudar-te-ei também.E ia pensando consigo mesma: "Não convém que o tornes teu inimigo; pois nele não se pode confiar!" E, no dia seguinte, foi ao palácio, pedindo ao rei que tomasse Fernando infiel como criado particular. O rei aceitou com grande alegria.Todas as manhãs, quando Fernando infiel ajudava o rei a vestir-se, ouvia-o exclamar, entre suspiros:- Ai, se eu pudesse ter comigo a minha querida noiva!Ouvindo isto, Fernando infiel que se vinha ralando de inveja do companheiro, disse um dia ao rei, quando ele assim se lastimava:- Majestade, tendes à vossa disposição o batedor de estradas; porque não lhe ordenais que vá em busca de vossa noiva? Se ele não a trouxer, mandai cortar-lhe a cabeça.O rei achou ótimo o alvitre; mandou, pois chamar o batedor e disse-lhe que sua noiva estava num lugar assim e assim; ordenava-lhe que a fosse buscar e, se não a trouxesse, seria condenado à morte.Ouvindo isso, Fernando fiel ficou acabrunhado, pois não sabia como haveria de fazer. Dirigiu-se á cavalariça, onde estava o seu cavalo branco e, chorando, começou a lastimar-se:- Ai de mim! que desventura a minha!Nisto ouviu uma voz sussurrar-lhe:- Por quê choras, Fernando fiel?Ele olhou para todos os lados, mas não viu ninguém. Então continuou a chorar e a lastimar-se:- Oh, meu querido cavalinho branco, sou obrigado a deixar-te; em breve terei de morrer!A voz tornou a sussurrar, agora mais alto:- Por quê choras assim, Fernando fiel?Só, então, ele percebeu que era o cavalo branco quem assim falava.- Oh, és tu, meu cavalinho? então sabes falar? - E prosseguiu: - Tenho de ir para um lugar longe, assim e assim, buscar a noiva do rei. Não sabes como devo fazer?O cavalinho branco respondeu:- Apresenta-te ao rei e dize-lhe que, se ele te der o que desejas, tu lhe trarás a noiva. Em seguida, pede-lhe que te dê um navio carregado de carne e outro carregado de pão. Encontrarás no mar uns gigantes medonhos, os quais, se não tiveres carne para lhes dar, far-te-ão em pedaços. Há, também, aves de rapina ferozes, que te arrancarão os olhos se não tiveres pão para lhes dar.O rei atendeu-lhe o pedido e ordenou n todos os magarefes da cidade que rnatassem o gado necessário; e aos padeiros mandou que cozessem pão suficiente; depois mandou carregar os navios e, quando tudo ficou pronto, o cavalo disse a Fernando fiel:- Agora monta na minha garupa e embarquemos juntos no navio; assim que avistares os gigantes, dize-lhes:
- Calma, calma, gigantinhos;de vós não me esqueci,pois coisa gostosa, trago-vos aqui!
E quando chegarem as aves de rapina, dize-lhes:
- Calma, calma, passarinhos!de vós não me esqueci,pois coisa gostosa, trago-vos aqui!
Assim eles te deixarão em paz, e, quando chegares ao castelo, os gigantes te ajudarão. Acompanhado por dois deles, penetra no castelo; lá dentro encontrarás a princesa deitada em uma cama, profundamente adormecida; não a despertes. Encarrega os gigantes de transportá-la tal qual está em leito, até o navio.Tudo decorreu exatamente de acordo com o que dissera o cavalo branco. Depois que os gigantes transportaram a princesa para o navio e dali até o palácio do rei, Fernando fiel deu-lhes a carne e deu o pão às aves, que se mantiveram tranquilas.Ao chegar ao palácio do rei, a princesa despertou, mas disse que não poderia viver ali se não recuperasse seus papéis que haviam ficado no castelo, além do mar perigoso.Mais uma vez, por sugestão de Fernando infiel, o rei ordenou a Fernando fiel que fosse, quanto antes, buscar os tais papéis; caso não os trouxesse, seria condenado à morte.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um rei que estava empenhado numa grande guerra; dispunha êle de muitos soldados, mas, como era avarento, dava-lhes um sôldo tão mesquinho que não chegava sequer para viver. Então reuniram-se três soldados e combinaram fugir. Um dêles, porém, disse:- Como faremos? Se nos prenderem, enforcam-nos sem sombra de dúvidas.O segundo, mais otimista, retrucou:- Estais vendo aquêlc enorme campo de trigo? Se nos escondermos lá, ninguém nos descobrirá; o exército não pode penetrar no meio do trigo; além disso, amanhã terão que prosseguir a marcha para mais longe.Dito e feito. Fugiram para o trigal, esconderam-se omelhor que puderam, mas o exército não prosseguiu para diante e ficou aquartelado aí nas proximidades.Os fugitivos permaneceram no seu esconderijo dois dias e duas noites; a fome, porém, assaltou-os de tal maneira, que quase iam perecendo. Contudo, se saíssem de lá, a morte era mais do que certa e, então, começaram a lamentar-se:- Que adiantou a nossa fuga, se temos de morrer aqui, miseravelmente!Entretanto, nesse momento, chegou, voando pelos ares, um dragão de fauces de fogo, que desceu justamente onde êles estavam, e perguntou-lhes por que estavam lá escondidos.- Somos três pobres soldados que desertamos do exército porque o sôldo era parco demais; agora não sabemos o que fazer. Se ficarmos aqui, teremos de morrer de fome e, se sairmos, acabaremos pendurados na fôrca.- Se estais disposto a servir-me durante sete anos, vos conduzirei através das tropas, sem que ninguém vos prenda - disse o dragão.- Não temos outra alternativa, - responderam êles, - portanto, temos que aceitar.O dragão juntou-os com as garras possantes, e alçando vôo, carregou-os por sôbre o exército e os depositou numa terra bem distante. Esse dragão não era outra coisa senão o próprio diabo. Antes de deixá-los, deu-lhes um pequeno chicote, dizendo:- Se fizerdes estalar êste chicotinho, logo possuireis tanto dinheiro quanto quiserdes. Podereis viver como grãos-senhores, dispondo de cavalos e carruagens mas, ao cabo de sete anos, me pertencereis.Em seguida, apresentou-lhes um livro, no qual os três puseram suas assinaturas.- Antes de vencer o prazo, - disse o diabo, - vou propor-vos um enigma; se o decifrardes, ficareis livres e eu não terei mais poder algum sôbre vós.Dizendo isto, o dragão vôou para os ares, desapareceu, e os soldados puseram-se a caminho com o chicote, graças ao qual, tinham dinheiro em profusão, trajavam esplêndidamente e percorriam o mundo.Em qualquer lugar que chegassem, gastavam nababescamente em jantares e festas muito alegres; viajavam sempre em lindas carruagens puxadas pelos melhores cavalos mas nunca causavam o menor dano a ninguém.Assim, nessa situação deliciosa, o tempo passou célere e, quando findou o prazo estabelecido de sete anos, dois dêles começaram a ficar apreensivos e cheios de mêdo, mas o terceiro encarou as coisas com displicência, dizendo:- Não tenham mêdo, irmãos; eu sou um bocado sabido e hei de decifrar o enigma.Sairam para respirar um pouco de ar fresco no campo e lá sentaram-se; contudo, os dois primeiros continuavam tristonhos e preocupados.Nisto passou por êles uma velha, a qual lhes perguntou a razão da tristeza dêles.- Ah, não te importes com isso; tanto mais que não nos poderás ser útil.- Quem sabe! - respondeu a velha: - confiai-me as vossas mágoas.Então os soldados contaram-lhe que, tendo servido ao diabo durante sete anos, recebendo em troca dinheiro em profusão, estavam aflitos porque lhe tinham vendido as próprias almas e, em breve, estariam em poder do diabo. Estavam a findar-se os sete anos e êles teriam que se lhe entregar se não conseguissem decifrar o enigma proposto por êle.A velha ouviu tudo atentamente, depois disse:- Para sair dêste apuro, é preciso que um de vós vá até à floresta; ao chegar diante de um penhasco, que parece uma casinha, entre lá, e vos será prestado auxílio.Os dois soldados, desanimados, refletiram: "Não será isto que nos salvará!" e continuaram sentados. Mas o terceiro, o mais otimista e empreendedor, pôs-se logo a caminho, chegou à floresta e foi penetrando sempre mais, até encontrar a casinha incrustada na rocha.Nessa casinha, porém, estava uma velha decrépita, que era a avó do diabo; ao ver o soldado perguntou-lhe de onde vinha e o que desejava. Êle narrou-lhe tudo o que havia acontecido e, como era simpático, a velha gostou dêle e prontificou-se a auxiliá-lo.Ergueu uma enorme pedra colocada sôbre a ade'ga, dizendo-lhe:- Oculta-te lá embaixo, assim ouvirás tudo o que dissermos aqui; mas não pies e fica bem quietinho. Quando o dragão chegar, perguntar-lhe-ei qual é o enigma. A mim êle conta tudo; tu, presta a máxima atenção ao que me fôr respondido.A meia-noite, chegou voando o dragão e pediu o seu jantar. A avó aprontou-lhe a mesa, serviu-lhe o jantar, que o deixou bem satisfeito, e ambos comeram e beberam alegremente.Entre uma conversa e outra, a avó perguntou-lhe como haviam corrido as coisas nesse dia e quantas almas conseguira angariar.- Hoje não tive muita sorte, - respondeu o dragão - mas tenho entre as garras três soldados, os quais estão bem seguros.- Oh, três soldados! - disse a avó - não sei o que êles têm no corpo, mas acho que ainda poderão escapar- te.- Esses já são meus, - disse com empáfia o diabo; - vou propor-lhes um enigma que êles jamais conseguirão decifrar; assim cairão em meu poder.- E qual é êsse enigma? - perguntou a avó.- A ti vou contar. No grande mar do Norte, há um grande macaco morto, que será o assado dêles; a costela de uma baleia será a colher de prata, e um velho casco de cavalo será o seu copo para o vinho.Pouco depois o diabo foi para a cama; então a velha levantou a pedra e chamou o soldado.- Prestaste bem atenção a tudo?- Sim, - disse êle - já sei o bastante e, com isso, me sairei de apuros.Obrigado a sair de lá o mais depressa possível, fugiu pela janela e foi correndo para onde se encontravam os companheiros. Contou-lhes que o diabo fôra ludibriado pela velha vovó e com isso ficara sabendo como decifrar o enigma.Ficaram todos muito contentes e felizes e puseram-se a estalar o chicotinho, fazendo cair enorme quantidade de moedas à sua volta.Assim que findou o prazo dos sete anos estabelecidos, chegou o diabo, mostrando as assinaturas no livro e dizendo:- Vou levar-vos comigo ao inferno, onde vos oferecerei um grande jantar; se conseguirdes adivinhar que espécie de assado vos será servido, sereis postos em liberdade e podereis guardar, também, o chieotinho.O soldado mais esperto pôs-se a falar como se contasse uma novidade:- No grande mar do Norte, há um grande macaco morto; êsse será o assado.O diabo ficou irritado com a resposta certa e fêz três vêzes: Ehm! e perguntou ao segundo soldado:- Mas, dize-me, qual será a vossa colher?- A costela de uma baleia será a nossa colher de prata, - respondeu êle.O diabo fêz uma careta e resmungou, novamente, três vêzes: Ehm! e perguntou ao terceiro:- E qual será o vosso copo para o vinho?- Um velho casco de cavalo será o nosso copo para o vinho, - respondeu, prontamente, o soldado.Então, soltando um urro tremendo, o diabo vôou para o inferno, não tendo mais nenhum poder sôbre a alma dos soldados.Estes, porém, conservaram o chieotinho, que lhes proporcionava dinheiro a granel, e viveram o mais alegremente possível, até o fim da vida.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um homem que tinha três filhos e não possuía outros bens, além da casa em que habitava.Cada um dos filhos desejava que o pai, ao morrer, lhe deixasse a casa em testamento e o pai, que amava todos igualmente, não sabia como proceder para não contrariar nenhum deles.Vendê-la não queria, porque a herdara de seus pais e desejava transmiti-la aos filhos. Depois de muito refletir, disse-lhes:- Meus filhos, ide por esse mundo; trate cada um de aprender um ofício e, quando regressardes e mostrardes as vossas habilidades, o que realizar a melhor obra de arte, esse será o herdeiro da casa.Os filhos concordaram.O mais velho resolveu aprender o ofício de ferreiro; o segundo quis ser barbeiro e o mais novo, mestre de esgrima. Depois de combinarem a data em que deviam reunir-se novamente em casa do pai, separaram-se e cada qual seguiu o seu caminho.Tiveram a sorte de encontrar cada um o mestre da especialidade para lhes ensinar o ofício; assim aprenderam muito bem o que queriam.O ferreiro aprendeu tão bem que foi nomeado ferrador dos cavalos do rei. Muito contente, pensava: "Nem há dúvida que a casa será tua!"O barbeiro especializara-se a tal modo que só barbeava os mais distintos personagens da corte e confiava, por sua vez, que a casa seria sua.O mestre de esgrima recebia boas estocadas, mas apertava os dentes e não perdia a coragem, porque pensava: "Se tens medo de uma estocada, jamais ganharás a casa!" E, com isso, tornou-se um espadachim de primeira ordem.Quando chegou a data aprazada, os três rapazes voltaram para a casa do pai, mas não sabiam onde teriam ocasião adequada para exibir as habilidades; então reuniram-se para deliberar.Estavam os três sentados, procurando atinar com um expediente que os satisfizesse, quando viram passar uma lebre correndo pelo campo.- Oh, - exclamou radiante o barbeiro, - esta lebre vem a propósito!Pegou na bacia e no sabão, preparou uma boa espuma até o bichinho estar muito próximo, depois saiu a correr atrás da lebre e ensaboando-lhe o focinho, fez-lhe um lindo bigode, sempre correndo sem a fazer parar, sem lhe causar a mais leve arranhadura, nem lhe desarranjar um pelo sequer do corpo.- Gostei de ver isso! - exclamou o pai. - Se os outros não apresentarem coisa melhor, a casa será tua.Não demorou nada e passa à desfilada uma carruagem com um senhor nela.- Agora vereis, meu pai, o que sei fazer! - disse o ferreiro.E, correndo atrás da carruagem, arrancou a um dos cavalos, em pleno galope, as quatro ferraduras e pregou- lhe outras quatro, sem que o cavalo se detivesse um nada.- És realmente perfeito! - exclamou muito admirado o pai. - Na tua arte és tão perito quanto teu irmão; estou atrapalhado para me decidir entre os dois.Então o terceiro pediu:- Meu pai, deixai que, também, mostre as minhas habilidades.E, tendo começado a chover, o moço desembainhou a espada, brandindo-a mui rapidamente em todos os sentidos, sobre a sua cabeça, de modo a não lhe cair em cima nem uma gota de água. A chuva aumentou, caindo torrencialmente, como se a despejassem a cântaros do céu; o moço vibrava os golpes cada vez mais depressa e ficou tão enxuto como se estivesse abrigado dentro de um quarto.Ao ver isso, o pai não pôde conter a admiração.- Não cabe dúvidas; excedeste teus irmãos, deste a melhor prova de habilidade, portanto, a casa será para ti.Os outros dois irmãos concordaram plenamente e aprovaram a decisão do pai conforme haviam jurado, e, como se queriam muito, os três ficaram juntos na casa, exercendo cada qual a sua profissão, e como eram peritos e a executavam perfeitamente, ganharam muito dinheiro.Assim viveram felizes até idade avançada; quando um deles adoeceu e veio a falecer, os outros dois sentiram tal pesar que caíram doentes e morreram também.Em consequência da sua habilidade e do afeto recíproco que nutriam uns pelos outros, foram os três enterrados no mesmo túmulo, para que não se separassem nem depois de mortos.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, uma pobre criadinha, que viajava com seus patrões através de um grande bosque. Quando chegaram bem no meio do bosque, surgiu um bando de salteadores de dentro das moitas e mataram quantos puderam atingir. E assim morreram todos, com exceção da criadinha que, no seu pavor, tinha pulado do carro e se escondera atrás de uma árvore.Quando os salteadores se retiraram carregando a pilhagem, ela saiu do esconderijo e viu com horror a grande desgraça. Então, pôs-se a chorar amargamente, dizendo:- Pobre de mim! Que farei agora, môça e inexperiente, aqui no bosque? Não sei como sair dêste mato onde não existe alma viva, e certamente terei de morrer de fome.Ficou vagueando de cá para lá muito tempo, à procura de um caminho, sem o poder achar. Quando a noite chegou, ela sentou-se debaixo de uma árvore, entregou- -se à proteção de Deus e resolveu ficar aí quietinha, sem se mover, acontecesse o que acontecesse.Mas, depois de algum tempo, não muito, eis que veio voando até ela uma pomba branca, trazendo no bico uma pequenina chave dourada. Depositando a chave na mão da empregadinha, disse-lhe:- Estás vendo aquela árvore grande? Encontrarás lá uma pequena fechadura, abre-a com esta chave; encontrarás bastante que comer e beber e nunca mais sentirás fome.A mocinha encaminhou-se para a árvore indicada e abriu-a, encontrando no seu interior uma vasilha com leite e pão branco delicioso; e assim comeu até se fartar. Quando acabou de comer, ela disse:- Lá em casa, a esta hora, as galinhas estão indo para o poleiro, e eu estou tão cansada! Ah, quem me dera achar uma boa cama para me deitar!Tendo mal e mal pronunciado estas palavras, voltou a pomba branca trazendo no bico outra chave dourada. Entregando-lha, disse:- Abre aquela árvore e lá encontrarás uma boa cama.Ela dirigiu-se à árvore indicada, abriu-a a encontrou uma caminha macia; ajoelhou-se, recitou suas orações, pedindo ao bom Deus que a protegesse durante a noite, deitou-se e dormiu tranqüilamento. De manhã, a pomba branca apareceu pela terceira vez, trazendo outra chave dourada, dizendo:- Abre aquela árvore lá e encontrarás roupa para vestir.A mocinha obedeceu; e quando abriu a árvore indicada, encontrou dentro lindos vestidos, todos bordados a ouro e pedras preciosas, tão esplêndidos e suntuosos que nem mesmo a filha do rei possuia iguais.E assim viveu muito tempo, com a pomba branca visitando-a diàriamente e suprindo às suas necessidades. Na realidade, era uma vida sossegada e feliz. Mas, certo dia, quando a pomba apareceu, fêz-lhe uma pergunta:- Queres fazer-me um favor?- De todo o meu coração, - respondeu a mocinha.- Pois bem, vou conduzir-te a uma casinha onde deverás entrar, - disse a pomba - Dentro da casa, perto da lareira, encontrarás uma velha sentada, a qual te dirá: "Bom-dia." Não lhe respondas, em hipótese alguma faça ela o que fizer e continua teu caminho passando a sua direita, até chegar diante de uma porta. Abre-a e entra no quarto; em cima da mesa, encontrarás uma infinidade de anéis de tôda espécie, entre êles, alguns esplêndidos, cravejados de pedras cintilantes e preciosas, mas deixa todos êsses e procura um simples anelzinho de ouro, que deverá estar lá pelo meio. Assim que o achares, traze-o aqui e entrega-mo o mais depressa que puderes.A môça foi para a casinha, abriu a porta e entrou; dentro, viu a velha sentada perto da lareira, que olhou muito firme para ela, dizendo: "Bom-dia, minha menina." Mas ela não respondeu e dirigiu-se diretamente à porta que lhe fôra indicada.- Aonde é que vais? - gritou a velha, agarrando- -Ihe a saia e procurando detê-la. - Esta é minha casa e ninguém entra sem a minha permissão.Mas a môça ficou caladinha, puxou a saia da mão da velha e entrou no quarto. Lá, sôbre a mesa, havia um montão de anéis que brilhavam e cintilavam sob os seus olhos; espalhou-os e tratou de procurar o anel simples, de ouro, sem entretanto o poder encontrar.Enquanto estava procurando o anel, viu a velha entrar e esgueirar-se, levando uma gaiola na mão. Foi até junto dela, tirou-lhe a gaiola da mão e viu que dentro estava um passarinho com o anel simples, de ouro, no bico. Tirando ràpidamente o anel, a môça saiu correndo, muito feliz, para o bosque, esperando que a pomba a viesse buscar logo. Porém ela não apareceu.Então a môça encostou-se a uma árvore para esperar até que ela chegasse; nisso pareceu-lhe que a árvore ia ficando macia e suave e, ao mesmo tempo, curvava os galhos para baixo. De repente, os galhos se entrelaçaram à volta dela, transformando-se em dois braços vigorosos; olhando espantada para um lado e para outro, verificou que em lugar da árvore estava um belíssimo jovem com os braços a envolvê-la, beijando-a ternamente e dizendo: - Tu me libertaste do poder da velha, que é uma bruxa perversa. Ela, com seus sortilégios, encantou-me transformando-me numa árvore, embora durante algumas horas todos os dias me tornasse uma pomba branca. Enquanto ela continuasse de posse do anel, eu não poderia readquirir minha forma humana.Ao mesmo tempo foram libertados todos os criados e cavalos, que também tinham sido transformados em árvores pela cruel bruxa. Depois de todos reunidos, rumaram juntos para o Heu reino, pois o belo jovem era filho de um rei; em seguida, casaram-se e viveram muitos anos na mais completu alegriu e felicidade.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.
Wednesday Aug 14, 2024
Wednesday Aug 14, 2024
Houve, uma vez, um jovem caçador que andava pela floresta à espreita de caça. Era um moço alegre e vivaz, com o coração cheio de bondade.Andava ele distraído, assobiando tranquilamente, quando deparou sentada, sobre uma folha, uma velhinha muito feia, que lhe disse:- Bom dia, meu bom caçador; tu estás alegre e satisfeito, mas eu estou morrendo de fome e de sede: dá- me uma esmolinha, por favor!Ouvindo isso, o moço condoeu-se da sorte da velhinha, meteu a mão no bolso e deu-lhe o que trazia consigo. Em seguida, dispôs-se a continuar o seu caminho, mas a velhinha deteve-o, dizendo:- Meu caro caçador, ouve o que te vou dizer; quero dar-te um presente pela tua generosidade. Continua andando e daqui a pouco chegarás ao pé de uma grande árvore, sôbre a qual verás nove pássaros brigando por causa de um manto, que seguram com as patinhas. Aponta a tua espingarda e atira no meio dêles; êles deixarão cair o manto, e com êle cairá morto também um dos pássaros. Apanha o manto, que é mágico; quando o vestires e desejares estar num lugar qualquer, êle logo te transportará. Tira o coração do pássaro morto e engole-o inteiro; assim, tôdas as manhãs, ao despertares, encontrarás uma moeda de ouro sob o travesseiro.O caçador agradeceu gentilmente a velha, pensando consigo mesmo: "Belíssimas promessas! Ah, se realmente se realizassem!" E foi andando.Não dera mais que cem passos e ouviu um pipilar estridente entre os galhos, bem em cima de sua cabeça; ergueu os olhos e viu um bando de pássaros disputando entre si um pano, puxando-o com as patinhas e os bicos, enquanto soltavam pios e se debicavam terrivelmente, querendo cada qual ficar com o manto para si.- Ora veja! - exclamou o caçador: - exatamente como disse a velha avozinha.Tirou a espingarda do ombro, fêz pontaria e disparou sôbre o bando, do qual se espalharam as penas por todos os lados. Os pássaros imediatamente fugiram, pian- do assustados, mas um dêles caiu morto, juntamente com o manto.O caçador apanhou-os e, conforme lhe dissera a velha, destripou a ave e engoliu o coração, sem mastigar; depois pegou o manto e foi-se embora, voltando para casa.Na manhã seguinte, assim que acordou, veio-lhe ao pensamento a promessa da velha e quis certificar-se daveracidade de suas palavras; levantou o travesseiro e, realmente, lá estava uma moeda de ouro brilhando intensamente. Na manhã seguinte, encontrou outra e assim foi em tôdas as manhãs sucessivas. Depois de juntar uma bela pilha de moedas, o rapaz pensou: "Para que me serve tanto ouro, se fico trancado aqui em casa? Quero ir-me por êste mundo afora e ver outras terras."Tendo resolvido isto, despediu-se dos pais, pegou a espingarda e o sapicuá e partiu.Depois de muito andar, deparou com uma grande floresta, atravessou-a e, chegando à extremidade oposta, viu surgir no meio da planície um magnífico castelo. Numa das janelas estavam debruçadas uma velha e uma linda môça, olhando para baixo. A velha, que era uma bruxa, disse à môça:- Veja, lá vem saindo um rapaz da floresta. Êle traz no corpo um precioso tesouro; meu amor, nós temos que nos apoderar dêle. Isso aproveita muito mais a nós do que a êle. E' o coração de um pássaro que êle tem no estômago, graças ao qual encontra tôdas as manhãs uma moeda de ouro debaixo do travesseiro.Explicou direito as coisas à môça, ensinando-lhe o que deveria fazer e, fitando-a com olhar ameaçador, concluiu:- Ai de ti, se não me obedeceres!Tendo-se aproximado do castelo, o caçador avistou a linda jovem e disse de si para si: "Andei tanto que estou bem cansado; preciso repousar um pouco e pedir pousada nesse castelo. Dinheiro, não me falta; tenho até demais." Mas a verdade era que seus olhos ficaram encantados com aquela beldade.Entrou no castelo, onde foi cordialmente recebido e hospedado com grande amabilidade. Não demorou muito e se apaixonou pela linda môça, filha da bruxa, e de tal forma que já não pensava mais em nada, só via pelos olhos dela e fazia tudo o que ela lhe pedia. Então a velha, vendo como estavam as coisas, disse:- Minha filha, agora temos que nos apoderar do coração do pássaro; verás, êle nem de leve se aperceberá e não sentirá nenhuma falta.Prepararam uma infusão e, quando ficou pronta, a velha encheu um copo, dando-o à filha para que lha levasse. A môça disse-lhe:- Toma isto meu querido, à minha saúde!Sem suspeitar coisa alguma, o rapaz levou o copo à bôca, bebendo tudo; assim que acabou de ingerir a infusão, vomitou o coração do pássaro. A môça pegou-o dis- farçadamente e engoliu-o, pois a velha assim recomendara.Dai por diante êle nunca mais encontrou a moeda de ouro sob o travesseiro, a qual passou a brilhar diariamente sob o travesseiro da môça, onde a velha ia buscá-la todas as manhãs. O rapaz estava tão perdidamente apaixonado, que não pensava em mais nada além de poder ficar sempre ao lado da môça. Então a bruxa disse:- O coração do pássaro já está em nosso poder, agora temos também que lhe tirar o manto mágico.A môça respondeu:- Deixemos-lhe ao menos isso, já que perdeu a fortuna!A velha, porém, zangou-se e gritou:- Um manto dessa espécie é coisa extraordinária, que mui raramente se encontra neste mundo; quero possuí-lo, custe o que custar.Ensinou-lhe como devia proceder, acrescentando que se não lhe obedecesse, viria a arrepender-se amargamente.A môça não tinha outra solução senão obedecer. Aproximou-se da janela e fitou o horizonte distante, fingindo uma grande tristeza. O rapaz então perguntou- -lhe:- Por quê estás tão triste?- Ah, meu tesouro, - respondeu ela - essa montanha que vês lá ao longe, é a montanha de rubis; tôda ela está cheia dessas pedras maravilhosas. Tenho um imenso desejo de possuí-las e, sempre que olho para lá, fico muito triste. Mas, quem é que pode ir buscá-las! Somente os pássaros que voam podem ir lá e nunca um homem!- Se é apenas essa a tua tristeza, - disse o caçador - é muito fácil curá-la.Tomou-a nos braços, sob o manto, e exprimiu o desejo de ser transportado para lá. Imediatamente foram levados os dois até ao alto da montanha. As pedras preciosas cintilavam por tôda parte, numa verdadeira alegria para os olhos. Os dois apressaram-se a apanhar as mais belas e atraentes, enchendo com elas os bolsos.Entretanto, por arte mágica da bruxa, o caçador começou a sentir as pálpebras pesarem-lhe, e então disse à môça:- Vamos descansar um pouco; sentemo-nos aí, estou tão cansado que não agüento mais.Sentaram-se os dois; o rapaz reclinou a cabeça no regaço dela e adormeceu. Quando o viu profundamente adormecido, ela tirou-lhe o manto, recolheu tôdas as pedras e rubis e desejou encontrar-se logo em casa.Ao despertar, o caçador viu que sua amada o havia enganado, abandonando-o sozinho naquela montanha agreste.- Oh! - exclamou, desolado - quanta perversidade existe neste mundo!Ficou profundamente abatido e amargurado, sem saber o que devia fazer. A montanha pertencia a alguns ferozes, medonhos gigantes, que lá residiam e faziam as piores coisas. Não demorou muito, o rapaz avistou três dêles, que se aproximavam a largos passos; com mêdo, deitou-se, fingindo-se profundamente adormecido. Os gigantes chegaram perto dêle e um lhe ministrou tremendo pontapé, dizendo:- Que espécie de vermículo é êste que aí está a olhar a barriga?Disse o segundo:- Esmaguemo-lo!Mas o terceiro disse, com todo o desprêzo:- Nem vale a pena! Deixai-o viver; êle não poderá viver aqui e irá certamente até ao cume, e aí as nuvens o carregarão.Assim conversando, prosseguiram o caminho. Mas o caçador prestara bem atenção ao que tinham dito, e assim que êles se afastaram, levantou-se e trepou até ao cump da montanha. Daí a pouco, baixou uma nuvem que estava balouçando no espaço, agarrou-o e levou-o consigo. Durante algum tempo, ela andou vagueando pelo azul do céu, depois foi descendo até pousar numa grande horta, tôda cercada de muros, e depositou-o suavemente entre as couves e outras hortaliças.O caçador olhou em redor e disse:- Se tivesse ao menos alguma coisa para comer! Estou com tanta fome e não poderei continuar o meu caminho! Aqui, porém, não vejo peras, nem maçãs, nem outras frutas; não há senão hortaliças.Por fim pensou:- Por falta de coisa melhor, comerei um pouco de alface; não é lá muito saborosa, mas é fresca.Escolheu uma bela cabeça de alface e pôs-se a comê- -la; mas, apenas engolira alguns bocados, sentiu uma estranha sensação e pareceu-lhe estar completamente mudado.Cresceram-lhe quatro pernas, uma grande cabeça com duas orelhas compridas e, com imenso terror, viu que se transformara num asno. Todavia, continuava com muita fome e, graças à sua nova natureza, a alface tornou-se-lhe bem agradável e dela comeu fartamente. Chegando a outro canteiro, avistou uma espécie diferente de alface; mal apenas comeu algumas folhas, sentiu-se novamente transformado, readquirindo o aspecto humano.Então, tendo saciado a fome, o caçador deitou-se e dormiu tranquilamente. Na manhã seguinte, ao despertar, colheu um pé de alface boa e um pé de alface ruim, pensando: "Isto me servirá para recuperar as minhas coisas e castigar a perversidade." Colocou os pés de alface no sapicuá e, saltando o muro, dirigiu-se ao castelo de sua amada.Durante dois dias andou perambulando mas, por fim, encontrou-o. Pintou rapidamente o rosto, de modo que nem mesmo sua mãe o teria reconhecido; depois foi ao castelo e pediu pousada.- Estou tão cansado que não posso mais ir para a frente.A bruxa perguntou-lhe: Quem sois e qual é vossa profissão?- Sou um mensageiro do rei, - disse o rapaz - o qual me mandou em busca da melhor alface que existe no mundo. E tive a felicidade de encontrá-la; veja, trago-a aqui. Mas o sol está tão quente que ameaça queimar a tenra folhagem; não sei se poderei levá-la mais longe.Ouvindo falar dessa alface melhor do mundo, a bruxa ficou com água na bôca e disse:- Meu caro campônio, deixa-me provar uma folhinha dessa maravilhosa alface, sim?- Por quê não? - respondeu êle - levo dois pés dela, posso perfeitamente dar-vos um.Abriu o sapicuá e tirou a alface ruim, oferecendo-a à velha. Esta não imaginou sequer que houvesse algum mal nela. A alface punha-lhe a bôca cheia de água; rápida, correu à cozinha e pessoalmente a temperou.Assim que ficou pronta não teve paciência de esperar que fôsse para a mesa, ali mesmo começou a comê- la. Apenas comeu algumas folhas, imediatamente perdeu o aspecto humano transformando-se em asno e saiu a correr e a pinotear pelo quintal.Nisso a criada entrou na cozinha, viu a salada pronta e foi levá-la para a mesa; mas, pelo caminho, cheia de gulodice, tirou uma fôlha e comeu-a. No mesmo instante, a alface transformou-a num asno também e saiu a correr para o quintal, junto de sua ama, deixando cair o prato de salada no chão.Enquanto isso, o caçador estava ao lado da bela jovem e, vendo que ninguém aparecia com a famosa salada, da qual ela morria de desejo, a môça disse:- Quem sabe onde está a tal salada?O caçador pensou: "Acho que já produziu o efeito desejado!" E, em voz alta:- Vou até à cozinha saber o que está acontecendo.Quando chegou lá embaixo, viu as duas mulas correndo e saltando no quintal, enquanto que o prato de alface estava largado no chão.- Ótimo! - exclamou êle. Aquelas duas já receberam a sua parte! Apanhou as folhas que sobraram arrumou-as direitinho no prato e levou-as à môça, dizendo:- Eu mesmo trago esta delícia; ei-la! Acho que não deveis esperar mais tempo.Ela serviu-se avidamente e logo perdeu o aspecto humano, como as outras, e saiu a correr para o quintal, transformada em mula.O caçador, então, foi lavar-se cuidadosamente para que elas o pudessem reconhecer; depois desceu até o quintal e disse:- Agora recebereis o prêmio pela vossa perversidade.Amarrou as três com uma corda e arrastou-as consigo. Logo depois chegou a um moinho; bateu à porta e o moleiro chegou à janela, perguntando o que desejava.- Tenho aqui três jumentas indomáveis, das quais pretendo me desfazer. Se quiseres ficar com elas, providenciar forragem e comida suficiente, e tratá-las como quero eu, pagarei o que me pedires.- Como não? - disse o moleiro - Como é que devo tratá-las?Então o caçador disse que devia dar à jumenta mais velha - que era a bruxa, - três rações dc pancadas por dia e uma ração de comida; à segunda - que era a criada, - devia dar uma ração de pancadas e três de forra-gem; e à terceira, - que era a môça - nem uma pancada e três rações de forragem; porque não suportava que a espancassem.Em seguida voltou ao castelo e encontrou tôdas as suas coisas.Alguns dias depois, apareceu o moleiro, dizendo que a mula velha, em conseqüência das três rações de pancadas e uma só de comida por dia, havia morrido.- As outras duas, - continuou - ainda não morreram e continuo dando-lhes comida três vêzes por dia, mas andam tão tristes que, certamente, não viverão muito.O caçador, então, condoeu-se, esqueceu a sua raiva e disse ao moleiro que as trouxesse para o castelo. Quando chegaram, deu às duas algumas folhas de alface boa e imediatamente elas readquiriram o aspecto normal.A linda môça caiu-lhe aos pés, soluçando, e disse-lhe:- Meu amor, perdôa-me o mal que involuntariamente te causei; fui obrigada por minha mãe, mas arrependo- me sinceramente, porque te amo de todo o coração. O teu manto mágico está guardado no armário; quanto ao coração do pássaro tomarei qualquer coisa que me faça vomitá-lo.O rapaz então mudou de idéia e exclamou:- Podes ficar com êle, é a mesma coisa; porque serás a minha querida e fiel esposa.Pouco depois, casaram-se e viveram extremamente felizes até o fim da vida.Este episódio é-lhe oferecido por Podbean.com.